Cientistas internacionais defendem Guia Alimentar brasileiro após críticas do Ministério da Agricultura
Em carta, acadêmicos informam que a nota da pasta ignora as consultas a nutricionistas e profissionais de todos os estados brasileiro
Cientistas internacionais de universidades dos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, África do Sul e outros países enviaram uma carta em grupo para o Ministério da Agricultura criticando o posicionamento da pasta em relação ao Guia Alimentar brasileiro. A carta foi enviada após a pasta divulgar, neste mês, uma nota técnica que traz críticas ao guia, especificamente sobre diretriz sobre ultraprocessados. As informações são do portal G1.
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No texto, o Ministério pede para que se retire as menções ao grupo de alimentos ultraprocessados do exemplar. O Guia Alimentar faz parte do Ministério da Saúde desde 2014 e é um conjunto de diretrizes a respeito de alimentação de autoria da pasta. Os cientistas das universidades como Harvard, Johns Hopkins, Yale e Cambridge, dizem que a nota técnica do Ministério da Agricultura não tem fundamentação válida, pois não há compreensão da pesquisa científica sobre o tema, além de levantar diversas críticas injustificadas das diretrizes da dieta brasileira publicadas pelo Ministério da Saúde.
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O grupo de cientistas ainda afirma que a nota ignora as consultas a nutricionistas e profissionais de todos os estados brasileiros e a indústria alimentar.
Críticas ao Guia Alimentar
A nota técnica do Ministério da Agricultura é assinada por Luís Eduardo Rangel e Eduardo Mazzoleni, que são o diretor e o coordenador, respectivamente, do departamento de Análise Econômica e Políticas Públicas da Secretaria de Política Agrícola do Ministério. O texto diz: "Quando um documento oficial do Governo Brasileiro orienta ‘Evite alimentos ultraprocessados’, está generalizando algo que é muito diversificado. Quando usamos esta classificação equivocada, pesquisas mostram que existem alimentos que são classificados nesta 'categoria ultraprocessados' e que são feitos industrialmente de forma semelhante a preparações culinárias caseiras”.
De acordo com a pasta, o sistema de classificação de alimentos conhecido por Nova, que determina o que é um alimento processado, é obscuro. “A classificação Nova utilizada é confusa, incoerente e prejudica a implementação de diretrizes adequadas para promover a alimentação adequada e saudável para a população brasileira”. Os técnicos da Agricultura criticam a forma de classificar a comida: “Em relação a diferenciação de 'alimento ultraprocessado' por meio da contagem do número de ingredientes parece ser algo cômico”.
Em nota enviada ao G1, o Ministério da Agricultura diz que a nota técnica, que foi divulgada nas redes sociais, na verdade não foi enviada ao Ministério da Saúde e que se trata de "minutas" que sugerem a revisão do Guia. "O assunto está sendo debatido internamente, em Câmaras Setoriais do Mapa", disse a pasta.
Carta de acadêmicos
Os cientistas internacionais dizem que o Guia recomenda refeições saudáveis, e que essas são constituídas por comidas frescas, preparadas com o mínimo de ingredientes processados como sal, açúcar, óleos e gorduras. Na carta consta: “A diretriz recomenda evitar comidas ultraprocessadas. Essas são definidas precisamente pela classificação Nova. Elas incluem bebidas doces, salgadinhos e doces de pacotes, cereais de café-da-manhã adocicados, produtos reconstituídos de carne e pratos prontos para aquecer. Quanto menos desses itens forem consumidos melhor”.
Revisão do Guia Alimentar
A nota técnica do Ministério de Agricultura solicita uma revisão do Guia Alimentar e destaca: “A recomendação mais forte nesse momento é a imediata retirada das menções a classificação Nova no atual guia alimentar e das menções equivocadas, preconceituosas e pseudocientíficas sobre os produtos de origem animal”.
Os acadêmicos atestam que a nota do Ministério da Agricultura diz que é cômico definir alimentos ultraprocessados pelo número de ingredientes que contêm, mas que essa é apenas uma forma prática de identificar esses produtos, e que a definição está precisamente indicada nas diretrizes.
"É difícil entender por que a nota do Ministério da Agricultura não menciona o rápido crescimento recente do consumo de alimentos ultraprocessados em todo o Brasil e na maioria dos países do mundo, nem o impacto negativo desses alimentos na saúde", relatam os cientistas estrangeiros. Os ultraprocessados, de acordo com eles, estão relacionados a uma série de doenças não- transmissíveis com origem na dieta, afirmam.
O Guia Alimentar
Conteúdo foi lançado em novembro de 2014 pelo Ministério da Saúde, o Guia Alimentar tem como prioridade o consumo mínimo de alimentos ultraprocessados. "Prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias a alimentos ultraprocessados. A regra de ouro é: descasque mais e desembale menos", informa o texto do Guia Alimentar de 2014.
Os Alimentos ultraprocessados são aqueles fabricados pela indústria com a adição de gordura, sal, açúcar, conservantes e demais substâncias que alteram o alimento in natura. São exemplos: refrigerante, carne processada, como salsichas e hambúrgueres, biscoitos industrializados, salgadinhos e macarrão instantâneo.
Já os alimentos in natura são aqueles vindos diretamente de plantas ou de animais, que não sofreram qualquer alteração após deixarem a natureza. São exemplos: verduras e legumes, grãos, frutas, ovos e leite. A Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a recomendar que os países adotassem guias de alimentação como forma de prevenir doenças como obesidade e diabetes a partir da década de 1980.