Ceará já teve quatro chacinas em 2023, uma a mais que em 2022 inteiro

Quatro crimes desse porte foram registrados no Estado entre janeiro deste ano e este mês de outubro; último caso ocorreu na madrugada desta segunda-feira, 30, em Itarema

Na madrugada desta segunda-feira, 30, um grupo armado invadiu uma residência no município de Itarema, a 210,6 km de Fortaleza, e assassinou quatro pessoas que pertenciam a mesma família. Conforme levantamento feito pelo O POVO, com esse crime o Ceará chega a quatro chacinas registradas neste ano — superando 2022, quando foram identificadas três ocorrências do porte.

Conforme Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), os homicídios aconteceram na localidade de Enseada dos Patos, no litoral da cidade. Dentre as vítimas estava uma adolescente de apenas 13 anos de idade, sendo a faixa etária das demais: 17, 20 e 24 anos.

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Maria Gabriela Jaques, Maria Eduarda dos Santos Nascimento e Josina dos Santos Oliveira foram encontradas mortas deitadas na cama. Já o corpo da quarta pessoa vitimada na ação criminosa, um jovem cuja identidade não foi revelada, estava no chão da residência. Criminosos fugiram do local.

Conforme SSPDS, a Polícia Civil do Ceará (PC-CE) e a Polícia Militar do Estado (PMCE) foram a região, incluindo o titular da pasta, Samuel Elânio, o delegado-geral Márcio Gutierrez e o comandante geral da Polícia Militar, coronel Klenio Savyio. Delegacia Municipal de Itarema investiga o crime. 

O critério considerado para que uma ação seja considerada como chacina é quando quatro pessoas ou mais são mortas na mesma ocorrência. Levando isso em consideração, um balanço realizado pelo O POVO DOC mostrou que, entre janeiro de 2018 a outubro de 2023 o Ceará registrou 26 ocorrências do porte.

Ao todo, 142 pessoas morreram nessas ações. O ano com os maiores índices foi 2018, quando oito crimes desse tipo ocorreram no Estado, vitimando 62 pessoas ao todo. Também foi o período onde ocorreu a Chacina do Forró do Gago, em Cajazeiras, e a de Milagres, crimes que chocaram a população devido a brutalidade como aconteceram e que vitimaram cada qual 14 pessoas. 

Já neste ano de 2023 foram registradas quatro chacinas. A mais recente antes do crime em Itarema foi identificada em Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Na ocasião, quatro homens foram assassinados quando participavam de uma confraternização em uma chácara no bairro Mestre Antônio.

Número de ações desse porte que ocorreram neste ano já supera 2022, onde foram registradas três ocorrências desse tipo. Índice de mortes também é maior. Isso porque 13 pessoas foram mortas no ano passado contra 16 vitimas só entre janeiro e outubro deste ano.

Chacinas têm por trás disputas de organizações criminosas

O rastro de sangue deixado pelas chacinas têm, quase sempre, o mesmo pano de fundo: a atuação das organizações criminosas no território cearense. Na ocorrência de Itarema, uma fonte ligada à cúpula da SSPDS disse ao O POVO que o crime teria sido motivado por disputa entre as facções que atuam na área. 

"Itarema sempre teve predominância da Guardiões do Estado (GDE) e agora tem a Massa e o Comando Vermelho na briga. O número de homicídios aumentou muito, pois alguns faccionados mudaram de lado (mudaram de organização criminosa)", apontou a fonte.

De acordo com o pesquisador Ricardo Moura, do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), as organizações criminosas costumam surgir em Fortaleza e expandir suas atuações para a Região Metropolitana e para o Interior. Ele aponta que as disputas por território é que estariam causando uma "efervescência no ritmo dos crimes".

"A gente percebe que esse fenômeno vem sendo replicado. Há uma repercussão dessas disputas. Como a gente tem a ascensão de grupos novos, essa ascensão ela costuma ocorrer de uma forma muito violenta e sem uma coordenação mais integrada. Então ela é mais imprevisível", aponta Moura.

O pesquisador também alerta para a abrangência desse tipo de crime: "É uma violência que se espalha para atingir pessoas inocentes e pessoas que por vezes não têm envolvimento algum", analisa. "Não há regra, ninguém está protegido. Isso exige uma atenção ainda mais redobrada das autoridades". (Com Jéssika Sisnando e Claúdio Ribeiro)

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