De Dado Dolabella a Nego do Borel: por que abuso contra mulheres se repete em reality shows?

O caso mais recente aconteceu em A Fazenda, mas outros realitys já registram abusos contra mulheres

Após a formação da nova berlinda de A Fazenda, na terça-feira, 28, o cantor Nego do Borel usou as redes sociais para pedir apoio para a permanência de Dayane Mello. A ação seria considerada normal para um reality show, porém, no fim de semana Nego foi expulso do programa sob acusações dos internautas de estuprar a modelo. Assim como em seu caso, outras situações de abuso contra mulheres já foram reportadas pelo público, nem sempre com o mesmo fim. Em diferentes emissoras, ano após ano: por que a violência contra a mulher em programas de entretenimento é tão recorrente?

O cantor Nego do Borel entrou na mais recente edição do programa A Fazenda. Os holofotes vieram antes, em janeiro, quando sua ex-noiva Duda Reis o acusou de agredi-la e manter uma relação abusiva com a influenciadora. Mas o cantor não foi o único a entrar no programa com acusações recentes.

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Dado Dolabella venceu a primeira edição de A Fazenda, em 2009, seis meses após ser acusado de agredir a então namorada Luana Piovani e a camareira de uma boate do Rio de Janeiro. Pela acusação de Piovani, Dado foi condenado a dois anos e nove meses de prisão em regime aberto.

Relembre outros casos envolvendo abuso contra mulheres em realitys

Daniel Echaniz foi expulso do BBB 12 após suspeitas de estupro

O participante foi expulso após a produção analisar as imagens
O participante foi expulso após a produção analisar as imagens (Foto: Reprodução/TV Globo)

O modelo Daniel Echaniz foi expulso do BBB 12 no mesmo dia em que policiais foram à Globo para apurar denúncia de estupro de Monique Amin. Mesmo a internet não tendo tanta dimensões na época, imagens do pay-per-view que circularam mostraram que após uma festa Daniel e Monique foram para debaixo do edredom. No vídeo, Daniel faz movimentos que sugerem ato sexual entre a dupla, mas a modelo aparentava estar desacordada.

BBB 16 é marcado pela prisão de Laércio

 

O ex-BBB Laércio de Moura foi preso após sair da casa, sob acusação de fornecer bebida alcoólica e abusar de uma menina de 13 anos, em 2012. Após o fim das investigações, ele foi condenado a 12 anos de prisão por estupro de vulnerável, em 2017. As provas contra o curitibano foram encontradas em computadores, pen-drives e celulares pessoais.

Marcos e Emily: relacionamento abusivo no BBB 17

 

O caso de Marcos Harter e Emilly Araújo ganhou muita repercussão na época do programa. Os dois chegaram entre os quatro melhores colocados do reality e tinham boas chances de chegarem juntos na final.

Alguns dias antes, Marcos apresentou um comportamento agressivo, como colocar Emilly contra a parede e apontar o dedo em seu rosto enquanto gritava com a jovem. A participante chegou a reclamar de dores após Marcos ter apertado seus punhos. As ações foram consideradas como uma agressão pela produção do programa, que resolveu expulsá-lo. Ele chegou a ser indiciado por agressão após sua saída da casa.

No mesmo ano, Marcos também participou do reality 'A Fazenda', da Record TV, e foi acusado de violência psicológica por fãs de Flávia Viana. Ele não foi expulso e chegou até a segunda colocação na edição.


Vanderson é retirado do BBB 19 para prestar depoimento

Vanderson Brito, no BBB 19,  foi expulso da edição por denúncias de crimes cometidos por ele antes do confinamento
Vanderson Brito, no BBB 19, foi expulso da edição por denúncias de crimes cometidos por ele antes do confinamento (Foto: Reprodução/TV Globo )

Vanderson Brito, no BBB 19, foi expulso da edição por denúncias de crimes cometidos por ele antes do confinamento. Ele foi alvo de inquérito por agressão, assédio sexual e estupro que envolvia tanto ex-namoradas como ex-alunos.

O professor de biologia foi intimado a depor na investigação e a Globo precisou tirá-lo do reality show.

Mesma edição: dois casos

 

A 11º edição de A Fazenda, em 2019, teve dois casos duramente criticados nas redes sociais, um deles também resultou em expulsão. O ator Phellipe Haagensen foi expulso após beijar a boca de Hariany Almeida sem consentimento durante uma briga entre os dois.

A influenciadora foi até a produção e o denunciou. Após análises das imagens, a Record TV decidiu expulsar o peão do programa e um inquérito policial por importunação sexual foi aberto.

Em outro momento do jogo, Lucas Viana, vencedor da edição, foi duramente criticado nas redes sociais por assediar, segundos os internautas, Hariany, com quem mantinha um relacionamento no programa.

Imagens da transmissão mostraram o modelo beijando, tocando o corpo e tentando pegar nas partes íntimas de Hariany, mesmo após ela falar "não".

Petrix e Pyong acusados de assédios em festas

 

A hashtag “#PetrixExpulso” esteve entre os assuntos mais comentados no Twitter. O ginasta Petrix Barbosa foi acusado pelo público de assediar Bianca Andrade durante festa realizada no Big Brother Brasil 2020. Em vídeo, o participante aparece segurando os seios da blogueira, que estava visivelmente embriagada. Em outro momento, Petrix entra na sala da casa do programa e faz uma dança em cima da cabeça de Flayslane, que estava sentada no chão.

A Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, chegou a abrir um inquérito para apurar os casos de assédio. O hipnólogo Pyong Lee também virou alvo de investigação para averiguar sua conduta com as participantes Flayslane e Marcela Mc Gowan.

Ele foi acusado de apertar a bunda de Flay sem o consentimento dela, enquanto a cantora estava visivelmente bêbada. O participante chegou a tentar beijar Marcela, que o afastou várias vezes. Mesmo assim, ele insistiu. "Amanhã a gente vai conversar", disse a sister.

Realitys shows são reflexos da vida real

 

A pesquisadora em estudos de gêneros, Marina Solon, explica que a existência desses casos, e a recorrência deles, é um reflexo do que acontece fora das câmeras, na vida real. "A desigualdade entre os gêneros acaba sendo muito naturalizada. Esses programas reproduzem situações sociais. Qual a mulher que não tem história para contar de assédio ou violência? Os programas só reproduzem", afirma.

Segundo ela, as redes sociais têm sido fundamentais, especialmente nos últimos anos, para chamar atenção para esses abusos (físicos, verbais e sexuais) contra as participantes. Entretanto, as milhares de mensagens e hastags no caso dos realitys têm mais força porque acontecem em rede nacional e são televisionados.

"Lá não acontece nada que não acontece aqui fora. O impacto é perceber em um programa que deveria ser de entretenimento como a sociedade se organiza e como as mulheres estão sempre nesse polo de sempre poder ser vítima. Isso que gera a revolta", pontua ela. 

Ela lembra que a violência contra a mulher é uma dinâmica bem maior, e o número de casos segue sendo alto. As redes também têm servido para questionar sobre os acontecimentos. "As pessoas falam e ficam com  aquela sensação de multidão. O eco acaba ficando muito maior e as cobranças também. De responsabilizar, por exemplo, a Record, e cobrar uma reposta rápida", ressalta ela.

Marina, que também é doutoranda em Comunicação, ressalta que o debate sobre como prevenir e o que é violência contra a mulher propiciou que as pessoas pudessem identificar mais fácil essas situações. Isso justificaria mais casos em uma mesma edição e as respostas mais rápidas das produções. "O programa tomou uma decisão rápida, claro também pensando nos patrocinadores, mas foi o clamor popular que proporcionou uma resposta rápida, que poderia nem ter chegado", afirma. 

Esfera pública e esfera privada

 

A psicológica Vivianne Paixão ressalta ainda que os casos em realitys são a ponta de um problema maior. "Se isso aconteceu em uma esfera pública, imagina o que acontece na esfera privada. Com as câmeras para todo mundo ver, ainda há julgamentos", questiona ela. A profissional afirma que a reação dos outros participantes também diz muito sobre um reflexo social. Após a produção expulsar o cantor,  alguns peões questionaram se a modelo não teria "planejado" a situação. 

Paixão reflete ainda sobre a presença das câmeras e o ambiente dos realitys. Segundo ela, confinado, os participantes têm uma urgência maior de resolver suas pendencias e situações são criadas justamente para gerar tensão e discussões. Alguns se sentem coagidos, outros reagem de forma diferente sob a pressão. Entretanto, no caso de violência, ela acredita que ações são reflexos do mundo exterior: "O que existe é uma certeza de impunidade que norteia o comportamento dessas pessoas. No caso do Nego do Borel em específico, já existia inclusive um outro processo contra ele", pontua ela. 

"Vivemos numa estrutura que relativiza o abuso, reproduz machismo e que não está muito interessada em entender o que é e quando acontece a violência/abuso sexual ou estupro de vulnerável", acrescenta ela. A psicóloga finaliza afirmando a necessidade de mais estudos no campo para entender a fundo as dinâmicas dos realitys shows, além de uma mudança na produção dos programas e dos próprios telespectadores. "Abuso sexual não é entretenimento e as emissoras precisam ter esse posicionamento veemente. E o que a gente faz quando isso acontece na esfera privada? Com aquele amigo que se vangloria de ficar com mulher bêbada?", questiona ela. 

 

Serviço


Ação em panificadora na campanha Justiça pela Mulher
Quando: 10 de agosto
Horário: 7 horas
Onde: Empório de Fátima (Av Deputado Oswaldo Studart, 250 – Bairro de Fátima, Fortaleza)
Mais informações: (85) 3257-3000 ou (85) 3207-7000


 


Violência contra a mulher - o que é e como denunciar?


A violência doméstica e familiar constitui uma das formas de violação dos direitos humanos em todo o mundo. No Brasil, a Lei 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha, caracteriza e enquadra na lei cinco tipos de violência contra a mulher: física, psicológica, moral, sexual e patrimonial.


Entenda as violências:


Violência física: espancamento, tortura, lesões com objetos cortantes ou perfurantes ou atirar objetos, sacudir ou apertar os braços


Psicológica: ameaças, humilhação, isolamento (proibição de estudar ou falar com amigos)


Sexual: obrigar a mulher a fazer atos sexuais, forçar matrimônio, gravidez ou prostituição, estupro.


Patrimonial: deixar de pagar pensão alimentícia, controlar o dinheiro, estelionato


Moral: críticas mentirosas, expor a vida íntima, rebaixar a mulher por meio de xingamentos sobre sua índole, desvalorizar a vítima pelo seu modo de se vestir


A Lei 13.104/15 enquadrou a Lei do Feminícidio - o assassinato de mulheres apenas pelo fato dela ser uma mulher. O feminicídio é, por muitas vezes, o triste final de um ciclo de violência sofrido por uma mulher - por isso, as violências devem ser denunciadas logo quando ocorrem. A lei considera que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher.


LEIA MAIS | Veja como denunciar violência doméstica durante a pandemia


Veja como buscar ajuda:


Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180


Delegacia de Defesa da Mulher de Fortaleza (DDM-FOR)
Rua Teles de Souza, s/n - Couto Fernandes
Contatos: (85) 3108- 2950 / 3108-2952


Delegacia de Defesa da Mulher de Caucaia (DDM-C)
Rua Porcina Leite, 113 - Parque Soledade
Contato: (85) 3101-7926


Delegacia de Defesa da Mulher de Maracanaú (DDM-M)
Rua Padre José Holanda do Vale, 1961 (Altos) - Piratininga
Contato: 3371-7835


Delegacia de Defesa da Mulher de Pacatuba (DDM-PAC)
Rua Marginal Nordeste, 836 - Jereissati III
Contatos: 3384-5820 / 3384-4203


Delegacia de Defesa da Mulher do Crato (DDM-CR)
Rua Coronel Secundo, 216 - Pimenta
Contato: (88) 3102-1250


Delegacia de Defesa da Mulher de Icó (DDM-ICÓ)
Rua Padre José Alves de Macêdo, 963 - Loteamento José Barreto
Contato: (88) 3561-5551


Delegacia de Defesa da Mulher de Iguatu (DDM-I)
Rua Monsenhor Coelho, s/n - Centro
Contato: (88) 3581-9454


Delegacia de Defesa da Mulher de Juazeiro do Norte (DDM-JN)
Rua Joaquim Mansinho, s/n - Santa Teresa
Contato: (88) 3102-1102


Delegacia de Defesa da Mulher de Sobral (DDM-S)
Av. Lúcia Sabóia, 358 - Centro
Contato: (88) 3677-4282


Delegacia de Defesa da Mulher de Quixadá (DDM-Q)
Rua Jesus Maria José, 2255 - Jardim dos Monólitos
Contato: (88) 3412-8082


Casa da Mulher Brasileira


A Casa da Mulher Brasileira é referência no Ceará no apoio e assistência social, psicológica, jurídica e econômica às mulheres em situação de violência. Gerida pelo Estado, o equipamento acolhe e oferece novas perspectivas a mulheres em situação de violência por meio de suporte humanizado, com foco na capacitação profissional e no empoderamento feminino.


Telefones para informações e denúncias:


Recepção: (85) 3108.2992 / 3108.2931 – Plantão 24h
Delegacia de Defesa da Mulher: (85) 3108.2950 – Plantão 24h, sete dias por semana
Centro Estadual de Referência e Apoio à Mulher: (85) 3108.2966 - segunda a quinta, 8h às 17h
Defensoria Pública: (85) 3108.2986 / segunda a sexta, 8h às 17h
Ministério Público: (85) 3108. 2940 / 3108.2941, segunda a sexta , 8h às 16h
Juizado: (85) 3108.2971 – segunda a sexta, 8h às 17h

 

 

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