Detector de metal, cerca elétrica e apoio psicológico: o que mudou nas escolas de Farias Brito um mês após ataque

Com investimento em segurança e apoio emocional aos estudantes, escolas adotam protocolo para prevenir violência

A rotina nas escolas municipais de Farias Brito, a 490 quilômetros de Fortaleza, não é a mesma desde o ataque que deixou duas estudantes feridas na escola Isaac de Alcântara Costa, na zona rural do município, no último dia 12 abril. Um mês após o atentado, alunos e professores se adequam a novos padrões de segurança para evitar que o episódio de violência se repita.

O acesso às unidades de ensino passou a ser controlado com detector de metais. O monitoramento é feito diariamente nas 20 escolas da rede municipal antes do início de cada turno. A medida afeta os cerca de três mil estudantes matriculados na educação infantil e no ensino fundamental. O objetivo, segundo a Prefeitura, é prevenir a entrada de armas e objetos cortantes nas instituições, além de garantir mais proteção à comunidade escolar.

Outras duas providências adotadas foram a instalação de cerca elétrica e de câmeras de segurança em todas as escolas municipais. A Secretaria Municipal de Educação (SME) montou uma sala de videomonitoramento na sede do órgão para acompanhar a movimentação nas escolas em tempo real, segundo informa o titular da pasta, Júnior Almeida.

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“Redobramos a atenção e estamos investindo em todas as frentes, porque as crianças têm o direito de estudar em um espaço de harmonia e de paz. Escola é lugar de amor, de acolhimento e não de violência”, assinalou o secretário.

O reforço na vigilância veio a reboque da preocupação de pais e autoridades em “blindar” a sala de aula de ameaças externas após a onda de violência que se espalhou pelas escolas do País e atingiu a pacata cidade do cariri cearense, cuja população é inferior a 20 mil habitantes.

A escola onde o ataque foi registrado fica localizada no Sítio Carás, pequeno distrito rural distante a 12 quilômetros do Centro da cidade. Era tarde do dia 12 abril, parecia mais um dia letivo normal, até que um adolescente de 13 anos usa um objeto perfurocortante para ferir duas crianças de nove anos. Medo e pânico se espalharam rapidamente entre alunos, professores e servidores.

Em meio a tumulto nos corredores da instituição, as duas garotas lesionadas foram socorridas para o hospital local e uma delas precisou ser transferida para uma UTI pediátrica em Barbalha, também no Cariri. Ela ficou internada durante 23 dias e recebeu alta no começo de maio.

Com ferimentos leves, a outra vítima tinha foi liberada no mesmo dia do ataque. Já o autor do atentado, conforme apuração do O POVO, cumpre medida socioeducativa em uma unidade de internação para adolescentes da região.

De acordo com o secretário Júnior Almeida, as duas estudantes estão sendo acompanhadas em domicílio por psicólogos e assistentes sociais da Prefeitura. Uma equipe de profissionais também foi designada para prestar apoio emocional nas escolas. “Todo mundo ficou abalado. Mexeu muito com o emocional, especialmente das crianças”.

Porteiros, vigias, professores, técnicos e gestores escolares foram capacitados para identificar e lidar da forma correta com eventuais comportamentos agressivos dentro das unidades de ensino. Na escola onde aconteceu o ataque, dois vigilantes foram contratados para reforçar a segurança. Fora da instituição, servidores foram escalados para acompanhar os estudantes nos ônibus escolares.

A partir do ataque ocorrido em Farias Brito, estratégias de prevenção à violência escolar ganharam propulsão em escolas públicas e privadas do Ceará. Na rede estadual, a Secretaria da Educação (Seduc) está implantando as Comissões de Proteção e de Prevenção à Violência contra a Criança e o Adolescente, em parceria com o Ministério Público.

De acordo com a pasta, os comitês vão reforçar o papel protetivo da escola e estreitar a relação das instituições com as Redes de Proteção. Paralelo a isso, o Governo do Estado lançou uma cartilha com foco na prevenção e no combate à violência nas escolas. O documento indica quais providências devem ser tomadas por alunos, gestores e professores diante de situações de emergência.

Violência nas escolas começa fora da sala de aula, avalia especialista

Para o doutor em psicologia e professor universitário, Marco Aurélio Patrício, as estratégias de prevenção não devem se restringir ao ambiente escolar. “A solução eficaz para esse problema passa por questões maiores que as instituições de ensino. Daí a importância do envolvimento de toda a sociedade em processos de educação antiviolência ou por uma cultura de paz”.

Na visão do especialista, a origem do problema está fora da escola. Ele aponta que, na maioria das vezes, os casos de violência têm relação com histórico de violência doméstica e negligência parental (abandono afetivo) nas famílias dos estudantes envolvidos.

Com base nisso, Patrício defende que o investimento em segurança não é suficiente para impedir novos ataques. “Precisamos mesmo é de uma cultura social de paz”. Para ele, os órgão de Segurança podem contribuir de forma mais efetiva focando sua atuação nas ações de inteligência que tenham como foco o monitoramento de perfis suspeitos nas redes sociais. 

Em balanço enviado ao O POVO, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que monitora 98 perfis em mídias sociais relacionados a ameaças de ataques em instituições de ensino. A autoria de 96 destes já foi identificada, segundo a pasta, e outras duas estão em análise.

De acordo com a Secretaria, pelo menos 87 pessoas foram conduzidas a Delegacias para prestar esclarecimentos entre os dias 3 de abril e 11 de maio por suspeita de envolvimento com os perfis. As ações resultaram na apreensão de 19 adolescentes e na prisão de um adulto.

Equipes da Polícia Civil também recolheram os celulares dos investigados. Além disso, guarnições da Polícia Militar atuam realizando rondas e paradas de viaturas em pontos estratégicos no entorno das escolas. O trabalho é realizado na Capital e no Interior. Ao todo, 6.570 unidades de ensino foram visitadas por agentes da corporação do dia 10 de abril a 11 de maio.

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