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Atletas da NBA se recusam a entrar em quadra em protesto contra o racismo e jogos são adiados

Jogadores de seis franquias da liga de basquete norte-americana se recusam a entrar em quadra três dias após homem negro ser baleado sete vezes nas costas

A NBA foi retomada com jogos emocionantes, com vitórias com cesta no último segundo e atuações inesquecíveis de astros das 16 melhores equipes de basquete do mundo. Em meio à pandemia do novo coronavírus, foi criada uma "bolha" em complexo da Disney em Orlando para permitir que as partidas fossem reiniciadas com a segurança que a alienação de potenciais vetores da doença ameaçasse a continuidade do esporte. 

Nesta quarta-feira, 26, os jogadores de seis franquias da NBA — majoritariamente negros, como em grande parte dos esportes —, em ato histórico de desobediência civil, deixaram claro que existem coisas mais importantes do que disputas esportivas. A primeira partida da noite seria entre Milwaukee Bucks e Orlando Magic, às 17 horas (de Fortaleza). Os Bucks não saíram do vestiário. O Magic entendeu o recado e também se retirou. O dominó seguiu e, assim, os atletas Okhlahoma City Thunder e Houston Rockets também decidiram não fazer o confronto, que seria esportivamente importantíssimo. Por fim, os jogadores de Los Angeles Lakers e Portland Trail Blazers confirmaram que não seria dia de NBA.

Não é coincidência que o movimento tenha começado com o Milwaukee. Em Kenosha, cidade também no Wisconsin, um homem chamado Jacob Blake foi alvejado sete vezes nas costas por policiais brancos. Os filhos dele estavam no banco de trás. O caso reavivou os debates, protestos, a convulsão social motivada pela violência policial contra afro-americanos. A população dos Estados Unidos é cerca de 15% negra. Na NBA, o percentual é de quase 75%, segundo estudos de 2015.

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A revolta não é caso isolado, muito pelo contrário. O ponto de início foi o sufocamento e morte de George Floyd, outro homem negro norte-americano desarmado, em abordagem policial em Minneapolis. O caso ocorreu em 25 de maio e desde então a população tem ido com frequência às ruas em protestos antirracistas, levantando os dizeres "Black Lives Matter" ("Vidas Negras Importam", em tradução livre). A bolha da NBA começou um mês depois, com jogadores questionando se deveriam se isolar de um momento único na história do negro na América. 

Kyrie Irving, armador do Brooklyn Nets, foi dos poucos a verbalizar o desejo de boicote ao reinício. À época, foi criticado por sugerir um movimento radical do qual não faria parte — ele se recupera de contusão. Segundo o jornalista Shams Charania, ele chegou a dizer, em reunião com 80 jogadores representantes das franquias, que sente que "nós somos vistos como alvo (de violência) como homens negros todos os dias que acordamos". Ele é um dos vice-presidentes da associação de jogadores da NBA.

Os jogadores negociaram para poderem fazer protestos antes de todos os jogos. A maioria dos jogadores, brancos ou negros, se ajoelha durante o hino dos Estados Unidos, imitando polêmico gesto de Colin Kaepernick, cuja carreira profissional virtualmente acabou após protestar na Liga Norte-Americana de Futebol Americano (NFL). Mensagem antirracistas, pedidos de justiça e igualdade social têm sido estampados nas costas de cada atleta. Neste 26 de agosto, os atletas decidiram que isso é pouco.

Antes de partida entre Boston Celtics e Toronto Raptors, o armador Marcus Smart já tinha admitido que o boicote "estava no fundo da mente" de todos os jogadores. No dia 24 de agosto, um dia após o caso Jacob Blake, Donovan Mitchell, estrela do Utah Jazz, tuitou, em caixa alta. "F*-se os jogos e os playoffs!!! Isso é doentio e é um problema real. Nós demandamos justiça! É uma loucura, não tenho palavras, mas o que é isso, cara! É por isso que não nos sentimos a salvo". 

A NBA confirmou todos os adiamentos. Não se sabe se eles acontecerão apenas hoje, durarão alguns dias ou até os jogadores irão forçar o encerramento da temporada. Kyrie Irving chegou a sugerir uma liga administrada pelos próprios atletas, os astros do show. O tempo dirá.

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