Ceará vai monitorar qualidade das águas de açudes por meio de satélite

Sensoriamento remoto será feito com o intuito de dar respostas mais rápidas e precisas à poluição das águas dos açudes cearenses

Monitorar a qualidade da água de 157 açudes espalhados por todo o território do Ceará não é tarefa fácil. Por isso, o Estado vai investir em uma tecnologia para analisar o aspecto das águas das barragens de forma remota, por meio de imagens de satélite.

Pesquisadores da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) e da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) trabalham juntos para desenvolver o modelo e a base de dados que alimentará a tecnologia.

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Mário Barros, analista de gestão de recursos hídricos da Cogerh, relata que o projeto ainda está em fase inicial. Há dois meses, os pesquisadores estão colhendo informações em campo, ou seja, indo até os mananciais para coletar amostras das águas. Esse método já é o utilizado pela Companhia para realizar o monitoramento.

De três em três meses as águas são testadas conforme alguns parâmetros de qualidade de água: fósforo total, nitrogênio total, cianobactérias, clorofila e transparência. “A partir disso, temos uma escala que a gente divide em quatro classes”, explica Mário, sobre o índice do Estado Trófico.

Confira como é categorizada a qualidade da água dos açudes no Ceará:

  • Oligotrófica: quando a concentração de nutrientes (fósforo e nitrogênio) é baixa e as águas estão pouco carregadas de poluição.
  • Mesotrófica: níveis aceitáveis de poluição e nutrientes.
  • Eutrófica: aumento de nutrientes e de interferências na qualidade da água, além da diminuição da transparência. Impacto elevado na qualidade.
  • Hipereutrófica: água afetada significativamente pela matéria orgânica e nutrientes, com comprometimento do uso.

No último boletim sobre a qualidade das águas lançado pela Cogerh, em fevereiro de 2023, 27 açudes estavam em estado oligotrófico, 20 em mesotrófico, 84 em estado eutrófico e 11 em hipereutrófico. O próximo deve ser lançado em agosto. O intervalo maior é devido a uma troca de empresas que realizam as análises.

“Alguns açudes têm um monitoramento mais intenso, mensal. São aqueles estratégicos, que abastecem núcleos populacionais densos, como o Castanhão e o Gavião”, diz Mário. No entanto, os processos de eutrofização das águas são mais rápidos do que a capacidade de análise mensal ou trimestral. A maior frequência da checagem da qualidade é um dos benefícios do satélite.

Durante um ano, os dados das coletas serão utilizados para criar um modelo estatístico para o satélite. “Precisamos ter o conjunto de dados para comparar o que estamos medindo e a informação que estamos vendo nos satélites, tendo certeza que ele funciona e que é um dado de qualidade, condizente com a realidade”, explica o gerente de estudos e pesquisas de recursos hídricos da Funceme, Renan Rocha.

“Pelo sensoriamento remoto, você consegue ter uma ideia das propriedades e qualidades da água pelos comprimentos de onda que retornam dos reservatórios”, conta. “Estamos utilizando metodologias aplicadas a nível internacional e precisaremos readequar passos para a nossa realidade, considerando as características hidroambientais às quais os açudes da região estão sujeitos”, afirma Clécia Cristina Guimarães, coordenadora do estudo.

Para isso, os órgãos também terão a ajuda de um consultor internacional contratado para auxiliar na metodologia do projeto. Uma empresa para análises físico-químicas e biológicas da água bruta também foi contratada. O contrato de R$ 535 mil será financiado por aporte do Banco Mundial.

“Pensar a logística de campo para que tudo ocorra no tempo certo talvez seja, nesse momento, nosso maior desafio. Os açudes estão espalhados por todo Ceará e existem parâmetros, como a clorofila, que precisam ser processados em 48 horas, a partir da coleta. Precisamos estar muito bem alinhados com o laboratório e com a equipe de campo”, relata Clécia.

Sensoriamento remoto deve ajudar a dar respostas mais efetivas à poluição

Além da maior frequência de monitoramento, o sensoriamento remoto das águas do Ceará deve refinar as respostas dos órgãos à poluição. “Isso não substitui nossa ida até lá [ao açude], mas previamente podemos ter uma noção, para que a gente se antecipe em relação ao melhor ponto para coleta, o que no entorno pode estar contribuindo”, explica Mário.

Até ir ao local da poluição, há questões de logística que podem atrasar os trabalhos. “A pessoa chega lá com o barco, mas a gente não sabe onde é o problema, fica uma coisa meio sem direção”, diz. Saber quais motivos podem estar causando a poluição de longe, permite que os recursos para o trabalho de campo sejam empreendidos com maior precisão.

Apesar de existir a eutrofização natural, a principal causa da poluição dos açudes é a ação humana, segundo o pesquisador. Falta de saneamento básico, piscicultura, pecuária, carcinicultura, lançamento de esgoto dentro do açude são alguns dos fatores mais relevantes que prejudicam a qualidade das águas.

O clima do Ceará também contribui. O período de chuva restrito, a incidência solar, o tempo que a água fica parada, a pouca profundidade dos açudes e a evaporação podem influenciar na eutrofização.

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