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Sacerdote da Igreja Anglicana realiza casamentos gays e defende decisão: 'O que vale é o amor'

Sergio Ferreira, ordenado sacerdote da Igreja em que atua desde 2017, explica que o preconceito dentro do âmbito religioso ainda impede que a comunidade LGBT se aproxime da igreja
11:32 | Set. 14, 2020
Autor Redação O POVO
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O reverendo Sergio Ferreira, da diocese da Igreja Anglicana de Santos, no litoral de São Paulo, defende que o amor deve ser o fator principal na realização de um casamento, e não o gênero. Ele foi entrevistado pelo portal G1. "Se os dois se amam e vêm pedir a benção de Deus, mais direito tem eles de receber do que eu de dar", disse Sergio.

Na religião anglicana, o reverendo equivale a um padre na região católica, mas a expressão não é utilizada por ele. Sergio, ordenado sacerdote da Igreja em que atua desde 2017, explica que o preconceito dentro do âmbito religioso ainda impede que a comunidade LGBT se aproxime da igreja. "No passado, a igreja cristã já permitiu o extermínio dos índios, dos negros [com a escravidão] e agora permite o extermínio dos homossexuais. É preciso ter uma real conversão a Jesus Cristo, porque ele não prega o ódio. Por isso, não acreditamos que ser gay seja um pecado. Essa é a pessoa e temos que aceitá-la. Isso não te faz pior do que ninguém", destaca.

Para ele, o casamento deve ser realizado independente do gênero, mas baseado no amor do casal e da fé que ambos tenham. "Primeiro porque sempre existiram casais homoafetivos e porque acredito ser importante ressaltarmos qualquer manifestação de amor, uma vez que essa é a mensagem principal de Jesus Cristo, e estamos vivendo um momento de muito ódio", diz.

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O religioso ainda explica que, pelo peso moral da igreja, acredita que a realização de um casamento religioso entre pessoas do mesmo gênero ajuda a reforçar os direitos civis dessas pessoas.

Além do preconceito, o reverendo explica que outra coisa que impede a aceitação de toda a sociedade religiosa com relação à comunidade LGBT são os trechos bíblicos que permanecem em discussão. "Há trechos que podem ser considerados advertência contra a homossexualidade. Mas, acreditamos que toda tradução é sempre uma traição e esses livros não foram traduzidos corretamente. Além disso, o antigo testamento é superado pelo novo. E no novo testamento, Jesus Cristo fala a todos 'amai- vos uns aos outros' e destaca que todos os mandamentos introduzem a um só, 'amar a Deus e amar ao próximo como a ti mesmo' ", destaca.

 Casamentos

 

Sergio conta que já realizou dois casamentos homoafetivos. Um deles foi a cerimônia religiosa entre dois idosos, que estavam há 25 anos juntos, casados com o reconhecimento da Justiça, mas que ainda não tinham tido o direito de casar na igreja. O outro foi de duas mulheres, em Guarujá, no litoral paulista.

De acordo com ele, o anglicanismo já aceita e tem reverendos homossexuais, assim como também já ocorreu a nomeação de um bispo gay nos Estados Unidos. "Essas mudanças que estamos realizando para incluir as diferenças ainda não são completamente aceitas por todos os religiosos. Há dioceses que aceitam e outras que não. Há padres com a sua comunidade que aceitam e outras que também não. Então ainda está tendo um acomodamento dessas questões", explica.

Acreditando na importância da igualdade, ele também realiza um trabalho social com jovens homossexuais em situação de risco, que estão sendo expulsos de casa ou em situações de conflito. "É importante que eles entendam que não são uma abominação. A maior dificuldade que temos é de trazê-los para a igreja, porque já apanharam e sofreram muito por ela. Então busco orientá-los", relata.

O casamento que o reverendo realiza é anglicano, então é preciso que haja toda um preparação de acordo com a religião. "Não é necessário se converter, mas é preciso ter o acompanhamento religioso e ter uma adesão à religião. Pretendo fazer mais casamentos, claro. Afinal, Deus é amor", finaliza.

 Anglicanismo

 

O anglicanismo é um seguimento do cristianismo e tem origem na Inglaterra, no século 16. Seu surgimento, assim como a Reforma Protestante na Alemanha, ajudou a levar ao rompimento da coroa inglesa com a Igreja Católica Romana. A religião se tornou oficial no Reino Unido e hoje reúne fiéis por todo o mundo.

Em junho de 2018, após mais de 20 anos de discussões, uma assembleia realizada em Brasília por bispos e clérigos das dez dioceses da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, uma província da Comunhão Anglicana no país, aprovou a união entre duas pessoas, independentemente do gênero, por 57 votos a 3. As informações são do G1.

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