Comunidade congolesa e família de homem morto espancado denunciam racismo estrutural e xenofobia

Moise foi encontrado morto na segunda-feira passada, 24, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. De acordo com familiares, ele foi cobrar salário atrasado de um quiosque onde trabalhava

Após o brutal assassinato do congolês Moise Mugenyi Kabagambe, de 24 anos, ganhar repercussão nacional, a comunidade congolesa no Brasil compartilhou uma carta de repúdio na qual pede justiça. No documento, há a denúncia de que Kabagambe foi vítima de um crime que demonstra o racismo estrutural e a xenofobia do País. A nota ainda acusa cinco pessoas, entre elas o gerente do quiosque onde o jovem trabalhava.

"Esse ato brutal não somente manifesta o racismo estrutural da sociedade brasileira, mas claramente demonstra a xenofobia dentro das suas formas contra os estrangeiros. Por isso exigimos a justiça para Moise e que os autores do crime junto ao dono do estabelecimento respondam na justiça! Combater com firmeza e vencer o racismo, a xenofobia, é uma condição para que o Brasil se torne uma nação justa e democrática", dizia a carta.

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O caso é investigado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro. Moise foi encontrado morto na segunda-feira passada, 24, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. O motivo do crime, de acordo com a família do rapaz, teria sido a cobrança de salários atrasados ao gerente do quiosque em que trabalhava como ajudante de cozinha. Por isso, foi espancado até a morte por cinco pessoas. Câmeras flagraram o espancamento e testemunhas disseram que os bandidos usavam pedaços de pau e um taco de baseball.

A mãe do jovem,  Ivana Lay,  falou em prantos à TV Globo sobre o assassinato do filho: “Meu filho cresceu aqui, estudou aqui. Todos os amigos dele são brasileiros. Mas hoje é uma vergonha. Mataram ele. Quero só justiça. Amarraram ele junto com as pernas e mãos. A polícia chegou depois de 20 ou 40 minutos”, contou.

No sábado, 29, durante um protesto em frente ao quiosque onde o rapaz trabalhava, o primo de Moise questionou os motivos do crime: "Uma pessoa de outro país que veio para cá para ser acolhido e vocês matam ele porque pediu o salário? Porque ele falou que estão devendo?", indagou.

História de Moise

 

Em depoimento para o Jornal O Globo, Ivana Lay contou um pouco da história do filho: "O Moise chegou aqui com 11 anos, em 15 de fevereiro de 2011. Ele veio primeiro. Nesses anos todos, o meu filho virou um brasileiro. Tudo dele era do Brasil. Ele sabia como trabalhar no Brasil, fez muitos amigos", disse.

Ela conta que sempre achou os brasileiros pessoas receptivas e do bem. Mas que agora não sabe o que pensar do País. Ivana descreve Moise como um rapaz trabalhador e muito honesto, o qual sempre chegava com parte do salário e entregava em suas mãos para ajudar a pagar o aluguel. E reclamava, dizendo que ganhava menos que os colegas.

"Moise trabalhou nessa barraca antes da pandemia e durante a pandemia. Conhecia todos lá do local. Eles conheciam o meu filho e tiraram a vida dele. Se houve algum problema, eles não poderiam matá-lo", questionou ao O Globo.

Ivana clama por justiça e a ressalta importância de se punir os culpados, para que crimes brutais como o de Moise não aconteçam mais. "Queremos processá-los para que isso não aconteça com outra pessoa. Eles não tinham o direito de fazer isso com o meu filho. Espero que esse caso não caia no esquecimento, como tudo cai", falou ao Globo. 

 

 

Atualizada às 12h10

 

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