Entenda o que aconteceu com a situação do tempo e enchentes na Bahia

Com 10 mortes, a cidades localizadas ao sul e extremo sul da Bahia se recuperam dos quatro dias de chuvas, responsáveis por deixar mais de 5.600 pessoas foram desalojadas de suas casas

Mais de 5.600 pessoas foram desalojadas de suas casas e cerca de 50 municípios estavam em situação de emergência por causa das intensas chuvas e inundações em alguns municípios da Bahia, até domingo, 12. Além disso, subiu para dez o número de mortos em decorrência das fortes chuvas que atingem o interior do Estado, informou o boletim mais recente da Sudec (Defesa Civil do Estado da Bahia), divulgado nesta segunda-feira, 13.

No total, 200.297 pessoas foram afetadas pelos temporais de alguma forma, incluindo 6.371 que estão desabrigadas e outras 15.199 que foram desalojadas. Entre os municípios mais afetados estão Anagé, Camacan, Canavieiras, Guaratinga, Ibicuí, Itabela, Itacaré, Itamaraju, entre outros. Além da Bahia, cidades no estado de Minas Gerais e Rio de Janeiro também sofreram com as chuvas torrenciais. Os estados citados enfrentam consequências das fortes chuvas e a falta de planejamento em escoamento.

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Na Bahia, com a redução das águas, o governador Rui Costa (PT), fala em recuperar as cidades afetadas e em reconstruir as moradias perdidas, inclusive em localidades mais altas: "fora dos alcances da água dos rios", comentou em suas redes sociais.

Por que da chuva?

O chefe da previsão do tempo do Instituto Nacional de Meteorologia, Francisco de Assis, explica que há um fenômeno que atua na estação de verão, no Brasil, chamado de Zona de convergência do Atlântico Sul: “Quando está mais em atuação, geralmente esse fenômeno pega mais Centro-sul do Brasil e da região Sudeste. Hoje em dia, ela está pegando mais entre Minas Gerais e a Bahia. Quando isso acontece, ela causa condições como chuvas intensas nessas regiões”.

Foi o que houve no território do sul e extremo sul da Bahia, e no norte e nordeste de Minas Gerais, durante os quatro últimos dias de chuvas intensas na região. Essas chuvas superaram a previsão de climatologia esperada para o mês de dezembro.

“Todo ano esses eventos acontecem. É comum ter chuvas em determinadas regiões do País por causa desses fenômenos, principalmente em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo. Porém, no caso de chuvas mais intensas, como ocorreu no sudeste da Bahia, já fica fora do normal. Em 4 dias choveu o dobro da climatologia esperada”.

Ele relata que em anos do fenômeno La Ninã, as áreas de frentes frias passam mais rápido nas regiões Sul do País, e causam dias de chuvas. “Então essa frente fria fica estacionária entre Centro, Sudeste e a parte Norte do Brasil. Essa característica é associada diretamente ao fenômeno citado”.

A La Ninã ocorre no Oceano Pacífico Equatorial quando a temperatura das águas superficiais das regiões equatoriais estão mais baixas, ou seja, as águas estão mais frias que o normal. O fenômeno La Niña caracteriza-se pela intensificação dos ventos alísios, que sopram na faixa equatorial de leste para oeste.

Com a intensificação dos ventos, uma quantidade maior que o normal de águas quentes se acumula no Pacífico Equatorial Oeste, enquanto no Pacífico Leste, próximo ao Peru e Equador, verifica-se a presença de águas mais frias, causando aumento no desnível entre o Pacífico Ocidental e Oriental.

Esse fenômeno é, inclusive, responsável por contribuir para o aumento ou diminuição das temporadas de furacões no Hemisfério Norte. O que pode ocasionar uma maior atividade de conversão no Atlântico Norte, impactando o regime de chuvas, no final da temporada de furacões e na intensidade do inverno boreal que se aproxima nos Estados Unidos.

Para onde a água escorre?

Existem algumas possíveis razões, além da própria chuva, para explicar essas enchentes, conta o professor Cleiton Silveira, físico e doutor em engenharia e recursos hídricos. O professor informa que principalmente a falta de permeabilidade do solo transforma a chuva em escoamento superficial.

"É comum em regiões urbanas a substituição do solo por concreto e asfalto. Isso faz com o fluxo do escoamento seja parcialmente modificado. Esses eventos extremos provocam maior escoamento, e consequentemente maior possibilidade de zonas alagadas", conclui o físico.

Outra possibilidade é que, de fato, esses eventos estejam mais intensos, e a nossa infraestrutura hídrica esteja menos resistente. "É importante destacar que as mudanças no clima afetam os eventos médios e extremos. Essas alterações podem levar a eventos que a sociedade não está habituada. O não planejamento, considerando essa hipótese, pode fazer com que nossa infraestrutura no futuro não suporte tais eventos, levando a grande zonas alagadas e talvez secas mais intensas", comentou.

No caso do território baiano e a proposta do governador do estado, o professor acredita que a ideia de reconstruir territórios em locais mais elevados pode ser uma possibilidade, mas de custo muito elevado. "O ideal é preservar zonas verdes e usar tecnologia que permitam infiltração no solo, gerando um fluxo ou passagem de água na superfície", conclui.

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