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Institucionalização da umbanda como religião brasileira tem forte ligação com o nacionalismo, diz pesquisador

De acordo com o antropólogo da Universidade Federal do Ceará, Jean dos Anjos, foi criada uma narrativa para institucionalizar a umbanda como uma religião brasileira
09:20 | Nov. 18, 2019
Autor O POVO
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O 15 de novembro é também o Dia Nacional da Umbanda. Nessa data, praticantes da religião festejam em seus templos o dia que marca oficialmente o reconhecimento da umbanda como uma religião nacional. De acordo com o antropólogo e pesquisador do Laboratório de Antropologia e Imagem da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jean dos Anjos, não foi por coincidência que a umbanda surgiu na data histórica de comemoração da Proclamação da República, em 15 de novembro de 1908.

De acordo com Jean, foi criada uma narrativa para institucionalizar a umbanda como uma religião brasileira. “O mito é uma narrativa criada para contar a verdade. E os autores [que estudam a umbanda] reconhecem esse mito fundador, que foi criado para dar conta de uma religião com identidade nacional”, argumenta.

Conforme o pesquisador, houve uma necessidade de o estado tornar visível uma cultura brasileira. “O estado se apropria da narrativa e de seus elementos nacionalistas, com personagens como o preto velho e o caboclo índio; e dentro do Estado Novo, o próprio Getúlio Vargas reconhece a umbanda como religião nacional”, relata o antropólogo. Ele acrescenta ainda que, longe de romantismos, o Estado só passou a promover a religiosidade dessas pessoas após muita luta, perseguição e estigmas.

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A história é carregada de elementos que remetem ao nacionalismo. Segundo conta o pesquisador, o espiritismo kardecista não permitia que índios e pretos velhos fossem incorporados a partir de mesas brancas - como é chamado o local em que se pratica a mediunidade. Quando Zélio Ferdinando de Morais incorporou o Caboclo Sete Encruzilhadas em uma dessas mesas, em 15 de novembro de 1908, o Caboclo declarou que não iria embora até realizar a sua missão de caridade e cura. “Ficou aquela confusão, até que o caboclo incorporado disse ‘quem quiser me ouvir, me procure em tal dia, tal hora e tal lugar’, e esse se tornou o marco referencial da umbanda”, conta o antropólogo.

Ainda em 1908 a umbanda já era popularmente reconhecida, afirma Jean, principalmente por ela ter resquícios do espiritismo kardecista e ser fruto do nacionalismo. Muitos intelectuais passaram a se tornar integrantes da umbanda, entre eles Zélio Ferdinando de Morais. “Esse reconhecimento como uma religião nacional permitiu a população negra e indígena praticar seus cultos. Apesar disso, a umbanda continuou a ser perseguida pelo estado, estendendo a proteção para essa parte intelectual e de classe média”, finaliza.

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