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O POVO Quer Saber: Especialistas divergem sobre retorno das aulas presenciais em 2020

Participantes do programa que acontece ao longo desta semana na rádio O POVO CBN criticam ausência do MEC para articular enfrentamento à crise na educação durante a pandemia do novo coronavírus

Atualizado às 16 horas 37 minutos

Convidados a participar do terceiro episódio da edição 2020 do O POVO Quer Saber, especialistas divergem sobre as condições do retorno às aulas presenciais nas redes pública e privada ainda este ano. A questão foi lançada por um internauta à rádio O POVO CBN durante conversa que ocorreu no final da manhã desta quarta-feira, 29, com o tema "Os desafios da educação básica durante e pós-pandemia". 

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O primeiro a lançar análise sobre o momento e responder o questionamento em relação à retomada das classes presenciais no programa - que segue até a próxima sexta-feira, 31 - foi Robério Ferreira da Silva, diretor da Escola Sesi Senai Parangaba. Para o gestor, as famílias ainda estão divididas e a pressão para voltar está mais entre os que estão nos anos finais da educação básica, principalmente entre aqueles que vão prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

 

“Pensando como escola, a gente vislumbra a possibilidade de retornar. As dificuldades estão postas. Eu acredito que se todos os cuidados foram tomados e a retomada for por etapas e com número reduzido de alunos, a gente vai conseguir controlar o contágio”, considera. Para o pedagogo, o ensino híbrido ainda deve também permanecer pelos próximos meses.

Opinião oposta tem Heulália Charalo Rafante, diretora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC). A especialista afirma que não há condições e recursos para garantir a segurança sanitária de todos neste momento. Não sendo possível o retorno ainda em 2020. Ela se diz temerosa e vê a autorização das classes presenciais como uma atitude irresponsável.

“O que a gente tem que pensar é que não é só o ambiente da escola. Tem o transporte escolar. Tem toda a comunidade que compõe a escola, desde os estudantes, professores, os que cuidam das organizações dos espaços e da limpeza. Isso tudo tem de ser considerado. Por que voltar? Quais os interesses estão por trás da volta neste momento?”, questiona a doutora em Fundamentos da Educação.

Heulália complementa que se os pais estão divididos, é preciso discutir, de forma franca, o motivo da retomada. “O que importa são as crianças e sua educação ou é o interesse privado, que a gente sabe que precisa justificar a cobrança das mensalidades. Por que volta a privada e não volta a escola pública?.”

Mestre em Educação e Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), Maria Júlia Azevedo ressalta que a situação é dilemática. “Nossa cultura em relação à educação básica é atividade presencial. A interlocução e presença do professor e do conjunto dos estudantes, ou seja, a ideia de interlocução entre os pares, é de que isso é imprescindível para o aprendizado das gerações.” Com a inversão para o digital, Maria Júlia diz que há um ataque à cultura contra aquilo que é tido como válido e efetivo.

A gerente de Implementação de projetos no Instituto Unibanco sugere à Secretaria da Educação do Ceará (Seduc) a construção contínua de um espaço de diálogo para que os pontos de vista gerem um consenso sobre o que é preciso para que o retorno do ensino presencial ocorra. Neste ambiente, para além dos profissionais da educação, Maria Julia indica a necessidade da presença de pais e alunos.

MEC não assumiu responsabilidades durante pandemia, afirmam especialistas

A Diretora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Heulália Charalo Rafante, e a gerente de implementação de projetos no Instituto Unibanco, Maria Júlia Azevedo, teceram ainda críticas ao Ministério da Educação (MEC).

Infectado pela Covid-19, o ministro Milton Ribeiro, recém-empossado como titular da Pasta, está afastado das obrigados para recuperação da doença. No entanto, os problemas e as polêmicas envolvendo o órgão máximo da educação no País seguem. Desta vez, o problema apontado pelas especialistas trata sobre a falta de articulação do órgão junto aos estados e municípios para enfrentar a pandemia do novo coronavírus no ensino.

“Nós não podemos deixar de fazer a crítica ao Governo Federal, que trabalha num aspecto meritocrático e descaso total com a educação. A manutenção do Enem é mais um reflexo no que se refere à meritocracia. Até uma propaganda do Governo Federal, onde o Ministério dizia que cada um nas suas condições consigam estudar nesse cenário”, crítica Heulália. Para ela, as atitudes do MEC ampliam o abismo das desigualdades no processo de aprendizado na educação do Brasil.

Maria Júlia diz que é preciso abrir maior diálogo com os estudantes do 3º ano do Ensino Médio para encontrar as melhores saídas. “A gente tem uma descoordenação a partir da atuação do MEC que não assumiu suas responsabilidades. Não assumiu seu papel de coordenação por ausência ou descaso. Por tanto, cada um dos estados e dos municípios tiveram de ir fazendo suas soluções. Esse apoio que era super necessário, neste momento, todos os sinais é de que não acontecerá.”

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