Por que há tantos pombos nas cidades brasileiras?
Aves trazidas pelos portugueses, os pombos se adaptaram ao ambiente urbano e hoje dividem espaço entre a simbologia cultural e os desafios sanitários
Basta caminhar por ruas, praças ou avenidas para notar a presença constante dos pombos. Em telhados, fios elétricos ou disputando restos de comida, eles já fazem parte da paisagem urbana brasileira. Mas, apesar da familiaridade, essas aves não são nativas do Brasil.
Leia também | Ceará tem 88% dos domicílios abastecidos diariamente por rede geral de água em 2024
Os pombos chegaram ao Brasil com a vinda da Família Real Portuguesa, no século XVI, durante o período colonial. Inspirados nos costumes europeus, os colonizadores introduziram a espécie para “embelezar” as cidades e aproximar o cenário urbano da estética europeia.
Conforme o ornitólogo Fabio Nunes, os pombos também foram introduzidos no Brasil como aves domésticas para consumo alimentar, similarmente a outras aves como galinhas-d'angola.
Com o tempo, os pombos escaparam do cativeiro e encontraram nos ambientes urbanos condições ideais de sobrevivência: abundância de alimento e ausência de predadores naturais. Diferente de outras espécies, os pombos se mantiveram próximos às áreas habitadas por humanos, o que explica sua grande concentração nas cidades até hoje.
Então, de onde vieram os pombos que hoje vivem no Brasil?
Segundo Fabio Nunes, os pombos comuns (Columba livia domestica) são consideradas uma ave domesticada descendente do pombo-das-rochas (Columba livia atlantis), sendo originário da região do Mediterrâneo (Europa, Oriente Médio e norte da África).
Leia também | Alimentar animais em locais públicos pode ser perigoso
Já a domesticação se deu através do cruzamento seletivo da espécie selvagem. Além disso, existem relatos da domesticação dos pombos desde a Idade do Bronze, no Oriente Médio e Egito antigo.
Pombos se adaptaram bem ao ambiente urbano brasileiro
Estima-se que milhões de pombos habitem cidades brasileiras. O ornitólogo Fabio Nunes esclarece que essa adaptação se deu principalmente porque as demais estruturas urbanas reproduzem, em certa medida, os ambientes rochosos de onde a espécie se originou, como penhascos e falésias, dessa forma oferecendo ótimos locais para construir ninhos.
Além disso, os pombos contam com abundância de alimento proveniente de restos humanos, grãos e até da oferta intencional de milho e outros insumos em praças e espaços públicos nas cidades brasileiras.
“A ausência de predadores naturais nas áreas urbanas, somada à elevada eficiência reprodutiva, podendo alcançar até seis ninhadas por ano, com um a dois ovos cada, e filhotes que recebem cuidado parental até quase a fase adulta, garante às populações urbanas de pombos um sucesso reprodutivo e uma expansão populacional constantes”, informou o profissional.
Pombos: práticas de columbofilia
O pombo-correio, foi usado durante séculos como meio de comunicação, devido à sua habilidade de retornar ao local de origem mesmo a longas distâncias. Esse hábito deu origem à columbofilia, prática esportiva dedicada à criação e ao treinamento de pombos-correio.
Os pombos foram utilizados para realizar essa prática especialmente para fins militares, como durante a Guerra do Paraguai, que aconteceu na década de 1860 e regulamentados pelo Ministério da Guerra.
Além disso, na cultura e esporte, os pombos foram criados como "atletas do ar" em competições de voo, organizadas por federações columbófilas.
“Essas aves possuem uma impressionante evolução adaptativa evidenciando uma inteligência notável, que inclui o reconhecimento de rostos humanos e sofisticadas habilidades de navegação baseadas nos campos magnéticos da Terra”, ressaltou Fabio Nunes.
Pombo: de símbolo de paz a problema sanitário
Culturalmente, a pomba é um símbolo carregado de significados. Na tradição bíblica, aparece em dois momentos marcantes: no Gênesis, quando Noé envia a ave para buscar terra firme após o dilúvio, e no Novo Testamento, quando o Espírito Santo se manifesta em forma de pomba durante o batismo de Jesus. Nessas passagens, a ave representa esperança, paz e renovação.
Atualmente, a superpopulação dessas aves em áreas urbanas trazem preocupações. “Hoje, os pombos são vistos como problemas, considerados pragas urbanas, ou por causarem danos estruturais, como a corrosão de edificações pelas fezes ácidas, entupimento de calhas e transmissão de doenças, e por isso também são chamados frequentemente de chamados pejorativamente de 'ratos de asas'”, destacou Fabio Nunes.
Em diversas cidades brasileiras, os pombos competem por alimento com espécies nativas e podem transmitir doenças infecciosas ao ser humano, como criptococose e histoplasmose. Por isso, a presença descontrolada dessas aves passou a ser considerada também um problema ambiental e de saúde pública.
Os pombos são protegidos pela Lei de Crimes Ambientais
Os pombos são legalmente protegidos pela Lei de Crimes Ambientais (n° 9.605/98), que proíbe maus-tratos. “As formas de controle mais recomendadas privilegiam métodos éticos e não letais, como a instalação de barreiras físicas, o uso de repelentes eletromagnéticos, a exemplo do sistema Pigeons Out, e campanhas de conscientização para evitar sua alimentação”, finalizou Fabio Nunes.