Faculdade de medicina da USP forma médicas travestis pela 1ª vez na história

Stella Guilhermina Branco Fontanetti e Louise Rodrigues e Silva contaram sobre o sonho de impactar as vidas das pessoas lá fora por meio da profissão

Uma das universidades públicas mais disputadas, a Universidade de São Paulo (USP) formou pela primeira vez, em 71 anos, alunas travestis. Stella Branco e Louise Rodrigues finalizaram recentemente o curso de Medicina em meio a uma trajetória de resistência e luta durante a graduação.

“A gente tem as duas primeiras médicas trans formadas pela instituição. Eu sou a primeira médica trans e negra a ser formada pela instituição. Então, acho que sirvo de inspiração no sentido de que isso é um marco em torno do quebrar a regra, quebrar a norma, quebrar o que é comum, o que é rotineiro”, contou Louise, que saiu de Minas Gerais para cursar medicina na USP, em entrevista ao g1 São Paulo.

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Stella confessa que a universidade foi um espaço que a acolheu e a ajudou a se reconhecer como realmente era.“Foi durante a faculdade que eu consegui me entender uma pessoa trans. Eu consegui encontrar várias pessoas trans também e daí foi cada vez mais fazendo sentido. Em 2018, eu decidi que eu ia me apropriar desse termo. Eu falei: ‘Eu sou uma pessoa trans’.”, completou.

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Sonho e carreira

A chance de aprovação em um dos vestibulares mais disputados do País, como o da USP, emergiu como uma maneira segura de conquistar aceitação da família e da sociedade, tanto para Stella quanto para Louise. 

“Muitas vezes nós somos expulsas de casa com 14, 15 anos de idade, quando a gente se descobre e isso faz com que a prostituição seja o único caminho. Mas é por isso que eu acho que é uma via de mão dupla, porque à medida que estamos conquistando outros lugares, estamos conseguindo romper com certas coisas e fazendo com que as famílias consigam aceitar melhor, fazendo com que os ciclos de violência sejam rompidos", afirmou Stella durante a entrevista.

Ambas confessam não apenas dividir a experiência de transição ao longo dos oito anos passados nos corredores universitários, mas também compartilham o desejo de influenciar positivamente as vidas das pessoas lá fora por meio de suas carreiras médicas.


Violência e transfobia na universidade

Um mês antes de se formarem, as duas estudantes registraram um Boletim de Ocorrência contra um professor por transfobia. As ameaças e ofensas proferidas pelo docente ocorreram após a faculdade implantar o uso livre dos banheiros de acordo com o gênero com o qual a pessoa se identifica.

“Se os professores da universidade, que são as pessoas estudadas, têm contato com o dito conhecimento, não vão conseguir me respeitar, quiçá os pacientes que vêm de uma realidade muito mais humilde. Mas eram os pacientes que me respeitavam, e a grande maioria dos professores me desrespeitava”, afirma Louise.

Na prática, aqueles que forem responsáveis por ações desse tipo não terão o direito à fiança, e não haverá um limite de tempo específico para responder judicialmente. A penalidade estabelecida é de dois a cinco anos de prisão.

Por telefone, o professor Jyrson Guilherme Klamt afirmou à EPTV, afiliada da TV Globo, que não teve a intenção de constranger as alunas e que jamais realizou qualquer ato transfóbico.

 

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