2 bebês passarão por complexa cirurgia de bexiga realizada pela 2ª vez em Fortaleza

Crianças de nove meses e de um ano e dois meses passarão por procedimento no Hospital Infantil Albert Sabin neste fim de semana. Fortaleza tem média de dois a três casos da patologia por ano

Duas crianças passarão por cirurgia de bexiga em Fortaleza, neste fim de semana, usando técnica que só foi usada uma vez na Capital, em 2019. O Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), unidade da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), receberá, nos dias 3 e 4 de julho, o XXVIII Encontro do Grupo Multi-institucional para Tratamento de Extrofia de Bexiga por meio da realização de cirurgia reparadora utilizando a Técnica de Kelly. É a segunda vez que o grupo vem ao Estado. O procedimento será realizado em dois pacientes, um de nove meses e outro de um ano e dois meses. O mesmo procedimento já foi realizado anteriormente em setembro de 2019.

A Extrofia de Bexiga é uma má formação congênita na qual a criança nasce apenas com a parte posterior da bexiga, sendo essa presa à parede abdominal, para fora da barriga. Por isso, esse órgão não cumpre sua função, que é a de acumular e represar a urina, extravasando para fora do corpo quando produzida. Além disso, a uretra, canal que leva a urina para o meio externo, e o pênis nascem somente com a sua porção posterior. Sendo uma patologia super rara, acontece em média de uma para cada 100 mil crianças nascidas.

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A Técnica de Kelly, realizada apenas em meninos, consiste em um procedimento de apenas uma etapa que corrige a má formação do aparelho gênito urinário da criança (bexiga, uretra e genitália), melhorando a continência urinária e o aspecto estético e funcional do pênis. Antes, a intervenção era feita em três etapas, sendo a primeira quando a criança nascia, fechando a bexiga; a segunda, aos dois anos de idade, consistindo na correção da uretra e do pênis; e a terceira, aos quatro anos, onde se tratava da continência da bexiga para que a criança pudesse controlar a urina.

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“É uma cirurgia extremamente complexa e demorada, já que se são feitas todas as partes cirúrgicas que antes eram realizadas em três etapas. Ela demora, em média, de 10 a 12 horas, sendo necessária a atuação de cirurgiões altamente treinados, capacitados e experientes na patologia e no desenvolvimento da técnica, de forma que ela seja realizada com sucesso. Se não for feita por médicos cirurgiões experientes, a criança corre alguns riscos, como de ficar hipotente, haver necrose do pênis e de não obter continência da urina”, explica Dr. Augusto César Filho, cirurgião pediátrico do HIAS.

Todas as crianças operadas pelo Grupo Multi-institucional são advindas do Sistema Único de Saúde (SUS), através dos hospitais públicos de vários estados do País. Ao nascerem, elas são encaminhadas para os hospitais de referência no tratamento da patologia, que ficam responsáveis pelo agendamento das cirurgias. O procedimento é realizado na cidade em que a criança reside, sendo necessário o deslocamento da equipe médica de cirurgiões ao local.

“Todos os casos até então operados foram feitos por meio do SUS. Todos os médicos envolvidos são voluntários e fazem o procedimento sem nenhum ganho financeiro, apenas pensando no bem-estar das crianças, além do ganho de experiência e do aprimoramento dessa técnica tão complexa”, esclarece Dr. Augusto.

Em Fortaleza, há uma média de dois a três casos da patologia por ano. No momento, quatro crianças estão passando por acompanhamento ambulatorial no HIAS, sendo duas delas operadas nos próximos dias, enquanto as outras, que são mais novas, prosseguem aguardando uma nova reunião do grupo que retornará à capital cearense em uma nova ocasião para realização das cirurgias.

Camila Carvalho, 32, é mãe do Anthony, de 9 meses, que passará pelo procedimento no domingo, 4. Sendo natural de Florianópolis (SC), a criança teve a patologia descoberta no momento do nascimento, mesmo com todos os exames realizados no pré-natal obtendo resultados normais. “No nascimento, nós descobrimos e foi um choque. Na maternidade, já comecei a pesquisar sobre a má formação dele e conheci o grupo. Na época, eles se reuniam em poucas cidades, não havendo previsão para Florianópolis. Devido a isso, nós, que somos de família cearense, decidimos voltar para Fortaleza e procurar o Dr. Augusto e a equipe”, explica.

Morando atualmente no Conjunto Ceará, a família tem grandes expectativas para a cirurgia, que foi adiada algumas vezes por conta da pandemia pelo novo coronavírus. A mãe de Anthony vê o procedimento como uma chance dele ter uma melhor qualidade de vida. “É o que os pais querem, fazer de tudo para que o filho se desenvolva da melhor maneira possível”, completa.

A outra criança que será operada se chama Vinícius, de um ano e dois meses. Ele reside em Banabuiú, município cearense, e está com a cirurgia de correção marcada para este sábado, 3. Milena Barroso, 28, mãe da criança, não esconde a grande expectativa para o tão aguardado momento. “Coração a mil, mas sei que logo ele vai voltar para os meus braços com saúde. Já me alegro muito e entrego nas mãos de Deus, porque ele sabe o que faz”, explica.

Por conta da complexidade do procedimento, ele deve ser realizado em um hospital que possua toda a infraestrutura necessária não somente durante a cirurgia, mas também no pós-operatório. “Precisamos de um centro cirúrgico e de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) muito bem equipados, pois, após a cirurgia, os pacientes precisam ficar sete dias intubados, cinco deles sem poder se mexer. No total, são duas semanas de UTI. Além disso, é fundamental o acompanhamento de uma equipe especializada e tudo isso temos no Hias”, reforça Dr. Augusto.

A comitiva do Grupo Multi-institucional começou a realizar as cirurgias em janeiro de 2019 e, desde então, 28 crianças já foram beneficiadas em todo o País.

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