Brasil registra baixa cobertura vacinal durante pandemia

Especialistas apontam que o adiamento da vacinação pode aumentar a probabilidade de surtos e o número de indivíduos suscetíveis à graves doenças imunopreveníveis

Pela segunda vez consecutiva o Dia Nacional da Imunização, lembrado nesta quarta-feira, 9, ocorre em meio a uma pandemia, contexto sanitário que deixou ainda mais evidente a importância da vacinação no combate a doenças infecciosas. No entanto, enquanto a vacina mais evidenciada no Brasil tem sido a que atua contra a Covid-19, outros processos de imunização estão sendo adiados ou esquecidos pela população, trazendo um novo risco ao futuro: o de que doenças que já estão controladas voltem a causar surtos.

Esse alerta foi apontado em uma pesquisa feita pela empresa internacional IPSOS Mori e encomendada pela farmacêutica brasileira GSK. O estudo, realizado entre 19 de janeiro a 16 de fevereiro deste ano com 501 brasileiros, mostrou que aproximadamente 57% dos pais ou responsáveis legais do Brasil "desistiram ou adiaram algum compromisso ou consulta de saúde dos filhos durante a pandemia".

Seja assinante O POVO+

Tenha acesso a todos os conteúdos exclusivos, colunistas, acessos ilimitados e descontos em lojas, farmácias e muito mais.

Assine

O levantamento revela ainda que 50% desses pais e responsáveis faltaram ou atrasaram alguma dose do esquema vacinal contra meningite meningocócica, infecção aguda que afeta membranas do cérebro e pode ser fatal. Quando perguntado o motivo pelo qual não obedeceram ao calendário, 72% dos participantes da pesquisa responderam que teria sido por conta das medidas de restrição impostas durante a pandemia.

A baixa foi percebida também na 2ª fase da Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza 2021, encerrada nessa terça-feira, 8. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde (MS), apenas 30% do público-alvo, idosos acima de 60 anos e professores, compareceu a um posto de saúde para tomar a vacina.

LEIA MAIS |

"Houve talvez um erro de comunicação", diz Cabeto sobre termo exigido dos profissionais da educação

Gás de cozinha do Ceará é o segundo mais caro do Nordeste; Fortaleza lidera dentre as capitais

Fortaleza foi selecionada para receber recursos internacionais para vacinação contra Covid

Em alguns estados brasileiros esse problema foi evidenciado no período inicial da pandemia. No Ceará, por exemplo, a cobertura vacinal teve uma queda significativa no primeiro semestre de 2020, quando a Unidade Federativa vivenciava a primeira onda da Covid-19. À época, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) divulgou dados que mostravam uma baixa da procura por algumas das principais vacinas de rotina.

A queda da cobertura vacinal foi relacionada pela pasta a pandemia que o País começava a enfrentar no período. Isso porque alguns profissionais de saúde se afastaram do serviço por fazer parte do grupo de risco e as aulas presenciais foram suspensas nas escolas, espaço utilizado para facilitar a imunização de crianças.

Risco sanitário para o futuro

A infectologista Lessandra Michelin explica que o processo de vacinação é utilizado para controlar doenças infecciosas e imunopreveníveis, que são aquelas que podem ser evitadas por meio de imunizantes. Como exemplo de algumas dessas patologias estão sarampo, meningite, pneumonia e coqueluche, que são consideradas graves mas tiveram surtos controlados a medida em que a população passou a se vacinar.

Todo o processo de imunização, com vacinas estabelecidas por faixa-etária e grupos prioritários, é determinado no calendário vacinal disponibilizado pelo Plano Nacional de Imunização (PNI). Além disso, tanto a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) como a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) têm um calendário vacinal com recomendações. 

A interrupção desses calendários pode acarretar em sérios riscos futuros. "Com a pandemia estamos vivenciando baixas coberturas vacinais e a população volta a estar suscetível a essas doenças. Isso pode acarretar surtos nas comunidades e sequelas permanentes nas crianças", destaca Lessandra, que atua ainda como gerente médica de vacinas da farmacêutica GSK.

>>> Homicídios caem 55% em Fortaleza durante o mês de maio

No público infantil em específico, existe ainda a preocupação por parte de especialistas do retorno presencial as aulas, formato que atualmente segue retornando de forma gradual em alguns estados brasileiros. Isso porque, com pais e responsáveis adiando ou desistindo do calendário vacinal dos filhos, como apontou pesquisa, o risco de que as crianças contraiam e repassem doenças é ainda maior.

"Essas crianças estão voltando a frequentar creches e escolas, e a ter contato com outras pessoas no dia-a-dia. Com o calendário vacinal incompleto, elas têm um maior risco de contrair doenças imunopreveníveis e, por isso, lembramos aos pais a importância de manter o calendário de vacinação dos seus filhos atualizado, incluindo as doses de reforço", comenta o infectologista Emersom, que também atua na farmacêutica.

Importância da vacinação e onde se vacinar

Para cada fase da vida há vacinas recomendadas pelo Ministério da Saúde e determinadas pelo PNI. Grande parte dos imunizantes são disponibilizados gratuitamente por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e são aplicados em postos de saúde, por injeção ou via oral. Hospitais privados também realizam o processo.

"Cada vacina tem o momento certo de ser administrada e quando não são administradas no tempo certo podem ser recuperadas. Não há uma vacina mais importante que outra e nem uma que possa ser adiada. Na verdade existe o momento correto, respeitando o calendário de imunização do PNI", explica Lessandra.

As vacinas são recomendadas pelo Ministério da Saúde, por meio do PNI, por faixa etária e por condições específicas como em situações de doenças crônicas, gravidez e ainda em casos de viagens. São ao todo 19 vacinas distribuídas gratuitamente pelo órgão, que contemplam diversas faixas etárias.

O Brasil encerrou ontem a 2° fase da Campanha Nacional de Vacinação contra a Influenza 2021 e segue agora na campanha de imunização contra a Covid-19, que teve inicio em janeiro deste ano. Seguindo planejamento do PNI, o processo de imunização que busca combater a doença pandêmica teve quatro fases iniciais, todas incluindo grupos classificados como prioritários, e foi em seguida aberto a população geral.

Imunizantes recomendados

O processo de imunização recomendado no PNI é dividido com orientações de vacinas para ser aplicadas em cada fase da vida, levando ainda em consideração situações especificas. Alguns imunizantes, como o que atua contra a Hepatite, são aplicados em mais de uma dose.

Por esse motivo é importante seguir com o calendário de vacinação e fazer o acompanhamento do seu processo de imunização ao decorrer da vida. Para adultos, por exemplo, algumas vacinas recomendadas depende de fatores como se o indivíduo já recebeu a aplicação de alguma dose do imunizante quando mais novo. Em todos os casos é necessário ter a orientação de um profissional de saúde.

Veja as principais vacinas recomendadas por fases:

Crianças: BCG, Hepatite B, Hepatite A, Penta/DTP, VIP/VOP, Pneumocócica 10-valente, Rotavírus, Meningocócica C, Febre Amarela, Tríplice Viral, Influenza, Tetra Viral, HPV.

Adolescentes: Hepatite B , Febre Amarela, Dupla Adulto (dT), Tríplice viral e Pneumocócica 23 Valente.

Adultos: Hepatite B; dT (difteria e tétano); Febre Amarela; Influenza (contra gripe) para grupos prioritários; Sarampo, Caxumba e Rubéola para adultos até 49 anos de idade; e Pneumocócica para pessoas a partir de 60 anos com condições clínicas especiais.

Gestantes: dTpa, dT, Hepatite B, Influenza.

* Com informações de pesquisas realizadas pela GKS

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

vacinação brasil covid-19 cobertura vacinal brasil pandemia

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar