PF e Receita apreendem o equivalente a R$ 1 bilhão em cocaína no Porto do Pecém

Dois homens foram presos em Sydney, na Austrália, na quarta-feira, 6, em flagrante. Agentes brasileiros detectaram os 600 kg de cocaína em novembro passado, mas armaram um plano para os traficantes serem flagrados ao receberem vazios os recipientes onde a droga viajaria escondida

Um dia após a Polícia Federal deflagrar duas operações no Ceará de combate ao tráfico de drogas pelos portos brasileiros, a Polícia Federal da Austrália (AFP, na sigla em inglês) divulgou nesta quinta-feira, 7, a apreensão de 600 quilos de cocaína, avaliada em US$ 195 milhões — o equivalente a mais de R$ 1 bilhão, em valores convertidos — que foram embarcados no Porto do Pecém, na Região Metropolitana de Fortaleza.

A droga foi detectada no Ceará em novembro do ano passado, e os agentes, após alertarem as autoridades australianas, criaram um plano para enganar os traficantes: deixaram os recipientes onde a cocaína viajaria escondida viajar sem o produto. Na última quarta-feira, dois homens foram presos em flagrante, na Austrália, quando tentaram retirar a mercadoria em um armazém industrial local.

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As duas prisões aconteceram em Sydney, numa operação conjunta da Polícia australiana com o governo brasileiro, através da Polícia Federal e Receita Federal. Toda a viagem do navio que levaria a cocaína até a Austrália, em mais de 15 mil km pela rota marítima, foi rastreada desde o início. As informações foram confirmadas pela PF da Austrália e pela PF e Receita Federal brasileiras nesta quinta-feira. A suspeita de existência da cocaína surgiu após quatro remessas seguidas para a Austrália. 

Os dois homens presos em Sydney são um holandês de 25 anos e um australiano de 49, que, pelas leis locais, poderão ser condenados a prisão perpétua. Eles receberam a voz de prisão em flagrante, em um armazém industrial, quando usavam ferramentas para tentar abrir a estrutura de fibra dos quatro "fruit kiosks" (semelhante a trailers para a venda de frutas), que tinham o formato de coco verde. A cocaína viajaria escondida nas paredes e pisos dos quiosques.

A remessa chegou à Austrália há um mês, no dia 8 de fevereiro último. A viagem pelo mar teria durado aproximadamente um mês. A carga onde a cocaína estaria escondida teria sido recolhida da área portuária de Sydney e levada para o armazém no bairro North Rocks, no subúrbio da cidade.

Na ordem de busca e apreensão dentro do armazém, os agentes australianos encontraram 15 sacolas esportivas pretas, já vazias, onde os 600 quilos da cocaína viajariam guardados — em formato de tabletes. Dois dos "fruit kiosks" já haviam sido parcialmente abertos antes da chegada dos policiais. Os dois homens não entendiam como a droga não havia sido remetida, apesar de possíveis confirmações da quadrilha. O flagrante foi no final da tarde do dia 6.

A acusação contra os dois homens, pelas autoridades judiciais da Austrália, foi por tentativa de posse de quantidade comercial de drogas sob controle fronteiriço. Também foram apreendidos celulares, cartões de crédito, recibos e ferramentas elétricas.

"Uma importação deste tamanho poderia ter sido responsável por cerca de três milhões de negócios individuais de cocaína nas ruas, o que pode causar estragos e danos significativos à comunidade australiana", declarou Kate Ferry, comandante da Polícia Federal Australiana. As autoridades do país ainda buscam mais informações sobre o caso e divulgam fones e sites para possíveis novas denúncias anônimas.

O delegado regional da Polícia Federal no Ceará, Victor Mesquita, confirmou que a apreensão de 600 kg de cocaína, dentro do Porto do Pecém, feita ainda em novembro de 2023 pela Receita Federal e Polícia Federal, não foi divulgada até esta quinta-feira, 7, para não atrapalhar o trabalho e o plano montado para prender os traficantes na Austrália.

Pelo menos quatro remessas dos "fruit kiosks" já haviam sido feitas saindo do porto do Pecém para Sydney, segundo o informe da Polícia Federal da Austrália. Não se sabe ainda se esses objetos anteriormente teriam viajado com droga escondida. A vistoria em novembro teria sido de rotina, segundo o delegado, feita num armazém dentro do porto do Pecém.

O valor de US$ 195 milhões foi divulgado apenas pelas autoridades australianas. "A Polícia Federal brasileira não divulga valores de drogas apreendidas", informou Mesquita.

Em nota, o Complexo do Pecém, responsável pela gestão do Porto do Pecém, ressaltou que "cumpre todas as exigências previstas pelos órgãos anuentes (Receita e Polícia Federais)", contando com tecnologias de segurança portuária para evitar que cargas ilícitas saiam pelo termina. 

Ainda segundo a nota, as ações de fiscalização e apreensão são coordenadas pela Comissão Estadual de Portos (Cesportos-CE), operacionalizadas pela Marinha do Brasil, Polícia Federal, Receita Federal e ANTAQ.

Na quarta-feira, a Polícia Federal deflagrou as operações Néctar e Follow The Money, que executou mandados de prisão, busca e apreensão e sequestro de bens, contra organizações criminosas que realizam o tráfico de drogas pelos portos e lavagem de dinheiro.

As ordens judiciais, da 11ª Vara Federal no Ceará (Néctar) e 14ª Vara Federal de Curitiba (Follow The Money) foram cumpridas em oito estados (Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo).

Plano foi não divulgar apreensão para flagrar traficantes em solo australiano

Os quiosques onde os 600 kg de cocaína viajariam escondidos tinham formato de coco verde. Supostamente serviriam como pontos de venda de alimentos em locais públicos. Eram feitos de fibra. Pelo desenho da estrutura, chamariam a atenção de clientes na Austrália e, na ideia dos traficantes, também ajudariam no disfarce da droga. Mas, incomuns, acabaram despertando a atenção das autoridades aduaneiras e policiais do Brasil. 

"Quando a gente detectou (a cocaína), foi até fácil fazer o plano porque a gente tinha um destinatário. Talvez nunca os traficantes imaginassem que fossem ser pegos na Austrália. Entramos em contato com a Polícia Federal australiana e combinou-se que faríamos a apreensão com zero divulgação, para não frustrar o trabalho deles lá", conta Mesquita.

Ele disse que foi mantido o despacho do material (quiosques) pela via marítima, que demora bastante e daria tempo de eles (PF da Austrália) se organizarem. E deu tudo certo porque as pessoas foram buscar a carga. Não imaginaram que o que enviaram seria descoberto", detallhou.

Segundo ele, quando surgiu a suspeita de presença da cocaína nos quiosques, as equipes de fiscalização foram acionadas porque a indicação era de que a carga fosse complicada de detectar. "Porque era uma carga rígida. Diante da suspeita, a gente teve que quebrar algumas partes para confirmar e tudo se confirmou". 

 

Os dois homens presos em Sydney foram o holandês Anthony Hoppner Suarez, 25, e o australiano Miguel Suarez, 49. Eles já passaram por audiência de custódia na Justiça da Austrália, tiveram o pedido de fiança recusada. Deverão ser julgados no Tribunal Local de Sydney no próximo dia 15 de maio. Caso sejam condenados à pena máxima, podem receber a prisão perpétua — a máxima para esse crime conforme a legislação do país.

Sobre qual seria a participação de brasileiros no envio da droga, o delegado informou que a investigação continua e não poderia confirmar se já há pessoas identificadas no Ceará. "Tudo corre sob sigilo". 

Mesquita disse que os 600 kg da droga já estariam em vias de ser incinerada, possivelmente aguardando autorização da Justiça brasileira. "O inquérito da apreensão será conduzido pela Polícia Federal do Brasil, com a apreensão feita aqui pela PF e Receita. Contribuímos para que eles prendessem os traficantes lá na Austrália".

Diante das apreensões seguidas de grandes quantidades de cocaína nos portos cearenses, o delegado regional não quis confirmar se o Ceará é uma rota consolidada do tráfico pelo modal marítimo. "Quem tem que achar se a rota é consolidada é o traficante, não somos nós. Fizemos diversas apreensões, ontem (quarta) tivemos operação", afirmou, lembrando as investigações mais recentes. 

Nota do Porto do Pecém

O Complexo do Pecém, responsável pela gestão do Porto do Pecém, cumpre todas as exigências previstas pelos órgãos anuentes (Receita e Polícia Federais). Além disso, disponibiliza recursos em tecnologia para colaborar com as autoridades competentes, de modo a garantir a segurança portuária, a evitar que cargas ilícitas saiam pelo terminal portuário do Pecém e a auxiliar a detectar esse tipo de carga.

As ações de fiscalização e apreensão são coordenadas pela Comissão Estadual de Portos (Cesportos-CE), operacionalizadas pela Marinha do Brasil, Polícia Federal, Receita Federal e ANTAQ.

O Porto do Pecém cumpre todas as exigências previstas pelas normas da Comissão Nacional de Segurança Pública nos Portos, Terminais e Vias Navegáveis (Conportos) e pelo Código Internacional para Proteção de Navios e Instalações Portuárias (ISPS Code), que está entre os mais rigorosos do mundo.

 

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