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Coronel João Sá, na Bahia, tem prejuízo estimado de R$ 10 milhões com rompimento de barragem

A água que inundou o povoado do Quati, a 14 quilômetros da sede do Município, afetou ainda mais a cidade vizinha de Coronel João Sá
10:39 | Jul. 12, 2019
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Tipo Notícia

Pelo menos 150 famílias estão desabrigadas na cidade de Coronel João Sá, no Nordeste da Bahia, depois que a Barragem Riacho Lagoa Grande, que fica no povoado de Quati - no município vizinho de Pedro Alexandre - rompeu no final da manhã de dessa quinta-feira, 11. Além dos desabrigados de Coronel João Sá, há 50 famílias atingidas pela enxurrada no Quati. Não houve vítimas, mas a prefeitura de Coronel João Sá estima um prejuízo de R$ 10 milhões.

Ainda era início da manhã quando veio o alerta: a Barragem Riacho Lagoa Grande, localizada no povoado do Quati, município de Pedro Alexandre, no Nordeste da Bahia, havia transbordado após pelo menos cinco dias de chuvas intensas. Às 11h20min, veio a confirmação: a estrutura, inaugurada em 2000 pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR) para abastecimento de água de cidades da região, havia rompido.

Em pouco tempo, as ruas do Quati pareciam uma extensão do Rio do Peixe, onde fica a estrutura. A água que inundou o povoado, a 14 quilômetros da sede do município, afetou ainda mais a cidade vizinha de Coronel João Sá. Lá, além das 150 casas atingidas, outras dez desabaram. As cidades ficam na divisa com Sergipe.

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Em um vídeo que circulou nas redes sociais, um morador relatou a situação na Cidade. “Aqui é o centro da cidade da Rua Velha. Olha onde se encontra a água, no joelho das crianças. Mas, graças a Deus, aqui não ficou ninguém. Já tiramos todo mundo. Todas as crianças, idosos”, comenta o cinegrafista amador. Animais também foram retirados.

O prefeito de Coronel João Sá, Carlos Sobral, disse que a situação é atípica. “A barragem quebrou no meio, rompeu no meio. Temos vídeos que mostram o momento do rompimento. A própria Defesa Civil do Estado diz que houve o rompimento”, afirmou.

“Graças a Deus, não morreu ninguém. Só uma senhora de 70 anos que ficou ilhada e quase morre afogada, mas conseguimos resgatá-la”, disse o prefeito.

Para ele, só foi possível evitar uma tragédia de maior proporção porque, assim que soube que havia risco de rompimento da barragem, por volta das 9 horas, ele convocou a equipe da Prefeitura para ir às áreas de risco e tirar os moradores de suas casas.

“Botei todos os secretários na rua avisando a população, disponibilizamos caminhões para recolher as coisas e escolas para o povo ficar abrigado. Se não tivéssemos evacuado as zonas de risco a tempo, muita gente teria morrido. Foram afetadas entre 100 e 150 famílias”, diz.

As famílias que tiveram que deixar os imóveis estão sendo levadas para o Colégio Municipal e para as escolas Maria Dalva, Ruy Barbosa, Juracy Magalhães e Paraíso Infantil.

Desabrigados

Os desabrigados em Coronel João Sá somam ao menos 500 pessoas. No povoado do Quati, em Pedro Alexandre, vivem cerca de 50 famílias, segundo o prefeito, Pedro Gomes Filho.

Inicialmente, algumas famílias resistiam em deixar suas casas. Segundo o prefeito de Coronel João Sá, foi necessário pedir o apoio policial.

“Estamos dando alimentação, colchões e suprimentos. Pretendemos fazer uma campanha para arrecadar donativos para as vítimas, mas foi tudo tão corrido que ainda não tivemos tempo de organizar isso. O mais importante disso tudo e que sirva de exemplo é que, se evacuar a tempo, é possível poupar as vidas das pessoas”, disse Carlos Sobral.

“As Defesas Civis de Pedro Alexandre e Coronel João Sá agiram em conjunto para retirar as famílias das casas. A água invadiu algumas residências, mas não houve destruição nem vítimas. Estão todos em local seguro”, informou, na quinta à tarde, a Superintendência de Proteção e Defesa Civil do Estado (Sudec). À noite, no entanto, o órgão voltou atrás e disse que não houve rompimento.

O órgão reconheceu que havia rachaduras na estrutura, mas diz que o excesso de chuvas na região provocou um “galgamento”, quando a água transborda a parede do açude. “Não há rompimento”, disse o superintendente-adjunto, Vitor Gantois. “Há rachaduras nas laterais, que ainda não conseguimos vistoriar”, completou.

O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (Crea-BA), Luís Edmundo Campos, está acompanhando a situação em contato com a Sudec. “As imagens divulgadas não mostram o rompimento. Elas mostram um volume de água muito grande passando pela estrutura do sangradouro. Agora, uma barragem de terra transbordando tem um grande potencial de romper”, disse.

Um trecho da rodovia BR-235 foi tomado pela água e lama e está intransitável. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) emitiu um alerta e informou que irá aguardar a “redução do nível da água para verificar possíveis danos à rodovia, recuperar em caráter emergencial e restabelecer a trafegabilidade o mais rápido possível”. A PRF não informou sobre desvios.

De acordo com o secretário de Comunicação de Coronel João Sá, Waldomiro Júnior, as áreas mais atingidas foram as ruas do Galo, Santo Antonio, Beira Rio, Senhor do Bonfim, José Antonio dos Santos e o bairro da Barroquinha. Foi disponibilizado um telefone de emergência: (75) 99987-3419.

“A área próxima ao rio é muito povoada, temos casas que ficam a 20 metros, 30 metros de distância do Rio do Peixe”, comenta o secretário. Ainda segundo ele, “a água já atingiu metade da altura de muitas casas” e há famílias que já perderam tudo.

Apoio

Equipes da Defesa Civil do estado, do Corpo de Bombeiros e do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) foram enviadas aos locais afetados. O governador Rui Costa visita nesta sexta-feira, 12, as duas cidades. Em nota, ele manifestou solidariedade aos moradores da região.

Segundo a Secretaria de Comunicação do Governo, Rui Costa já entrou em contato com os prefeitos das duas cidades para oferecer a estrutura do estado nesse momento. Também serão enviados mantimentos e água mineral.

Pedro Alexandre decreta situação de emergência

Após o rompimento da barragem, o prefeito de Pedro Alexandre, Pedro Gomes Filho, decretou situação de emergência na cidade. O decreto, publicado na própria quinta no Diário Oficial, explica que as fortes chuvas que têm caído no município desde o domingo causaram inundações, enxurradas e alagamentos. O decreto também alerta que, por conta do mau tempo, tem sido impossível transitar por diversas estradas.

O documento determina a suspensão das aulas da rede pública municipal, em razão dos danos causados nas estradas que impossibilitam o transporte dos alunos, por tempo indeterminado, e autoriza a mobilização de todos os órgãos municipais para atuarem sob a direção da coordenadoria municipal de proteção e defesa civil.

Além disso, prevê mobilização para reabilitação do cenário e reconstrução/desobstrução de vias, além da convocação de voluntários para realização de campanhas de arrecadação.“Não temos como fazer nada com relação à barragem, porque nem trator chega lá. Hoje está uma chuva fina, mas desde a semana passada que estamos tendo chuvas pesadas, que ocasionaram essa situação”, disse o prefeito.

População carente é a mais atingida nas cidades

De acordo com o secretário municipal de Comunicação de Coronel João Sá, Waldomiro Júnior, as áreas mais afetadas são justamente aquelas que abrigam pessoas mais carentes. “A população mais afetada é a mais carente. São pessoas que construíram suas casas muito próximas do rio. Mas os moradores daqui são muito solidários e todo mundo tem ajudado”, afirmou.

Como a situação nunca aconteceu, a gestão ainda estava na expectativa de que a água tomasse toda a cidade. “Estávamos em alerta, mas não sabemos o que vai acontecer a partir de agora”, analisou.

Segundo Pedro Gomes Filho, prefeito de Pedro Alexandre, a barragem era de água salobra e muitos moradores costumavam pescar no local.

Risco na barragem era alto, aponta relatório

O relatório de 2017 do Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens (Snisb), ligado à Agência Nacional de Águas (ANA), considerou como alto o nível de risco na Barragem Riacho Lagoa Grande. O risco de dano potencial associado também era alto.

Em nota, a ANA informou ter tomado conhecimento do “rompimento gradual da barragem Quati, em Pedro Alexandre, de usos múltiplos de água”, mas informou que a responsabilidade por fiscalizar a estrutura é do estado da Bahia.

“Por se tratar de uma barragem em rio estadual, a fiscalização desse açude não compete à ANA, e sim à autoridade competente no estado da Bahia”, delimita o órgão federal, embora afirme que, guardadas as devidas proporções, acompanha a situação. Nesse caso, a atribuição é do Inema, que enviou técnicos ao local, mas não respondeu como a fiscalização vem sendo feita.

Gabriel Amorim e Perla Ribeiro, do Correio

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