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Mulher reencontra mãe biológica após 36 anos e descobre que foi raptada pela mãe adotiva

Neuza diz que recebeu a informação como uma bomba, após passar quase de três décadas de sua vida acreditando que a mãe estava morta
13:51 | Dez. 15, 2020
Autor Beatriz Belchior
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Tipo Notícia

A auxiliar de serviços gerais Neuza de Jesus Oliveira, 36, foi adotada ainda bebê e descobriu em setembro deste ano que na verdade deveria se chamar Dina Rodrigues Campos. Mas o relato de Neuza vai muito além da mudança de seu nome. Essa parte talvez seja a mais simples dentro da reviravolta que está sua vida desde que começou a procurar pela família biológica.

Aos oito anos, Neuza ouviu de sua mãe que havia sido adotada, depois que sua mãe biológica faleceu e seu pai biológico a entregou para o casal alegando que não tinha condições de cuidar do bebê e de outros dois filhos. Já adulta, isso era a única informação que tinha sobre a família biológica, não sabia sequer se ainda moravam em Rondônia. Movida pela vontade de ter mais informações sobre sua origem e conhecer seus dois irmãos de sangue, Neuza chegou a participar de um programa policial de TV no quadro de busca de parentes e em seguida decidiu contar um pouco do que sabia de sua história também em grupos de redes sociais. Porém, ficou apenas na curiosidade, sem sucesso na procura.

No entanto, a resposta que tanto queria veio em setembro deste ano, surpreendendo a auxiliar de serviços gerais e mudando grande parte do que ela achava que sabia sobre a própria história. Depois de inúmeras tentativas de busca do paradeiro dessa família biológica, Neuza comentou seu relato em uma postagem no Facebook de uma moça que também procurava por familiares. Foi então que seu comentário chegou à uma internauta que respondeu conhecer uma família com as mesmas características relatadas por ela, em Alto Paraíso, cidade que fica no interior de Rondônia, a 181 km da capital, Porto Velho, onde Neuza mora.

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Neuza então entrou em contato com a mulher que respondeu seu comentário, mas achou que ela estivesse enganada. “Dois dias depois uma moça entrou em contato comigo, falando que conhecia a minha mãe e meus irmãos, que também procuravam por uma irmã desaparecida. Pra mim foi um susto muito grande porque eu sempre soube que minha mãe era falecida. Então naquele momento eu neguei, disse que minha mãe havia falecido quando eu ainda era um bebê, então essa família que você diz conhecer, não é a minha”, relata ela.

A mulher insistiu que aquela era sim a família de Neuza e passou o contato de um dos irmãos, para que ela pudesse comprovar a história. A partir daí, Neuza começou a se comunicar com o irmão mais velho e nas conversas viu que o relato dele era semelhante ao seu, exceto pelo fato contado por Célio Rodrigues que sua irmã mais nova havia sido raptada do berço durante os 15 minutos em que mãe tinha ido à casa da avó.

Neuza conta que, segundo disse o irmão, “a casa na época não tinha fechadura, não tinha tranca, era na famosa ‘cordinha no prego’. Ela amarrou a porta pelo lado de fora e foi até a casa da minha avó. Em seguida, ela falou para o Célio: vamos embora porque a neném ficou lá dormindo. Só que quando eles chegaram em casa, não me viram mais”, lembra.

Neuza diz que recebeu a informação como uma bomba, após passar quase de três décadas de sua vida acreditando que a mãe estava morta. “É uma situação muito difícil, eu tento dormir e não consigo. Está afetando o meu trabalho, não está sendo fácil seguir minha vida”, conta Neuza.

Ao saber a verdade sobre sua história e conhecer a família biológica, Neuza entrou em contato com a mãe adotiva, com quem morou até os 15 anos quando resolveu sair de casa, alegando sofrer maus tratos. A mãe adotiva negou as acusações e insinuou que Neuza estaria “acreditando em história de facebook”. Porém, Neuza relembra que sempre que sempre que a mãe ia contar sobre sua adoção para as pessoas, seu marido – pai adotivo de Neuza – ficava nervoso e evitava ficar perto. Isso com o tempo foi lhe causando estranheza e desconfiança.

Após a descoberta, Neuza foi até onde a mãe biológica mora para conhece-la, mas a mulher sofre de problemas psicológicos – segundo a família, adquiridos após o sumiço da filha – e por isso não a reconhece. “Eu dei o meu abraço de filha, mas não recebi o dela como mãe. Ela não reconhece mais ninguém e isso é muito difícil”, diz, abalada. Depois do reencontro que aconteceu em setembro, Neuza fez um exame de DNA, que comprovou que Ester Rodrigues Campos, 62, era sua mãe biológica.

Ao saber o resultado, Neuza optou por romper todos os laços com a família adotiva e afirma querer justiça pelo que aconteceu com ela e com dona Ester. Para isso, ela registrou um Boletim de Ocorrência, acusando a mulher que a criou de sequestro. Depois do ocorrido, Neuza não conseguiu mais contato com a mãe adotiva, que a bloqueou e mudou de endereço. “Eu vou mover céus e terras, mas eu quero justiça”, diz ela.

Mesmo ganhando pouco e tendo que sustentar quatro filhos menores de idade, Neuza pretende amparar a mãe biológica que além estar com problemas de saúde, também passa por necessidades financeiras e precisa de assistência. Mesmo sem ser reconhecida, ela fala da importância de ser filha da dona Ester e cumprir seu papel principalmente na situação em que a mãe biológica está. “Com tão pouco que eu ganho, não sei se vou conseguir. Mas eu vou lutar pra fazer isso por ela”, diz a filha.

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