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Geladeira com alimentos para moradores de rua é roubada menos de 24 horas após instalação

Após o roubo, nesta manhã, os responsáveis pela ação da geladeira colocaram uma mesa na rua com alimentos para os mais carentes
15:36 | Jul. 30, 2019
Autor O POVO
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Tipo Notícia

Moradores de rua e famílias carentes que procuraram a geladeira comunitária instalada na rua Santa Clara do Desterro, na frente do Instituição Beneficente Conceição Macedo (IBCM), em Salvador, na manhã desta terça-feira, 30, se decepcionaram ao não encontrar o eletrodoméstico por lá. O equipamento - que disponibilizava alimentos de graça para moradores de rua e famílias carentes da Cidade - foi roubado menos de 20 horas após a reinauguração do projeto.

A iniciativa da ONG tinha voltado na segunda-feira, 29, e recebeu diversas visitas e doações. "Não se passaram nem 24 horas que retomamos com a geladeira e ela já foi roubada. Segunda reinauguramos às 10 horas e ficamos aqui até 19 horas, justamente por conta do movimento. Quando chegamos hoje, por volta das 5h30min, tinham levado", conta o padre Alfredo Dórea, gerente administrativo da IBCM.

Além do eletrodoméstico da marca Consul, também foram roubados todos os alimentos e bebidas que estavam nele. "Tinha quentinhas, frutas como maçã e banana, achocolatado, suco, etc", completa o padre.

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Apesar do ocorrido, o clima de tristeza não dominou a ONG. Já nesta manhã, os responsáveis pela ação da geladeira colocaram uma mesa na porta do IBCM. Tudo para cumprir a missão de matar a fome dos que mais precisam, como conta Dórea. "A gente é persistente, e as pessoas continuam trazendo coisas, então vamos continuar. A mesa solidária já está na porta e é a mesma filosofia: quem tem põe e quem precisa retira", explica.

Também nesta manhã, a ONG registrou boletim de ocorrência do furto. “Aguardamos que as autoridades competentes investiguem o ocorrido. Enquanto isso, a instituição seguirá firme com o seu propósito social”, diz o advogado Leandro Veneza, que fez o registro na Polícia.

Em entrevista ao Correio, o padre que administra o projeto garante que não vai desistir: vai colocar outro equipamento novamente toda vez que roubarem. "A gente não quer ficar refém dessa violência institucional e deixar de alimentar quem precisa. A fome tem pressa. E, pelo menos aqui em Salvador, são poucos espaços como esse, em que as pessoas podem vir, pegar e deixar alimentos sem burocracia. Não vamos ceder porque uma pessoa agiu de má-fé. Talvez, se tivéssemos mais geladeiras como essa, o cenário fosse diferente. Mas é algo muito estrutural. Se a gente não criar essa cultura, não vai dar certo nunca", afirma Alfredo.

Segundo ele, muitas pessoas de comunidades próximas e moradores de rua já compareceram ao local se solidarizando. "São pessoas muitos sofridas, que são violentadas diariamente, e nem por isso elas deixam de vir. Não é porque eles são pobres que são ladrões. A gente não sabe ainda quem roubou, mas ladrão a gente encontra em várias instâncias. Tem gente que falou que a gente está enxugando gelo, mas a quantidade de pessoas solidárias é muito maior. Acredito que tudo isso é educativo, pra gente aprender".

Não é a primeira vez

Em 2015, a mesma instituição foi responsável por levar a iniciativa para a capital baiana. Com isso, Salvador foi a primeira cidade do Nordeste a ganhar uma geladeira comunitária no meio da calçada, seguindo os moldes de cidades como Goiânia (GO) e Taubaté (SP), além de países europeus. Poucos dias depois da inauguração do projeto, porém, o equipamento teve o seu motor roubado.

"Da outra vez arrombaram o portão de ferro da creche e roubaram o motor. A gente deu queixa e reapareceu. Acabou ficando mais um mês, só que um morador desorientado a destruiu. É que antes todo dia a gente colocava a geladeira na rua de manhã e tirava de noite. Dessa vez resolvi manter 24 horas para atender à demanda a qualquer hora do dia", explica o padre Alfredo Dórea.

O que encorajou a decisão do padre de retornar com o projeto foi o apoio do coronel da Polícia Militar (PM) José Marcelo Santos Adães, que antes comandava a 2ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Barbalho) e hoje coordena a Corregedoria da PM. "Quando ele esteve aqui, há 15 dias, me disse que iria dar todo apoio, já que essa rua é bem insegura. Sempre tinha alguém por aqui. Ontem infelizmente não tinha. Mas sei que não dá pra deslocar um policial todo dia pra tomar conta da geladeira", comenta Dórea.

O Correio tentou contato com o policial e com a Euzaria, parceira do projeto, mas até a publicação desta matéria não obteve retorno.

Do Correio

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