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Espécie inédita de orquídea no Ceará tem primeiro registro na Serra de Uruburetama

Presente em outros estados do país como Pernambuco, Amazonas e Bahia, é a primeira vez que a espécie Trigonidium Acuminatum é registrada no Ceará. Ainda sem nome popular no Estado, ela é uma das mais de 60 espécies de orquídeas da Serra de Uruburetama já ameaçadas de extinção
14:52 | Set. 12, 2019
Autor O POVO
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Tipo Notícia

Era difícil acreditar que uma orquídea da espécie Trigonidium Acuminatum pudesse ser encontrada no estado do Ceará. Isso porque poucas regiões do estado oferecem condições adequadas para o surgimento da planta. Mas, foi em uma expedição pela Serra de Uruburetama que pesquisadores, naturalistas e fotógrafos registraram, pela primeira vez, a presença da espécie em solo cearense. "Não é que ela seja rara, ela ocorre em outros estados. Para essa região é um registro interessante, porque não tinha nenhuma ideia que ela ocorresse por aqui", reforça o pesquisador e naturalista presente na expedição, Roberto Otoch.

Ainda sem nome popular no estado, uma das hipóteses para justificar sua permanência na serra é o pouco interesse humano pela espécie, já que ela não apresenta características comuns a outras plantas da família. "O pessoal nem pensa que ela é orquídea. Na Serra de Uruburetama chamavam ela de parasita. Mas, não tem nada a ver. Ela não é uma planta parasita. Orquídea nenhuma é parasita", alerta Otoch. 

Pequena e delicada, o nome Trigonidium faz referência à posição das suas pétalas, que acabam por formar um triângulo. Algumas delas podem ser bastante perfumadas e são de fácil cultivo em regiões que a favorecem. Ainda assim, ela não é uma espécie que interessa aos orquidários, segundo o pesquisador. "A importância dela é mais pelo registro da espécie. Ela não é uma orquídea que chama atenção e nem é despertada pelos traficantes, porque ela não tem beleza. As flores são muito pequenininhas", conta Otoch. 

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Roberto também faz parte da Associação dos Orquidófilos do Ceará. A equipe está catalogando a fauna e a flora do estado do estado. "A gente já tem um estudo bem extenso e completo. Isso vai para o catálogo de dados", explica. Somente Uruburetama, por exemplo, abriga entre 60 e 65 espécies de orquídeas das 105 já registradas em todo o Ceará.

Roberto Otoch e a Trigonidium acuminatum na expedição de agosto de 2019
Roberto Otoch e a Trigonidium acuminatum na expedição de agosto de 2019 (Foto: Kairo Mendes de Castro)

A Serra de Uruburetama, assim como outras serras do estado (Baturité, Ibiapaba, Maranguape, Aratanha), têm uma importância evolutiva enorme, conforme Roberto. "São testemunhas de que um dia e Amazônia chegou aqui, a floresta do Brasil central e a Mata Atlântica. Porque nessas nossas florestas, está tudo misturado". Em termos de evolução de espécie, a Serra de Uruburetama é uma das mais importantes para o Estado. 

Mesmo assim, a região conhecida como "Mãe da Rainha das Orquídeas", não possui nenhuma Área de Proteção Ambiental (APA). Os pesquisadores e moradores da região vêm, há algum tempo, solicitando esse reforço para a serra. Em 2018, a secretaria do Meio Ambiente do Estado do Ceará havia demonstrado interesse em construir uma APA na serra, mas o projeto ainda não saiu do papel.

Conforme o naturalista Roberto Otoch, um dos principais fatores que ameaçam a vegetação da Serra de Uruburetama é o cultivo desenfreado de bananas. "Uruburetama foi massacrada por uma ação de falta de planejamento de culturas não apropriadas. Tomaram a serra toda de bananeira e os fragmentos florestais restantes são tão pequenos que não estão garantindo a sobrevivência da fauna. A flora também já está sofrendo muito, porque fauna e flora andam juntas", argumenta. 

A serra também abriga uma das principais espécies de orquídeas, a Cattleya labiata, que faz a região ser conhecida internacionalmente. Ao O POVO Online, Otoch comentou se surpreender ao ainda encontrar variadas espécies na serra que já perdeu 80% da sua cobertura florestal original devido à exploração desordenada do cultivo de bananas. "Lá a situação é séria. É muito mais grave do que se imagina.", finaliza. Para o pesquisador, registrar uma nova espécie nesse local em que a vegetação sobrevive a "duras penas", como ele mesmo coloca, é de extrema importância para o Ceará. 

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