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Quase 12 mil crianças e adolescentes podem abandonar de vez a escola no Ceará

Outras 49,7 mil crianças e adolescentes abandonaram ou nunca foram à escola, conforme levantamento do Unicef
10:39 | Jul. 09, 2020
Autor Ítalo Cosme
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Ítalo Cosme Repórter
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Tipo Notícia

Atualizado às 13h10

Com a suspensão das aulas presenciais há quase quatro meses devido à pandemia do novo coronavírus, 11.771 crianças e adolescentes têm maior risco de abandonar a escola no Ceará durante as aulas remotas ou após o período pandêmico. O dado é do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e abrange 176 municípios. Fortaleza não está nesse monitoramento. Esses alunos mais vulneráveis nunca estiveram ou estavam afastados das classes desde 2017, mas foram reinseridos em 2020 no ensino público.

Chefe do Escritório do Unicef em Fortaleza, Rui Aguiar alerta que a quantidade pode ser ainda maior. Segundo ele, o grupo tem mais riscos porque precisou de uma força tarefa para resgatá-los nas comunidades onde estavam reclusos. Isso foi possível graças ao Programa Busca Ativa Escolar, feito em parceria com as cidades monitoradas.

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Rui destaca que o resgate desses alunos não depende do retorno às aulas. É preciso ser feito agora. Para ele, é muito importante que essas crianças sejam localizadas e estimuladas a voltar tão logo os encontros presenciais sejam autorizados. O distanciamento pode empurrá-los de volta ao trabalho infantil ou às ruas da cidade onde vivem. Além disso, o chefe da Unicef em Fortaleza frisa que os infantis têm dificuldade de leitura e escrita, que se agravam no contexto das atividades a distância.

“Se tiverem de distribuir pacote de dados de internet para alguém, essas quase 12 mil crianças seriam grupo prioritário, se precisarem ampliar mais algum benefício, esse número ajuda as políticas públicas a reduzirem os danos da Covid-19 na educação”, sugere. A entidade considera que a escola a ser encontrada pelo alunado não será diferente no pós-pandemia, “pois mudanças em educação demandam tempo e investimentos em recursos humanos, materiais e infrastructura".

“Certamente esperamos que pelo menos as condições de inclusão sejam rapidamente oferecidas às crianças e suas famílias para que os prejuízos da pandemia sobre a educação sejam reduzidos e compensados com alternativas concretas de aprendizagem.”

Por outro lado, um grupo 49.759 crianças e adolescentes, fora dos colégios desde 2017, preocupa aos gestores. Rui frisa que esses estão em situação de desproporção. “Não estão protegidas pelos programas sociais, como Bolsa Família, pela própria vantagem de estar numa escola, como ter convivência com os amigos, o acesso a merenda e prevenção ao trabalho infantil.” O representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância, em Fortaleza. aponta que durante a busca ativa pelos alunos que se afastaram da escola durante a pandemia, esse contingente de quase 50 mil deve ser considerado também.

Nesta quarta-feira, 8, a Secretaria de Educação do Ceará (Seduc) apresentou ao Conselho Consultivo, formado por 16 entidades representativas, diretrizes pedagógicas, estruturais e sanitárias a serem observadas nos municípios cearenses no retorno. O material é construído em parceria com a União Nacional do Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e serve como guia às cidades na retomada das aulas presenciais. Entre os tópicos apresentados pela secretária Eliana Estrela está a necessidade de busca ativa dos estudantes que se afastaram do convívio remoto escolar e diagnóstico das razões pelas quais isso ocorreu.

Flávio Corte, promotor de Justiça e coordenador auxiliar do Centro de Apoio Operacional da Infância, Juventude e Educação (Caopije), afirma que todos os atores, não só o Poder Público, mas famílias e toda a rede de proteção à criança e adolescente vão traçar estratégias para reduzir essa evasão. Com a busca ativa, saber quais são estudantes que deixaram de frequentar, descobrí-los e resgatá-los, como já é feito e envolver várias instituições.

“Por último, o judiciário atuará quando houver a necessidade de ações de judicialização”, frisa. Para ele, as aulas remotas não são importantes “nem (tanto) pelo conteúdo que repassam, mas pelo vínculo mantido entre escolas e famílias”.

Em nota, a Seduc lembrou que o processo de retomada das aulas presenciais na rede pública estadual de ensino é elaborado de forma coletiva com ampla participação da sociedade. Conforme a Pasta, é considerado todas as possibilidades viáveis para evitar prejuízos ao processo de aprendizagem dos estudantes.

“A verificação da frequência e da aprendizagem está sendo realizada por cada escola, considerando o Plano de Estudo Domiciliar. A Seduc está em processo de consolidação dos dados de participação. Ainda não é possível divulgar”, informou sobre as estimativas da evasão escolar durante e pós-pandemia.

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