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Padre Julio Lancelotti sobre "cristofobia" citada por Bolsonaro: "Temos que pedir ao presidente um glossário"

O líder religioso questionou a fala do chefe do Executivo e falou ainda sobre os ataques que vem sofrendo
16:22 | Set. 22, 2020
Autor Gabriela Almeida
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Gabriela Almeida Repórter O POVO
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Tipo Notícia

Rodeado de imagem de santos, com uma roupa simples e o semblante sereno. Foi dessa forma que o padre Julio Lancelotti deu entrevista à Rádio O POVO CBN, nesta terça-feira, 14. Conhecido pela forte atuação junto a pessoas em vulnerabilidade social em São Paulo, o líder religioso questionou a fala feita nesta manhã, em um evento da Organização das Nações Unidas (ONU), pelo presidente Jair Bolsonaro (Sem partido)- que fez um apelo contra a "cristofobia" e alegou que o Brasil é "conservador" e "cristão".

"Talvez a gente precise pedir para o presidente um glossário. Quando ele fala conservador, o que ele quer dizer? Quando ele fala país cristão, o que isso significa? Porque, nos meus conceitos, é difícil chamar o Brasil de um país cristão com tanta favela, com tanta miséria, chamar de conservador com tanta depredação", argumentou o padre.

O sacerdote relembrou que o cristianismo que chegou ao Brasil veio com os portugueses, que "mataram indígenas", exploraram riquezas e "violaram" mulheres. Nesse sentido, o padre aponta que os termos "conservador" e "cristão" foram se instituindo sob esse histórico de invasão, pontuando que "precisamos ver o que chamamos de cristianismo".

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Padre Julio ainda destacou que o Brasil é "escravocrata, elitista, que despreza os povos indígenas, que não tem apreço pelos quilombolas" e onde a lgbtfobia (violência contra LGBTQI+) é "muito forte". Na ocasião, ele também questionou a que tipo de conservadorismo Bolsonaro se referia: "É conservação da Amazônia? do Pantanal? Da história?"

Sobre o termo "cristofobia", utilizada pelo presidente, o padre também comentou: "Quem tem fobia ao cristo são aqueles que o matam. (...) Os cristofóbicos são aqueles que Jesus vai dizer: 'Eu estava com fome e não me destes de comer, estava com sede e não me destes de beber'".

Luta pelos vulneráveis e ataques recebidos

Atuando fervorosamente junto às pessoas em situação de rua em São Paulo, incluindo aqueles da região conhecida como "cracolândia", o padre tem sido alvo de ataques populares e do candidato a prefeitura paulista, Arthur do Val. Isso porque o proponente bolsonarista adota um discurso de "higienização" da cidade, propondo retirar da rua aqueles que vivem nela.

Na última semana, Lancelotti chegou a gravar um vídeo afirmando que havia sido xingado na rua por um homem, que o chamou de "padre filho da puta que defende noia". À Rádio O POVO CBN, o sacerdote pontuou que estamos vivendo a "liberação de um ódio que já existia", mas que agora está sendo normatizado.

Demostrando a fé com a qual recentemente recusou uma escolta policial em sua defesa, o padre deixou claro que continuaria lutando em prol das pessoas mais vulneráveis e revelou uma técnica que utiliza para discernir seus passos: "Diante das situações difíceis, eu penso: como Jesus faria?".

Por fim, Júlio fez um apelo para que as pessoas ajudassem àquelas em situação de rua, destacando a importância de realizar ações humanas mesmo não vendo resultados rápidos. "Não vamos ver o êxito da nossa luta, o objetivo não é esse (...) A gente precisa ter muita esperança, uma esperança teimosa, de quem não desiste", desabafou.

O sacerdote também pediu para que as pessoas não fossem racistas, homofóbicas ou transfóbicas, e sim  mais humanas. Ao ser questionado se ele era chamado de comunista pela forma como atua-, o padre brincou: "Me chamam bastante disso, mas sabe o que me alegra? Não ser chamado de capitalista".

Assista à entrevista:

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