PF: duas operações que miram desbaratar tráfico pelos portos têm Ceará como alvo

Na Operação Néctar, desencadeada a partir do Ceará, foram expedidos 30 mandados de prisão, 30 de busca e apreensão e 88 bloqueios de bens e valores. Na Operação Follow The Money, voltada a lavagem de dinheiro, um mandado de busca e apreensão foi cumprido em Barroquinha, no litoral oeste cearense

As ramificações no Ceará para o tráfico internacional de cocaína enviada para a Europa a partir dos portos brasileiros, mais o crime associado de lavagem de dinheiro, foram alvo de duas operações simultâneas e distintas da Polícia Federal em território cearense, na manhã desta quarta-feira, 6.

Na Operação Néctar, desencadeada a partir de mandados da 11ª Vara Federal no Ceará, e envolvendo pessoas e endereços em mais sete estados (Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo), foram determinadas 30 ordens de prisão, sendo 8 preventivas e 22 temporárias, mais 30 mandados de busca e apreensão e 88 bloqueios judiciais de bens e valores. Uma das medidas seria cumprida no exterior, mas O POVO não conseguiu detalhar a informação.

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O aparato acionado foi de cerca de 130 agentes. As ações da Néctar foram realizadas no entorno do porto do Pecém, em São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana de Fortaleza. Apesar disso, os agentes federais nem teriam entrado na área do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), tendo executado mandados em imóveis na localidade e também na Capital. A informação foi confirmada em nota pela gestão do porto do Pecém. Também não foi informado se os agentes fizeram apreensão de alguma quantidade de droga na operação desta quarta-feira.

Facção teria movimentado R$ 2 bilhões

Na operação Follow The Money — "Siga o dinheiro", em inglês —, deflagrada no Paraná, em Santa Catarina e no Ceará, o foco é a lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de cocaína que passa pelos portos nacionais. O mandado executado em solo cearense foi um de busca e apreensão, cumprido no município de Barroquinha, no litoral Oeste, a 388 km de Fortaleza, quase divisa com o Piauí. A vistoria teria sido numa empresa de construção civil.

Os valores rastreados em movimentações financeiras e bancárias teriam passado de R$ 2 bilhões nos últimos anos, segundo nota divulgada pela Polícia Federal. O grupo investigado lavava o dinheiro do tráfico em negócios com imóveis, serviços, transportes, construções, óleos e lubrificantes, usando contratos de fachada.

O suposto chefe do esquema seria um empresário de Curitiba (PR), do ramo de transportes, construção e de aluguel de máquinas pesadas. Só de gastos pessoais, foram identificados mais de R$ 18 milhões em compra de imóveis e veículos sem origem lícita conhecida.

Em duas grandes apreensões da droga que seriam vinculadas ao grupo, uma remessa interceptada tinha 700 kg de cocaína ocultos em uma lixeira de metal que seria transportada para um estado do Nordeste do Brasil, com possível embarque para o exterior. A outra foi uma apreensão de aproximadamente 800 kg de cocaína em um navio rebocador em Santa Catarina.

Outro ponto do trabalho policial descobriu mais de R$ 8 milhões na compra de máquinas pesadas para locação e prestação de serviços, mas sem nenhuma prestação de serviço relacionada. A lavagem envolvia compensações de boletos (cobrança bancária) pagos por empresas também ligadas à organização e suspeitas de serem exclusivamente utilizadas para movimentação de recursos ilícitos.

Uma empresa, do ramo de "atividades esportivas", estava no nome da companheira desse empresário, com suposta declaração falsa de serviços prestados.

A 14ª Vara Federal de Curitiba (PR) ordenou 33 mandados de busca e apreensão e dois de prisão temporária (em Curitiba e em Balneário Camboriú-SC). Também foi determinado o bloqueio de dezenas de imóveis urbanos e rurais, contas bancárias, veículos, motoaquáticas, caminhões e maquinários agrícolas. Dentro de alguns dos veículos apreendidos, os agentes encontraram mais de R$ 100 mil em espécie, guardados em bolsas.

O POVO apurou que todas as prisões temporárias e preventivas da operação Néctar foram definidas apenas para o Ceará. No início da tarde desta quarta-feira, a operação seguia em andamento. As informações parciais da PF apontavam mais de 15 presos, além de apreensões de R$ 100 mil em dinheiro, uma arma, veículos, além de computadores e documentos. Os alvos das duas operações, que não tiveram os nomes divulgados, teriam ligação com a facção Primeiro Comando da Capital (PCC).

Apreensão feita em 2019 deu origem a investigação da Operação Néctar

O nome da operação Néctar foi escolhido porque a investigação começou após a apreensão de 330 quilos de cocaína escondidos numa carga de mel, feita pela Receita Federal no porto do Pecém em agosto de 2019, que seria enviada para a Bélgica. Naquele momento, havia sido a maior apreensão de drogas em portos do Ceará.

A droga foi encontrada após informações trocadas entre os agentes da Receita e organismos internacionais de inteligência que monitoram cargas ilícitas em portos pelo mundo.

Segundo o delegado regional da Polícia Federal no Ceará, Victor Mesquita, nesses mais de quatro anos os investigadores da Delegacia Federal de Repressão ao Tráfico de Entorpecentes estudaram as semelhanças entre as diversas apreensões registradas nos oito estados e a logística utilizada nas cargas remetidas.

"Acreditamos que essa mesma organização criminosa foi responsável por diversas remessas, com base nas operações realizadas pela Polícia Federal ao longo dos anos em diversos locais", detalhou.

As operações analisadas teriam somado mais de sete toneladas de cocaína apreendida no período. Por conta do sigilo judicial, Mesquita não quis especificar quais seriam as outras operações, mas confirmou a gênese do trabalho investigativo a partir do carregamento de cocaína camuflada no mel. À época, a droga teria sido inserida no contêiner dentro do porto do Pecém.

Entenda as operações

As duas ações desta quarta-feira têm como foco o combate ao tráfico de cocaína pelo modal marítimo e a lavagem de dinheiro.

Operação Néctar: Nome é em referência à apreensão realizada em agosto de 2019, que deu início à investigação. No caso, 330 kg de cocaína foram descobertos num contêiner no Porto do Pecém, camuflados num carregamento de mel que seria enviado para a Bélgica.

- Onde foi realizada: Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro e São Paulo. Uma ordem teria sido no exterior, mas O POVO não conseguiu confirmar o País.

  • 8 mandados de prisão preventiva
  • 22 mandados de prisão temporária
  • 30 mandados de busca e apreensão
  • 88 ordens de bloqueio de bens e valores
  • 130 agentes federais acionados

 Operação Follow The Money: "Siga o dinheiro" é a expressão usada por investigadores que miram cercar as movimentações financeiras de organizações criminosas. Esquema usava pessoas sem condições econômico-financeiras ("laranjas") e contratos de fachadas para negócios e serviços pagos com dinheiro do tráfico de drogas pelos portos. 

- Onde foi realizada:

Paraná: Curitiba, Tijucas do sul, Campina Grande do sul, Matinhos, Pinhais, Fazenda Rio grande, Santo Antônio do Sudoeste, Londrina, Loanda, Piraquara e Pontal do Sul. Todas as localidades com mandados de busca e apreensão e prisão temporária em Curitiba.

Santa Catarina: Balneário Camboriú, Itajaí, Dionísio Cerqueira, Barra Velha e Itapoá. Todos os locais com mandados de busca e apreensão e prisão temporária em Balneário Camboriú.

Ceará: Barroquinha. Mandado de busca e apreensão - envolvendo empresa do ramo da construção civil.

- Valores: Cerca de R$ 2 bilhões rastreados na investigação. Movimentações bancárias e financeiras, uso de "laranjas", empresas e contratos de fachada, falsas declarações de faturamento. Com o dinheiro ilícito, aquisição de imóveis, veículos, maquinário agrícola, abertura de empresas

- 130 policiais federais e 20 auditores fiscais e analistas tributários acionados

Fontes: Polícia Federal e Receita Federal

 

 

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