Menina Benigna e Padre Cícero: entenda o que é canonização

Sendo dividida em quatro etapas, a canonização é o processo feito pela igreja católica para tornar alguém santo

Termo utilizado pela igreja católica, a canonização diz respeito ao ato de atribuir o estatuto de santo a alguém que já era beato ou que está sujeito à beatificação. No Ceará, Menina Benigna e Padre Cícero estão passando atualmente pelo processo canônico, que é dividido em quatro partes.

Além deles, outros quatro religiosos são candidatos à canonização em Fortaleza: Frei João Pedro de Sexto, Dom Antônio de Almeida Lustosa, Irmã Clemência e Rosita Paiva. Segundo padre Tiago Geyrdenn, mestre em Teologia, o processo canônico costuma ser longo e minucioso.

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Benigna Cardoso da Silva tem data marcada para se tornar a primeira beata do Ceará em 24 de outubro deste ano. O processo, no entanto, foi inciado em 2011, por intermédio da Diocese do Crato. Em 2013, a causa foi aceita pela Congregação para a Causa dos Santos, sendo Benigna declarada serva de Deus.  

Já Padre Cícero Romão Batista teve a abertura do pedido de beatificação iniciado em 2015, recebendo o aval do Papa Franciso somente neste ano. Assim, foi dado início ao processo pelo Vaticano no dia 20 de agosto último, tornando Padre Cícero também reconhecido como servo de Deus.

"A beatificação é um passo do caminho para a canonização. O objetivo é sempre a canonização, ou seja, ser declarado santo e ser elevado, em uma linguagem religiosa, à honra dos altares. O processo é feito com muita calma e em quatro etapas", explica padre Tiago.

Etapas da canonização

A primeira parte do processo de canonização, de acordo com padre Tiago, é a etapa diocesana. Quando o candidato ou a candidata à canonização morre em fama de santidade, é feita uma sondagem da vida, analisando as virtudes heróicas e a forma heróica que foi vivida a fé.

É realizado um pedido de abertura do processo, e há a nomeação de um postulador da causa, responsável pela investigação de toda a vida da pessoa. Depois, é solicitado à Congregação da Causa dos Santos o “Nada Consta” (Nihil Obstat) da Santa Sé.

"É apresentado, então, esse processo que chamamos de dossiê, com o que foi investigado e encontrado sobre a vida daquela pessoa, que é enviado para a Santa Sé Apostólica, no Vaticano. Quando o documento é lido e aceito, dá-se início ao processo", esclarece padre Tiago.

Depois que a diocesana prepara todo o dossiê, que vai para a Santa Sé e retorna ao lugar de origem, o bispo local constitui formalmente uma causa de beatificação, recebendo o auxílio de uma comissão local. Concluída a primeira etapa, a pessoa passa a ser considerada serva de Deus.

Padre Abimael Franciso explica que o título de servo de Deus se dá quando o fiel, batizado e já falecido, é aceito como postulante à canonização. Depois de aprovado o dossiê e feita a intitulação, é iniciada a segunda fase, chamada etapa romana, tornando a pessoa venerável.

"Quando a pessoa se torna venerável, na segunda etapa, são estimuladas a devoção particular (não podendo ser devoção pública) e as romarias para o lugar do túmulo daquela pessoa. A partir disso, temos os pedidos de milagre para aquela pessoa que morreu em santidade", pontua padre Tiago.

Se for relatado um milagre, é feita uma investigação minuciosa dele. Quando constatada a veracidade, as provas são enviadas para uma equipe de especialistas em Roma. Se o milagre for aceito, aquela pessoa é declarada beata, que corresponde à terceira fase da beatificação, chamada etapa da Causa dos Santos.

A espera pela realização de um milagre e a comprovação da veracidade, contudo, podem demorar de forma considerável. Por isso, segundo o padre Abimael, não existe um tempo determinado para os processos. Quando finalizada a segunda etapa, a beatificação acontece no lugar de origem da pessoa.

A última parte do processo corresponde à etapa da canonização. Nela, é necessário que um segundo milagre também seja relatado, sendo necessária novamente uma investigação longa e minuciosa para que ele seja comprovado. Depois de confirmado, a pessoa, então, torna-se santa.

"O santo tem Cristo como centro da vida. A centralidade de tudo isso é Cristo e a palavra de Deus. Só que o santo é o modelo de uma fé provada e heróica, mas não significa que ele não tenha falhas na sua vida, já que é um ser humano", completa padre Tiago.

Primeira beata do Ceará

Benigna Cardoso da Silva, a Menina Benigna, possui uma particularidade no processo de canonização, explica padre Abimael. Prestes a se tornar a primeira beata do Ceará, ela não precisou da comprovação do primeiro milagre pelo relato de martírio.

Ela é tida como santa por fiéis desde o dia da morte, em 24 de outubro de 1941, aos 13 anos de idade. Ela perdeu a vida após negar ter relações sexuais com um garoto que a assediava, conforme os religiosos. Na época, ele tinha a mesma idade da adolescente.

"Quando o relato de Martírio foi aceito pela igreja, ela recebeu a autorização para se tornar beata, sem precisar, para a beatificação, da comprovação de milagre, mas do martírio", pontua padre Abimael. Assim, Benigna é conhecida como heroína da castidade desde então.

Mesmo sem o aval da igreja católica, o túmulo de Benigna, o local da morte dela, o vestido que utilizava no dia da tragégia (vermelho de bolinhas brancas) e os utensílios que carregava antes de ser emboscada pelo assassino viraram relicários da adolescente desde 1941.

Para a beatificação de Padre Cícero, o processo segue as quatro etapas determinadas, sendo necessária a comprovação do primeiro milagre e, posteriormente, do segundo para que a canonização seja concluída. A depender do tempo de comprovação do primeiro, ele pode se tornar o segundo beato do Ceará.

Candidatos à canonização em Fortaleza

Quatro religiosos com notórios trabalhos foram apresentados durante a Jornada Teológica, realizada pela Faculdade Católica de Fortaleza, no mês de junho último. Frei João Pedro de Sexto, Dom Antônio de Almeida Lustosa, Irmã Clemência e Rosita Paiva são candidatos à canonização na Capital.

Frei João Pedro de Sexto teve a abertura do seu processo em 1997, segundo padre Tiago. Com a aceitação, ele se torna servo de Deus para a igreja. Já Dom Antônio de Almeida Lustosa concluiu a fase diocesana e o dossiê de sua vida foi enviado para ser votado na Santa Sé Apostólica, no Vaticano.

O dossiê de Irmã Clemência está sendo preparado para também ser enviado ao Vaticano, segundo padre Tiago, enquanto o mesmo documento de Irmã Rosita Paiva foi aceito em fevereiro de 2021, tornando a religiosa como serva de Deus.

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