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Mirtes, mãe de Miguel, diz que teve conta do Instagram hackeada: "Apagaram todas as fotos dele"

O menino Miguel Otávio faleceu no dia 2 de junho, após cair do 9º andar de um prédio de luxo no Recife. Ex-patroa de Mirtes foi indiciada por abandono de incapaz com resultado em morte
16:57 | Jul. 03, 2020
Autor Jornal do Commercio
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Tipo Notícia

Com a partida precoce do menino Miguel Otávio Santana da Silva, de apenas 5 anos, no último dia 2 de junho, a mãe, Mirtes Santana de Souza, precisou se apegar às lembranças materiais e aos momentos em que mãe e filho viveram juntos, e isso inclui fotos compartilhadas em redes sociais. No entanto, em meio ao luto, Mirtes viu todas as fotos postadas no Instagram serem apagadas após seu perfil na rede social ser hackeado.

Ao Jornal do Commercio, parceiro do O POVO no Recife, Mirtes relatou que percebeu o perfil, que era privado, foi hackeado na última sexta-feira, 26. "O nome do perfil permanece o mesmo, só que não tem mais nada nele. Já tentei colocar meu e-mail, modificar a senha, e nada. Apagaram todas as fotos dele", disse. Segundo ela, a última publicação feita na rede social foi sobre o enterro do filho. Miguel foi velado e sepultado no Cemitério de Bonança, no município de Moreno, Zona da Mata de Pernambuco, no dia 4 de junho. "Depois eu não mexi mais. Só estava utilizando para conversar com algumas pessoas", disse.

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A mãe do menino afirmou que, apesar de o perfil ter sido hackeado, a Polícia Civil ainda não foi acionada. "Eu falei com os meus advogados e eles vão analisar para ver o que irão fazer sobre isso", completou. O perfil hackeado possui uma única publicação, postada no dia 4 de junho de 2020. Mirtes ainda disse que, por enquanto, não irá criar uma nova conta no Instagram.

Um dia após a missa que marcou os 30 dias da morte do filho, Mirtes desabafou. "Eu não sei nem explicar como eu estou realmente. Eu sei que estou sentindo mais pela morte do meu filho, ontem foi um mês da morte dele, e foi muito difícil para mim. Foi muito difícil para mim ter entrado na igreja ontem para celebrar a vida dele, e saber que eu vou ter que passar o resto da minha vida sem ele é o que dói mais".

Relembre o Caso Miguel

Filho da empregada doméstica Mirtes Renata, Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, morreu no dia 2 de junho, ao cair do nono andar do prédio onde a mãe trabalhava, no Centro do Recife. Patroa de Mirtes, Sarí foi presa em flagrante e liberada, após pagamento de fiança, por ter deixado o menino sozinho dentro do elevador do prédio. Ao sair, a criança caiu de uma altura de 35 metros. O fato aconteceu quando Mirtes deixou o filho sob a responsabilidade da patroa e desceu para passear na rua com o cachorro da família. Ao voltar para o prédio, ela se deparou com o filho praticamente morto. Miguel ainda foi socorrido, mas não resistiu.

Para a mãe de Miguel, faltou paciência de Sarí com o garoto

Após ter visto as imagens que mostram a patroa dentro do elevador com o menino, instantes antes de ele sair quatro andares acima e despencar de uma altura de 35 metros, Mirtes concluiu que faltou paciência por parte da empregadora.

"Quando eu vi o vídeo, entendi o motivo da revolta que houve no velório do meu filho. Antes disso eu não tinha visto nada. Porque quando eu estava na delegacia e os vídeos chegaram, eu não quis ver porque não estava em condições de ver nada", disse Mirtes em entrevista à TV Jornal no dia 4 de junho. "A conclusão que eu tirei é que infelizmente faltou um pouco de paciência dela para tirar meu filho de dentro do elevador. Se ela tivesse tido um pouquinho de paciência, tivesse pegado ele pela mão, antes de ficar só falando, meu filho hoje estaria comigo", lamentou.

Protesto em homenagem a Miguel

O ato em homenagem a Miguel, realizado num misto de dor e revolta, na tarde do dia 5 de junho, foi organizado por movimentos sociais, que se uniram aos familiares e amigos do garoto, vestindo roupas pretas e de máscaras. Os manifestantes entoaram "Justiça por Miguel" várias vezes e, deitados no chão, na frente do Condomínio Píer Maurício de Nassau, onde Miguel caiu, ecoaram em uníssono o drama do garotinho negro antes de perder a vida: "Eu só queria a minha mãe". Abalada, Mirtes não acompanhou o protesto.

Nome de Sarí Corte Real foi cadastrado para solicitar auxílio de R$ 600 no dia 14 de maio

O nome de Sarí Corte Real, primeira-dama de Tamandaré, autuada por homicídio culposo pela morte do menino Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, no dia 2 de junho, foi cadastrado para solicitar o auxílio emergencial de R$ 600. O benefício é destinado pelo governo federal aos trabalhadores informais, microempreendedores individuais, autônomos e desempregados que tiveram a renda afetada pela crise do coronavírus.

O JC, parceiro do O POVO no Recife, apurou que a solicitação em nome de Sarí foi feita no dia 14 de maio. No fim da noite da segunda-feira, 8 de junho, o pedido do auxílio de R$ 600 aparecia "em processamento". "Estamos processando os dados para analisar elegibilidade ao Auxílio Emergencial", dizia a mensagem na página da Dataprev disponibilizada para consulta ao resultado da análise.

Sarí é indiciada por abandono de incapaz com resultado de morte

A primeira-dama de Tamandaré, Sarí Corte Real, foi indiciada pela Polícia Civil de Pernambuco por abandono de incapaz com resultado de morte, pela queda do menino Miguel Otávio. O resultado do inquérito foi apresentado na tarde do dia 1° de junho durante entrevista coletiva online, comandada pelo responsável pelas investigações, delegado Ramon Teixeira.

"A conduta de permitir o fechamento da porta, claramente intencional, conduziu a criança à área de insegurança, diante dos vários riscos existentes no edifício. Com essa ação, diversas poderiam ser as formas de encontrar o resultado morte indesejável, mas previsível", afirmou o delegado.

A pena prevista para o crime é de 4 a 12 anos de reclusão. Em sua avaliação, Ramon Teixeira afastou a possibilidade do homicídio doloso e do dolo eventual. O delegado ressaltou que, apesar de ser um caso difícil, o inquérito buscou agir de forma isenta. "A gente sempre sempre zelou pela transparência, porque a sociedade merece e precisa de respostas para o que aconteceu. Desde o primeiro momento agimos com zelo, exclusivamente pautado pela técnica", disse.

Com a conclusão do inquérito, o caso segue para o Ministério Público, a quem caberá fazer a denúncia. A promotoria poderá concordar ou não com o indiciamento feito pela polícia. Sarí só será considerada réu, caso a denúncia oferecida pelo MPPE seja aceita pela Justiça.

Do Jornal do Commercio via Rede Nordeste

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