Embolia gasosa: saiba mais sobre o evento identificado no ator Paulo Gustavo

Na condição do ator, bolhas de ar entram no sistema circulatório, impedindo a circulação de sangue para algumas partes do corpo e, com possível impacto no sistema nervoso, o humorista pode ter sofrido uma morte cerebral

“Às 21:12h desta terça-feira, 04/05, lamentavelmente o paciente Paulo Gustavo Monteiro faleceu, vítima da COVID-19 e suas complicações”. Com essa frase, o Brasil inteiro ficou um pouco mais triste, após a partida de um fenômeno do humor. O ator estava internado há 52 dias e no último domingo, 2, teve uma piora no quadro de saúde após sofrer uma embolia gasosa em decorrência de uma fístula bronquíolo-venosa — abertura entre os pulmões e as veias. O ator não conseguiu se recuperar e faleceu dois dias depois, deixando o marido, Thales Bretas, dois filhos, Romeo e Gael, além de uma legião de fãs e amigos.

Mesmo durante o momento difícil, a família e os médicos sempre atualizaram sobre o estado de saúde do ator. Segundo último boletim antes da morte do ator, a equipe médica escreveu que houve a “constatação da embolia gasosa disseminada ocorrida no último domingo, em decorrência de fístula brônquio-venosa”. Isso levou o estado de saúde de Paulo a se deteriorar de forma importante.

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A embolia gasosa identificada ocorre quando bolhas de ar entram no sistema circulatório, onde só deve circular sangue, causando obstruções. A embolia gasosa é diferente da embolia causada por trombos, em que a obstrução da artéria ou veia ocorre devido a um coágulo.

Segundo o boletim, isso foi causado por uma fístula bronquíolo-venosa, uma abertura entre os pulmões e as veias. “A injeção de ar (em pacientes intubados ou em pulmões artificiais) é sob pressão, isso predispõe a uma fibrose e você tem a ruptura do pulmão. Uma fístula, que foi a primeira coisa que aconteceu com ele”, explicou o professor de Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo-Unifesp, Feres Chaddad.

Ele avalia que o ar entrou no sistema venoso e acabou causando a embolia. O ponto é que os tipos mais comuns de embolia acontecem no pulmão, mas no caso de Paulo, acabou sendo disseminada e atingindo outras partes, o que aumenta a probabilidade de morte. "Esse quadro não é comum, entretanto, e pode ter relação com alguma condição pré existente ou acentuada pelo quadro clínico, de uma comunicação entre as câmaras cardíacas", detalhou o médico.

O boletim explica que o sistema nervoso central do ator foi atingido pela embolia gasosa. “É provável que foi parar no cérebro e provocou múltiplas isquemias, pequenos AVCs (acidente vascular cerebral), segundo os relatos. Pode ter acontecido uma morte cerebral”, pondera o médico.

Nesses casos, o paciente não apresenta reações a estímulos externos, como luz ou pressões musculares. Mesmo assim, outras funções do paciente continuam funcionando, como aponta o boletim médico. “Apesar da irreversibilidade do quadro, o paciente ainda se encontra com sinais vitais presentes”, disse o texto.

Doença dinâmica

 

O médico explica que o quadro de pacientes acometidos por Covid-19 vai sendo influenciado tanto pela ação direta do vírus quanto pelos tratamentos que recebem. Paulo sentia falta de ar e precisou ser intubado. Teve uma piora no funcionamento dos pulmões e precisou de novas técnicas de intervenção.

O ator foi submetido a uma terapia por ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorpórea). De acordo com o boletim médico divulgado, ele ''chegou a apresentar sinais de melhora, mas devido ao agravamento do quadro clínico, teve que passar por reajustes terapêuticos”.

A ECMO é indicada para pacientes que não respondem ao uso da ventilação mecânica. Na época, O POVO conversou com um especialista em ECMO pela Organização de Suporte Extracorpóreo à Vida (Elso), o cirurgião cardiovascular Juan Mejia. Segundo ele, a técnica é capaz de retirar o sangue rico em gás carbônico (CO2) do lado direito do coração com uma bomba, empurrando esse sangue através de uma membrana artificial sintética que está recebendo oxigênio.

Dessa forma, o sangue já oxigenado artificialmente é colocado dentro do coração de novo. "A ECMO oxigena artificialmente o sangue fora do corpo e o devolve para o coração para que siga seu curso natural, já oxigenado, sem precisar do pulmão", ressaltou o médico. Por meio da ajuda do "pulmão artificial" que a ECMO proporciona, é possível melhorar o teor do oxigênio do corpo. Assim, o sangue ofertado para órgãos e tecidos será de melhor qualidade, viabilizando que funcionem de forma adequada.

Entretanto, o neurologista ressalta que pacientes de Covid-19, acometidos da infecção pela doença, ficam sujeitos a uma evolução complicada e diversificada que afeta diversos órgãos, muitas vezes simultaneamente. Além disso, o processo de hospitalização também sujeita o paciente a desenvolver outros acometimentos. O boletim médico divulgado nesta segunda-feira, 26 de abril, revelou que Paulo Gustavo foi tratado de uma pneumonia bacteriana.

"Toda terapêutica pode ter contra indicações. Pacientes acamados podem desenvolver quadros infecciosos. Acamado e cheio de cateteres, predispõe a isso. São situações que vão agravando o quadro do paciente”, explica o  o professor de Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo-Unifesp, Feres Chaddad.

Por isso, a recomendação do especialista é que as pessoas façam de tudo para não contrair o vírus, fazendo o uso correto de máscaras, lavando as mãos e evitando colocá-las em contato com os olhos, boca e nariz. “Minha maior recomendação é: não contraia o vírus. O que ele vai fazer em você? Ninguém sabe. Você pode ter uma evolução satisfatória como uma extremamente trágica”, pontuou.

Além das medidas higiênicas, ele comenta sobre a importância do distanciamento social de e continuar seguindo as recomendações. “Paulo Gustavo sempre teve cuidado, mas teve um contato com alguém”, ressaltou.

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