Polícia prende homem acusado de liderar ataque a assentamento do MST

De acordo com a Polícia Civil, o responsável por chefiar o ataque contra os assentados em Tremembé-SP foi preso após o reconhecimento das vítimas e confessou o crime. Os demais envolvidos ainda são procurados

A Polícia Civil comunicou que prendeu, nesse sábado, 11, o homem acusado de comandar o ataque ao assentamento, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Tremembé, no interior de São Paulo. O crime que aconteceu na noite da sexta-feira passada, 10, contra a comunidade Olga Benário deixou três mortos por tiros e pelo menos seis feridos após serem baleados.

De acordo com o portal g1 Vale do Paraíba e Região, delegado seccional de Taubaté, Marcos Ricardo Parra informou em entrevista coletiva que durante o atentado os criminosos não cobriram o rosto, por isso foi possível encontrar o homem de 41 anos apontado como líder do ataque.

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A partir disso, o suspeito foi identificado pelas vítimas que estão hospitalizadas e por testemunhas que presenciaram o crime. O homem já era conhecido no assentamento Olga Benário.

Ele confessou o crime. Não só confessou, como ele está indicando onde podem ser encontradas as demais pessoas (que participaram do ataque). Além de confessar o crime, ele foi reconhecido por algumas das vítimas e testemunhas. A gente trabalha na condição de certeza da participação dele”, informou o delegado seccional Marcos Ricardo Parra.

Marcos disse que a motivação do ataque ainda está sendo investigada, mas está relacionada com uma disputa por um lote do assentamento. Porém o delegado explicou que ainda não foi esclarecido se o homem preso queria obter o terreno ou se negociava para um terceiro, mas que a agressão começou em razão do conflito por um lote.

“A motivação foi o problema interno de pessoas do próprio assentamento, entre elas, ou seja, sem nenhuma conotação com invasão ou proteção de terra. Foi uma cobrança de posição em relação à permissão de negociar o terreno ou não. A gente não conseguiu, até agora, entender se ele era o adquirente ou se ele era o intermediário. Seja como for, ele estava lá para modificar o pensamento dos demais”, disse o delegado.

Segundo Marcos, o homem foi detido e na delegacia confessou que participou do ataque na comunidade. No momento, a Polícia procura os outros que também participaram do crime.

Na tentativa de identificar as digitais dos criminosos, a Polícia apreendeu armas brancas (como foices e facas), armas de fogo e um carro, que passarão pela perícia.

“O homem e seu grupo estariam lá para, num primeiro momento, intimidar, mas, como não intimidou e aconteceu, na verdade, uma repulsa da presença deles lá, aí se tem o nascimento de um confronto envolvendo arma branca e arma de fogo, que levou a esse resultado trágico de várias mortes e várias pessoas lesionadas”, comunicou Marcos.

Porém, não há uma estimativa da quantidade de pessoas que cometeram a agressão contra o assentamento. A Polícia Militar (PM) comunicou que reforçou o policiamento na área da comunidade Olga Benário.

Inquérito da Polícia Federal

O Ministério da Justiça e Segurança Pública determinou, neste sábado, 11, que a Polícia Federal (PF) instaurasse um inquérito para apurar o ataque ao assentamento Olga Benário, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Além disso, o Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que uma equipe da PF, com agentes, perito e papiloscopista, já está se deslocando para Tremembé.

No ofício encaminhado à Andrei Passos, diretor-geral da corporação, o ministro substituto Manoel Carlos de Almeida Neto, reiterou a informação do crime.

Na qual dizia que por volta das 23 h da última sexta, 10, “criminosos” armados invadiram o assentamento e dispararam contra “famílias de agricultores” que moram no assentamento devidamente regularizado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

“Ante o exposto, determino à Polícia Federal que proceda abertura de investigação criminal para apuração dos fatos narrados”, reforçou o ministro.

De acordo com o MST, os agressores, ainda não identificados, usavam “vários carros e motos”, chegaram atirando quando a maioria dos assentados dormia, entre eles crianças e idosos.

Em meio à confusão, entre os assentados baleados, que não resistiram, estava Valdir do Nascimento, o Valdirzão, de 52 anos, uma das lideranças do assentamento.

Consultada pela Agência Brasil, a secretaria estadual de Saúde confirmou que ao menos seis feridos foram atendidos em unidades públicas de saúde da região, entre elas o Hospital Regional do Vale do Paraíba - Sociedade Beneficente São Camilo, de Taubaté.

Porém acrescentou que, por se tratar de uma ocorrência policial e também por não ter autorização das vítimas ou de seus parentes, não está autorizada a fornecer detalhes sobre o estado de saúde dos pacientes que seguem internados.

De acordo com dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, entre os anos de 2020 e 2024, foram registradas 2.332 denúncias de violações motivadas por questões relacionadas a conflitos agrários, crimes ambientais e/ou à atuação de comunicadores e defensores dos direitos humanos, o que corresponde a mais de uma denúncia por dia.

Explicação do MST

Em um vídeo publicado nas redes sociais, Gilmar Mauro, da Direção Nacional do MST, ressalta que “a regional do Vale do Paraíba possui muitos assentamentos próximos às zonas urbanas, fator tem despertado o interesse do capital imobiliário local, que, após invadir áreas de reservas florestais, agora avança sobre os lotes dos assentamentos com o objetivo de transformá-los em condomínios”.

“As famílias, ao se mobilizarem para proteger suas áreas, enfrentaram uma abordagem extremamente violenta, marcada por um grande arsenal armamentista”, escreveu o MTS.

Assista ao vídeo

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