Escultura de Sérvulo Esmeraldo é prejudicada pelas obras da praça Prisco Bezerra

A escultura “Quadrados”, do artista Sérvulo Esmeraldo, na entrada do Campus do Pici da Universidade Federal do Ceará (UFC), chamaria mais atenção de quem passa na avenida Humberto Monte se pudesse ser apreciada em sua totalidade. Com as obras de construção da praça Prisco Bezerra, o monumento, que já tinha a visibilidade prejudicada devido aos dois abrigos de ônibus localizados a sua frente, ficou ainda mais encoberto. Além disso, o processo de restauro da obra começou sem a consulta prévia do Instituto Sérvulo Esmeraldo, responsável pela preservação das obras do artista.

Para Dodora Guimarães, curadora e presidente do Instituto, foi uma surpresa chegar ao local na manhã da última quarta-feira, 23, e constatar que a restauração da escultura havia começado com a pintura e a raspagem da ferrugem. “Pintaram a base de azul, isso atrapalha a escultura. Era uma base de cimento, então não tinha isso. A escultura não pode ser confundida com um mobiliário. O monumento tem um autor. O autor não está mais aqui, mas tem quem defenda ele”, ressalta a viúva do artista.

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A escultura em aço pintado formada por cinco quadrados paralelos no formato de losango foi instalada em 1987 e possui quatro metros de altura. O monumento foi feito a pedido da própria universidade. Segundo Dodora, o conceito da obra foi pensado cuidadosamente durante dois anos por Sérvulo, levando em conta toda a vegetação do entorno da escultura, que funcionaria como “enquadramento para as árvores”. Ela alerta que qualquer intervenção mal executada, sem o uso de materiais específicos, pode causar danos irreversíveis à obra.

Funcionários da Construtora Cetro, contratada pela Prefeitura para a execução da obra, relatam que os materiais enviados pela empresa para o restauro chegaram ainda na terça-feira, 22, e a orientação recebida é a de que seja realizada a raspagem, a solda e a pintura de todo o monumento. Os abrigos de ônibus instalados no local sofreram reforma recente, passando a ser maiores e mais reforçados com concreto. Por isso, agora encobrem ainda mais a escultura.

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O projeto da praça foi desenvolvido pela Secretaria Municipal da Infraestrutura (Seinf), que também está executando a obra. Porém, a demanda partiu da Coordenadoria Especial de Articulação das Secretarias Regionais (Coareg), que acompanha as obras de praças na Cidade. Em nota, a Coareg afirma apenas que o terreno e a obra de Sérvulo Esmeraldo “são pertencentes à universidade” e questões que envolvam o monumento “devem ser resolvidas entre a universidade e a curadoria da obra artística”.

Entretanto, a Divisão de Patrimônio da UFC afirma que o monumento não consta no patrimônio da universidade. “O que é patrimônio da UFC tem uma placa, tem um número patrimonial e um código de barras”, explica o professor Ademar Gondim, titular da Superintendência de Infraestrutura e Gestão Ambiental da universidade. Ele esclarece também que os dois abrigos da avenida Humberto Monte foram instalados pela Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) há mais de dez anos e quaisquer mudanças referentes ao projeto da praça são por conta da Prefeitura de Fortaleza.

Praça Prisco Bezerra

As obras foram iniciadas em agosto deste ano, atendendo uma solicitação da UFC em alusão às comemorações do centenário da Faculdade de Agronomia. A intervenção contempla troca de piso e iluminação, instalação de recursos de acessibilidade, mobiliários urbanos e academia ao ar livre, assim como novo paisagismo, além da construção de espaço para leitura. A previsão de entrega da praça é dezembro de 2019.

 Sérvulo Esmeraldo (1929 -2017)

Escultor, gravador, ilustrador e pintor, Sérvulo Esmeraldo é natural de Crato, no Ceará. No início de sua carreira artística, dedicou-se à xilogravura e, a partir de 1947, frequentou a Sociedade Cearense de Artes Plásticas (Scap). Chegou a residir em São Paulo, onde foi gravador e ilustrador no Correio Paulistano. Em 1956, fundou o Museu de Gravura em sua cidade natal. Sérvulo viajou para a Europa com bolsa do governo francês e em Paris estudou litografia na Escola Nacional Superior de Belas Artes. Em meados dos anos 1960, integrou o movimento da arte cinética, realizando as obras “Excitáveis”, quadros e objetos movidos pela eletricidade estática. Retorna ao Brasil em 1978, passando a morar em Fortaleza e dedicando-se à arte pública. O cearense é reconhecido pelas linhas regulares de aço, com as quais desenha formas geométricas tridimensionais no espaço.

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