Cinco alunos de escola cearense representam o Brasil nas Olimpíadas de Astronomia
Paulo Otavio, Gabriel Hemétrio, Gustavo Mesquita, Davi Coutinho e Mychel Segrin são os nomes relacionados para representar o Brasil mundo afora. Todos são estudantes do colégio Farias Brito
Cinco dos dez alunos escolhidos para representar o Brasil nas olimpíadas internacionais de astronomia deste ano estudam no Ceará. Essa é a segunda vez na história do Estado que o feito ocorre. A primeira foi em 2018. Eles foram escolhidos entre centenas de estudantes de todo o País, que se destacaram na Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA), realizada em maio.
Os estudantes do ensino médio do colégio Farias Brito foram separados em dois grupos. O primeiro, que participará da XVI Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica (IOAA), em agosto de 2023, na Polônia. O outro vai ao Panamá disputar a XV Olimpíada Latino Americana de Astronomia e Astronáutica (OLAA), agendada para outubro.
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Antes de viajar para fora do País, a equipe realiza um treinamento especializado na cidade Barra do Piraí, no Rio de Janeiro.
Para a IOAA, os dois alunos selecionados foram Paulo Otavio e Gabriel Hemétrio, ambos de 18 anos.
Paulo Otávio, cearense, residente de Fortaleza, conta que desde o sexto ano do ensino fundamental realizava a prova da OBA, mas não dava tanta importância. No primeiro ano do ensino médio, gabaritou a prova e conseguiu ouro.
“Conheci uma pessoa que já tinha participado do processo seletivo da OBA, chamado Jan Bojan, ele me convidou para estudar astronomia e ir a fundo para as seletivas. Aí, desde setembro de 2021, comecei a estudar muito para a seletiva, até que me classifiquei para IOAA e consegui medalha de prata”, diz.
Paulo se sente mais seguro do que a primeira vez, porém com o peso de não conseguir passar. “Mesmo estando mais confortável, também fico bem inseguro e bem aflito de não passar. Agora, pretendo conseguir o ouro na OIAA, que, até então, no Brasil só tem três. Então, é bem difícil. Vou estudar muito e tentar representar o Brasil da melhor maneira”, afirma.
Já Gabriel Hemétrio é o único estudante da história do Brasil a participar pela terceira vez da IOAA.
Ele conta que desde pequeno se impressionava com o universo. "Sempre que olhava para o céu, via diversos astros e estrelas e tinha curiosidade de descobrir como funcionam esses fenômenos. Não só o céu, mas também outras coisas, diversos fenômenos físicos, como o arco-íris, e diversas outras coisas que a física e astronomia explicam."
Foi quando começou a participar das olimpíadas de astronomia, no oitavo ano, que ele começou a intensificar os estudos na área. O que chama a atenção da competição para Gabriel é o incentivo ao pensamento criativo.
"Desenvolver isso é algo muito importante. É algo que só é possível de se desenvolver fazendo muitas questões. E algo bem interessante das olimpíadas é que não basta você decorar ou saber a fórmula de cabeça, você tem que realmente entender. Você tem que ver um fenômeno e modelar tudo na sua cabeça, ter imaginação suficiente para criar um modelo que o explique", ensina.
Como próximos passos da carreira, Gabriel projeta ir para outras áreas da exatas, como Engenharia ou Ciências da Computação. “Quero seguir a carreira com áreas que desenvolvam o pensamento criativo e a imaginação, como a gente vê isso acontecendo nas olimpíadas”, afirma.
Os alunos Gustavo Mesquita, Davi Coutinho e Mychel Segrin participarão da OLAA. Desses, o único veterano da competição latino-americana é Davi, de 18 anos.
Davi Coutinho entende que, no atual cenário da seletiva de astronomia, existe um terreno 'praticamente limpo' para quem está começando, pois a maioria dos veteranos estão no terceiro ano. "Então, eu diria que, com foco e dedicação, os novatos poderão manter o nível do processo seletivo e representar cada vez melhor o Brasil, seja na OLAA ou na IOAA.”
Gustavo Mesquita está no segundo ano do ensino médio, portanto, poderá participar mais uma vez. Perguntado sobre a sensação de representar o Brasil pela primeira vez, o aluno diz que sente “uma grande responsabilidade” misturada com “alegria e empolgação”.
Mychel Segrini avalia a olimpíada como uma oportunidade transformadora. "O sentimento de satisfação é complementado por confiança, porque eu sei que o que eu estudei até aqui vou levar para o resto da vida e para a competição.”
Um dos sonhos de Mychel era conseguir a classificação para a IOAA, porém em 2023 ele encerra o ciclo do ensino médio. Ainda assim, acredita que a experiência na OLAA vale a pena.
“Mas uma história que digo sempre é que o destino era importante, era, mas o que mais me impactou foi o processo de andar até aqui e ter aprendido, conhecer pessoas interessantes que querem o mesmo que eu. Só pela experiência que tive já vai me ajudar na minha caminhada como estudante, como profissional, e o ritmo de aprendizado aqui foi tão grande que agora eu vou levar para vida inteira”, avalia ele.
Em consonância com o posicionamento dos alunos, o professor e coordenador de olimpíadas do colégio Farias Brito, Rodrigo Cajazeiras, fala que o resultado da seletiva é um efeito muito positivo do intenso trabalho com os alunos ao longo de todo o ano.
"Eles têm acesso às aulas preparatórias desde o ensino básico até o mais avançado, como para a Olimpíada Brasileira. Mas também recebem aulas práticas de observação do céu, com uso de telescópios e outros recursos fora das dependências da escola, como visitas ao Planetário Rubens de Azevedo, localizado no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, e também no Seara da Ciência, um espaço de divulgação científica e tecnológica da Universidade Federal do Ceará", explica.
O que era um hobby para os alunos passa a ser trabalhado de forma mais séria, com treinamentos, viagens. "Para eles é muito bom, pois eles conhecem outros alunos, de outras escolas, de outros estados, é um momento que eles interagem entre si e com especialistas na área. Há adolescentes que gostam de jogar videogame, de futebol na rua, já eles se divertem estudando astronomia e física. Eles estão fazendo o que gostam."
“O próprio aluno Gabriel Hemétrio ganhou uma bolsa para uma Summercamp em Oxford. Daqui a duas semanas, ele já estará indo a Oxford participar de um espécie de treinamento de verão. As olimpíadas abrem portas para tudo”, encerra o professor.