Anúncio do novo decreto estadual marca insegurança na hora de planejar festa de casamento

Em um cenário de pandemia de Covid-19 e alta contaminação por gripe entre os cearenses, o governador Camilo Santana anunciou um decreto com medidas acerca da pandemia no Ceará. O decreto atinge diretamente os eventos privados e públicos.

O governador Camilo Santana anunciou um decreto com medidas acerca da pandemia no Ceará, no dia 5 de janeiro. O decreto atinge diretamente os eventos privados e públicos. Festas com controle de acesso, como casamentos, formaturas, aniversários e eventos corporativos terão capacidade reduzida por 30 dias, com limite de 250 pessoas em ambientes fechados e 500 pessoas em ambientes abertos. 

A medida pegou Joana e Sérgio (nomes fictícios) de surpresa. Com um planejamento para caber no limite do permitido, o casamento dos dois deve acontecer em um espaço fechado para 250 convidados, no início de fevereiro, seguindo as normas do decreto atual. O decreto anterior estabelecia com a capacidade máxima de eventos abertos um público de 5 mil pessoas, e em ambientes fechados para 2.500 pessoas.

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No entanto, apesar de respeitar as normas do decreto, o casal teme que o cenário epidemiológico piore e as ações tomadas no ano passado sejam feitas novamente esse ano. “O meu casamento é para 250 pessoas em local fechado. Até o momento está dentro do permitido pelo decreto. Estou deixando as coisas acontecerem e tentando não me preocupar com a possibilidade de ter que adiar o casamento em decorrência de outro decreto“, relata a noiva.

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“Eu noivei no início da pandemia, então resolvi colocar o casamento bem mais pra frente justamente por pensar que as coisas já estariam resolvidas. Infelizmente, não foi o que ocorreu. Eu já imaginava, que diante da situação da Europa, no final do ano passado, e das festas de final de ano no Brasil, que as coisas iriam piorar. Mas não imaginava que tudo voltaria a fechar de novo. Estava bem confiante que a vacina iria segurar a terceira onda”, finaliza.

Por mais que o decreto tenha a função de garantir a contenção do vírus, em relação às cerimônias e celebrações de casamentos, as incertezas surgem por não se saber quando a festa realmente poderá acontecer e qual o cenário epidemiológico futuro.

Situação parecida foi vivida pelo casal Thiago Mena e André Teixeira, que precisaram adiar o casamento por três vezes durante a pandemia de Covid-19, em decorrência do agravamento da situação epidemiológica e dos decretos sancionados para barrar as ações do vírus.

Casamento de Thiago e André, que aconteceu em meio pandemia, no mês de setembro de 2021. O casal precisou adiar o evento por 3 vezes em decorrência do cenário epidemiológico do estado do Ceará.
Casamento de Thiago e André, que aconteceu em meio pandemia, no mês de setembro de 2021. O casal precisou adiar o evento por 3 vezes em decorrência do cenário epidemiológico do estado do Ceará. (Foto: Fabio Meireles)

“Depois de tantas remarcações, a gente começou a pensar que esse dia não chegaria nunca. No dia, eu estava tão feliz! Ficamos muito emocionados. Era uma alegria geral. Fazia tempo que não encontrávamos muitos dos amigos que foram. Foi um momento realmente de reencontros e de reaproximações”, conta Thiago, 32 anos e professor universitário.

 


A festa do Thiago e o André iria ser em um espaço fechado, mas por causa das medidas sanitárias, o casal optou por realizar o evento em um espaço aberto. Na época já se podia alocar 500 pessoas em espaços ao ar livre. A primeira festa foi marcada para setembro de 2020, precisando ser adiada para o mês de janeiro de 2021, depois para março e por fim para o dia 19 de setembro de 2021.

A mudança gerou custos a mais: “Tivemos que pagar outro buffet, pagamos o deslocamento dos fornecedores, pagamos testes para todos os convidados e trabalhadores da festa, materiais de higiene, máscaras para todos e entre outras coisas”.

Diante de incertezas, a data foi marcada três semanas antes do casamento: “Eu achei que não fosse mais acontecer, eu dizia: ‘gente, já perdeu a graça’. A gente não sabe mais quando vai fazer a festa. A gente estava muito triste. Organizava tudo e não via nada acontecer”, finalizou Thiago.

O último decreto estadual, publicado no dia 27 de novembro, estabeleceu a proibição de grandes festas de Réveillon. Festas em locais abertos deveriam ter, no máximo, cinco mil pessoas e em ambientes fechados o máximo era 2.500 pessoas. As medidas passaram a ser válidas a partir do dia 16 de dezembro de 2021.

Adiar o casamento

Para a cerimonialista Raquel Mendonça, que atua no mercado há 17 anos, muitas noivas, diante dessas situações, preferem adiar os casamentos. “Eu atendo às noivas preocupadas com o cenário epidemiológico e com os limites impostos pelos decretos estaduais, mas nós estamos trabalhando para seguir todas as normas implementadas pelo Estado. Nessas situações, eu busco sempre passar segurança e tranquilidade às noivas".

“Nada impede que o Governador solte um novo decreto na próxima semana. É essa instabilidade, que aconteceu ano passado, que preocupa. Se tivéssemos uma normalidade seria mais tranquilo. Se o decreto só realmente durasse 30 dias, nós iríamos trabalhar baseado nisso”, comenta a cerimonialista.

Para ela, o avanço do vírus e as contenções feitas impactam fortemente o setor de eventos: “Para nós, dos eventos sociais, a procura por nossos serviços diminuiu, mas não parou. Ano passado a procura parou. Eu atendo às noivas que estão preocupadas, porque o casamento delas está fora do limite permitido pelo decreto, e elas já enviaram os convites”, acrescenta.

"Não é só o casamento, é a lua de mel também. Se eu gerar uma expectativa, eu posso gerar uma frustração. Eu sempre oriento para que as noivas esperem para poder mudar [as datas do casamento]. Em relação ao período de pandemia e o mercado de eventos, eu passei a lidar com noivas muito inseguras. Algumas chegam até mim triste e de cabeça quente. Eu sempre recomendo esperar, para saber como o cenário vai estar nos próximos dias. O cenário é caracterizado pela incerteza", finaliza.

Em entrevista à rádio CBN Cariri, a presidente do Sindicato das Empresas Organizadoras de Eventos do estado do Ceará, Circe Teles, diz que com os eventos marcados, toda a cadeia produtiva sofrerá fortemente o impacto econômico diante dessa impossibilidade de ter muitos participantes. “Então todo mundo que já estava agendado vai sofrer com essa determinação [decreto estadual], logicamente. É um setor que já está prejudicado, e paralisado por quase 2 anos”.

É claro que a gente entende que a prioridade é a saúde. O governador e os prefeitos têm que pensar sobre isso, mas temos que encarar essa realidade, pensando em um diálogo e uma compensação para os próximos tempos e aos empresários que estão prejudicados há muito tempo. É um prejuízo e endividamento que se acumula”, finaliza.

Só no mês de dezembro, as UPAs de Fortaleza registram mais de mil atendimentos por síndrome gripal por dia. O decreto estabelecido pela governo do estado foi baseado no aumento dos casos de síndromes gripais, que levantaram um alerta para o risco de superlotação dos serviços assistenciais. 

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