Canhão que pode ser do século XVII é encontrado em área da Estação João Felipe; veja imagens
Peça vai passar agora por um estudo mais detalhado e deve ser encaminhada em seguida a uma instituição de guarda
Um canhão foi encontrado enterrado no pátio interno da Estação João Felipe, em Fortaleza, há cerca de três semanas. O material bélico possivelmente é do século XVII e tem 320 cm. A relíquia histórica está sendo registrada nesta quinta-feira, 9, para ser catalogada como bem arqueológico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Ceará, segundo informações do órgão.
De acordo com Cândido Henrique, superintendente do Iphan no Estado, o objeto de artilharia estava dentro de uma cova rasa, que tinha entre 50 a 80 cm de profundidade. A peça foi encontrada por funcionários que faziam um procedimento para instalar uma tubulação na área.
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Logo após a descoberta, os trabalhadores contataram a Secretaria da Cultura do Ceará (Secult), e a pasta solicitou a presença de um arqueólogo no local. Conforme Henrique, a peça pode ser do século XVII, com base em achados anteriores, mas só um estudo detalhado confirmará isso. "Sem dúvida nenhuma é uma relíquia histórica", frisou ainda o superintendente.
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Procurada pelo O POVO, a Secult disponibilizou documentos que relatam o momento da visita dos analistas da pasta ao local. Segundo informações levantadas pelo órgão, o material foi encontrado entre os dias 16 e 20 de agosto, por funcionários que preparavam o sistema de fornecimento de água da área.
O engenheiro responsável pela obra que ocorre no local teria contado ainda aos representantes da pasta que a peça foi removida logo depois de encontrada, uma vez que estava impedindo a continuiddaes dos trabalhos realizados na área. A estação João Felipe passa por um processo de restauração desde 2019.
"Ele também disse que em um primeiro momento foi pensado que o objeto poderia ser um cano metálico, como encontrado em outras partes do canteiro, mas ao limpar a área e retirar a peça, percebeu-se que era um canhão", disse pasta em relatório de visita. A partir de análises feitas por arqueólogos e museólogos, foi identificado que o objeto trata-se de um achado arqueológico do período histórico.
No entanto, essa informação só pode ser confirmada, assim como as demais, após mais estudos. Ainda segundo relatório, o canhão estava visualmente "muito afetado pelas degradações do tempo", mas se encontra bem estruturalmente e com poucos pontos afetados pela corrosão. Contudo, essa foi uma análise inicial, "feita em local inadequado e sem as ferramentas necessárias".
Material bélico e a história do Ceará
Segundo Cândido Henrique, a descoberta do canhão naquela área em especifico é explicada pela história do Ceará. Isso porque o local onde o objeto foi encontrado era uma região militar, próxima de fortes como o Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. Também funcionava ali um lugar para guardar materiais de artilharia, o que pode explicar a presença da peça bélica.
Com o passar do tempo, a região foi sofrendo mudanças e abrigando outros tipos de equipamentos, como o cemitério São Casimiro na década de 1980. Durante esse processo de transformações, contudo, a história da área militar foi se fazendo lembrar por meio de materiais que permaneciam enterrados na área.
Prova disso é que em 1975 três canhões foram encontrados no local. Conforme Henrique, dois deles são caronadas (feitos de ferro fundido) do início do século XIX, e um é mais longo, do século XVII. Esse último, ainda segundo o superintendente, é "muito parecido com o encontrado agora".
"Esse canhão mais longo era de fabricação inglesa. Portanto, o canhão encontrado pode ter a mesma origem. Mas só os estudos que serão realizados que vão determinar com exatidão e esclarecer todos os pontos desse achado arqueológico", explicou ainda o representante.
Os três canhões encontrados anteriormente foram restaurados e estavam em exposição permanente no “Pátio dos Canhões”, na Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. Este encontrado por último deve ter um destino parecido, mas ainda não há nada confirmado a respeito.
Enquanto o passado da região vai sendo "desenterrado", o antigo equipamento ferroviário que funcionava ali se prepara para abrigar o futuro. Isso porque, até o primeiro trimestre de 2022, a velha Estação João Felipe deve funcionar como coração da Estação das Artes, novo ponto artístico/cultural do Estado.