Familiares denunciam maus-tratos contra idoso e lentidão no socorro à vítima

Segundo a nora da vítima, o idoso é ameaçado por um dos filhos e tem medo de sair do local onde sofre com os maus-tratos. Homem passa dias sem comer ou beber água

Um idoso de 91 anos estaria sendo vítima de maus-tratos e agressões por parte do filho mais velho, segundo relatos de familiares. O caso ocorre na cidade de Capistrano, município do Maciço de Baturité no Ceará e tem se agravado nos últimos quatro meses, conforme denúncias feitas ao O POVO. A nora da vítima relatou ainda uma lentidão das autoridades responsáveis na prestação de socorro à vítima.

Francisco Rodrigues, filho da vítima, contou em entrevista exclusiva ao O POVO que busca desesperada por ajuda para remover seu pai da tutela do irmão mais velho. "Eu preciso tirar meu pai de lá, se eu conseguir trazer ele pra minha casa, eu cuido dele até o fim, mas o outro lá não deixa, ele ameaça todo mundo, é metido a perigoso", relata ao comentar sofre as dificuldades de tentar socorrer o pai, em Capistrano, enquanto vive em Fortaleza.  

A nora do idoso, a cozinheira Maria Yone também conversou com O POVO e disse que chegou a registrar um Boletim de Ocorrência (B.O.), bem como três denúncias distintas sobre o caso para central do Disque Denúncia e que, ainda assim, nada foi feito. Ela conta ainda que o idoso é ameaçado e por isso tem medo de sair do local onde sofre com os maus-tratos, os quais variam desde ficar dias sem comer ou beber água até cárcere privado. 

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“Vão deixar pra fazer algo quando ele morrer? Porque ele tá lá, sendo maltratado, humilhado, sem comer, sem beber e nós aqui, de mãos atadas”, Maria desabafou indignada. Ela frisa ainda que os vizinhos são testemunhas da violência e do abandono ao qual Eloy Rodrigues é submetido pelo filho mais velho da vítima.

O descaso com o pai teria começado há cerca de três anos, após a morte da mãe, e se agravado nos últimos quatro meses. “Ele sai de manhã, toma café fora, almoça fora, janta fora e só volta de madrugada e o seu Eloy fica lá, trancado em casa, sem comida, sem água”, relatou Maria. Os familiares relatam ainda que já chegaram a encontrar o idoso imóvel na cama, em meio a própria urina e fezes, já que precisa de ajuda para se locomover e o responsável, Rogério, estaria ausente de casa há pelo menos 14h. 

Francisco relatou ainda que no último dia 9 de dezembro se encontrou com o pai e ele estava em bom estado de saúde, “ele ainda falava, tava com a memória super boa, conversando sobre tudo bem direitinho”. Mas, no dia 1º de janeiro, ao voltar a ver Eloy, o encontrou acamado, desidratado e desnutrido. “Ele não queria contar, só contou depois que o filho saiu. Ele chorava muito enquanto falava que às vezes apanhava, que era xingado, que passava fome e que era ameaçado de morte”, completou Maria.

"Eu tenho certeza que ele [filho mais velho da vítima] ameaça o velho, é uma coisa que dá muita dó, é muito sofrimento. Meu pai não merece passar por isso. Meu pai se treme todinho quando ouve a voz dele", contou Francisco. O motorista pontua ainda uma conversa que teve com o pai pouco tempo antes de Eloy ter uma piora no estado de saúde: "Meu pai me disse: 'Meu filho, eu fico só aqui, o dia todo, ele [filho mais velho] sai e me deixa aqui. E eu falando: 'Pai, vamos embora', e ele até concordava, mas quando ouvia a voz do meu irmão mais velho, mudava de assunto assustado, se tremendo", contou.

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O apontado pelos familiares como autor dos maus-tratos assumiu um papel de "procurador" de Eloy, sendo responsável por receber a aposentadoria do pai, bem como cuidar de dois imóveis alugados antes geridos por ele e segundo Francisco, é provável que tal renda esteja sendo usada exclusivamente para benefício próprio, já que, segundo ele, no último ano, ele comprou um carro e uma moto, ainda que esteja desempregado. "Ele só quer o dinheiro do meu pai, eu não ligo pra isso, só quero cuidar bem do velho, mas ele [filho mais velho da vítima], me impede, diz logo que vai arrumar uns cara pra vir atrás da gente", detalhou.

Francisco mencionou ainda sobre um momento que seu outro irmão estaria indo visitar o pai, mas que foi expulso de lá pelo irmão mais velho que o ameaçou com um pedaço de madeira. "Ele já fez foi tirar sangue meu, ele é muito metido a brabo e quando falam em tirar o pai de lá, ele vem pra cima da gente com tudo", contou ao afirmar que se sente "de mãos atadas" e que não sabe mais o que fazer para tentar salvar o pai. 

Um pedido por justiça e a espera angustiante do caso de maus-tratos contra idoso em Capistrano

Casada com Francisco há 14 anos, mas sendo íntima da família de Eloy a vida toda, Maria conta, emocionada: “Não aguento mais, não suporto ver o seu Eloy desse jeito”. Ela esclarece que, por não morar na mesma cidade, visitava o sogro de 15 em 15 dias, mas passou a fazer a viagem até Capistrano semanalmente.

“Eu tô pra tirar ele de lá a força enquanto o outro [filho mais velho da vítima] estiver fora, mas seu Eloy tem muito medo. Ele chora muito quando a gente vem embora. O outro filho dele também já tentou tirar ele das mãos do Rogério, mas foi ameaçado de morte”, relatou frisando que o filho mais velho da vítima também a teria ameaçado. “Ele chegou e disse que ia contratar uns caras da facção se a gente fizesse algo”, detalha.

O POVO conversou com uma pessoa que mora nas proximidades da casa do idoso e utilizou o termo "agressivo" para definir o filho mais velho da vítima. A fonte detalhou ainda que toda a vizinhança escuta os pedidos de socorro do idoso. "Às vezes ele grita com fome, pedindo por água, mas o povo aqui não denuncia, eu acho que é muito medo. Eu mesmo não sei até onde ele [filho mais velho da vítima] seria capaz de chegar", contou sob anonimato para preservar sua própria segurança. 

A fonte menciona ainda que algumas pessoas já pediram para o filho cuidar melhor do pai e que a resposta é sempre a mesma. "Na sua frente ele diz uma coisa, age de um jeito, mas é só você piscar que ele já mudou, ele vai lá e faz pior logo depois", comenta. Ela detalha ainda que a última vez que teve contato com seu Eloy se assustou com o estado dele: "Eu não consegui ver muito daquilo, é de dar pena, muita pena, ele era um homem tão forte, esperto e tá tão acabado. Sem comer, emagreceu tanto, do jeito que tá eu fico só esperando a notícia do pior". 

A pessoa ouvida pela reportagem expressa ainda convicção da existência de ameaça do filho mais velho contra o pai e também contra alguns vizinhos. "Eu nunca vi, mas eu não duvido, é cada coisa que ele [filho mais velho da vítima] já vez e todo mundo na rua tem tanto medo dele, de ir contra ele, de falar qualquer coisa", explicou. 

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Suposto caso de maus-tratos foi denunciado à Polícia

Diante do cenário de violência, Maria conta ainda que chegou a procurar a delegacia do município para registrar um Boletim de Ocorrência contra filho mais velho da vítima por maus-tratos. “Eu fui e pedi para um policial ir na casa comigo, que era só ele ir e ia ver o estado que seu Eloy estava”, relata ao pontuar que a visita de fato ocorreu, mas que a vítima ficou assustada diante da presença do policial. O agente teria garantido à Maria que voltaria na casa em outro momento para averiguar a situação.

O policial teria afirmado ainda que daria início nas investigações do caso com base na visita que fez e que Maria não precisava retornar à delegacia para registrar o B.O formalmente. Confiando nas promessas, a mulher retornou para casa e aguardou. Dez dias após o ocorrido, O POVO buscou informações com a Secretaria de Justiça e Defesa Social (SSPDS) que afirmou não ter encontrado nenhum processo de investigação do referido caso na delegacia de Capistrano. 

Ao tomar conhecimento disso, a nora se indigna durante entrevista ao O POVO. "Como é que eles fazem isso? Como é que agem desse jeito? O seu Eloy não merece isso. Pra que serve a polícia então? É um cidadão. Ele sempre pagou seus impostos e tá precisando de socorro", comentou abalada. Ela afirmou ainda que iria registrar novos boletins de ocorrência em todas as outras delegacias da região. 

Em um contato seguinte, a SSPDS confirmou ao O POVO que uma queixa sobre o caso foi prestada na delegacia de Aracoiaba e que as investigações tiveram início com realização de coleta de informações no local apontado no B.O. "Mais informações serão repassadas em momento oportuno visando assegurar as diligências policiais e os envolvidos no caso", completa o posicionamento da pasta. 

Família aguarda resolução do caso

Para a nora, a espera é a pior parte. Ela pontua que está em desespero ao saber que quanto mais tempo passa, maiores são as chances de o sogro sofrer novos maus-tratos. “Já liguei tanto pra esse disque 100... É sempre a mesma história, dizem que tão analisando a denúncia e que vão fazer algo. Mas eu me pergunto: quando, meu Deus? Estou com medo de não dar tempo”, desabafa. Ela destaca ainda que se sente perdida e sem esperanças diante da lentidão no atendimento ao caso, denunciado pela primeira vez no mês passado.

Maria conheceu seu Eloy antes de se casar com o filho dele, já que Eloy e seu avô trabalhavam juntos. Ela o define como um homem extremamente íntegro, bondoso e humilde. “Ele não merece passar por isso, meu coração fica partido. Eu almoço aqui com minha família e penso que ele talvez não tenha comido nada”, conta ao mencionar que está tendo problemas para dormir e se alimentar diante da preocupação com o sogro. “Meu marido tem pressão alta e está passando mal faz dias, por conta dessa situação”, pontua, pedindo, mais uma vez, por uma intervenção das autoridades competentes no caso.

"Eu não vivo tendo pesadelos, meus filhos choram quando pensam no avô, eu só quero salvar meu pai, não quero a aposentadoria dele não, eu trabalho, trazendo ele pra minha casa eu e minha mulher cuidaremos dele, a gente compra umas roupinhas pra ele, alimenta ele bem direitinho, dá banho. Ele tá sem nada lá, abandonado, morrendo de pouco a pouco", finalizou Francisco cobrando maior rapidez no caso do pai. 

A imagem do estado de Eloy foi cedido ao O POVO pela família como forma de expressar a situação a qual renunciam. "Pode usar a imagem do meu pai sim, é importante que todos vejam o que o outro [irmão mais velho] tá fazendo com ele", pontuou Francisco, filho da vítima. 

O POVO investiga o caso desde o dia 11 de janeiro entre ligações, troca de mensagens, áudios e vídeos com familiares da vítima. Apesar da apuração, O POVO não conseguiu contato com o filho mais velho de Eloy, apontado como autor das agressões. Segundo relato de familiares e de uma vizinha, ele teria trocado de número há cerca de três anos, após a morte da mãe, como forma de evitar manter relações com o restante da família. Por não ter conseguido contatar o homem que é alvo das denúncias de familiares, O POVO optou por não identificá-lo.

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