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Exclusiva: Erivelton Viana revela ambições do Ceará feminino para a temporada 2022

Técnico do time feminino do Alvinegro, o ex-zagueiro falou sobre a preparação para a temporada 2022, dentro e fora de campo, e expôs a visão sobre o avanço da modalidade no Brasil

O Ceará feminino entra nesta segunda-feira, 21, na terceira semana de preparação para a temporada 2022. A equipe tem como principal missão nesse ano a conquista do acesso à Série A1, principal divisão do futebol feminino brasileiro, após bater na trave três vezes, e terá como guia na beira do campo o técnico Erivelton Viana.

Ex-zagueiro do Vovô, com quem conquistou dois torneios estaduais como jogador, Erivelton comanda a o grupo feminino do Alvinegro desde agosto do ano passado. De lá para cá, ele já auxiliou o time na conquista do Campeonato Cearense Feminino 2021. Em entrevista ao Esportes O POVO e à Rádio O POVO CBN, ele revelou maiores metas com o grupo para o ano de 2022 e também mostrou sua visão sobre o futebol feminino brasileiro e o avanço da modalidade no país. Confira  

Esportes O POVO: Erivelton, você esteve por dois anos na comissão técnica do time feminino e, no último ano, assumiu e comandou o time no Estadual. De lá para cá, o que você mais mudou em termos de jogo?

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Erivelton Viana: O futebol feminino vem evoluindo, está crescendo, mas sabemos que ainda necessita melhorar muitas coisas. Quando me veio o convite, fui convidado para ser auxiliar do Sérgio Alves quando ele era o treinador. O tempo passou, o Sérgio saiu e o Jorge veio para o Brasileiro, mas eu ainda continuei como auxiliar. Após o Brasileirão, a diretoria resolveu me efetivar como treinador. Eu procurei não mudar muita coisa do que havia sido feito, e nos sagramos campeões do Cearense. Sabemos que temos sempre que trabalhar pra melhorar, mas nesse começo de ano temos a oportunidade de iniciar o trabalho, fazer uma pré-temporada da maneira que a gente planejou. Temos mais uma oportunidade esse ano de conquistar o objetivo principal, que é bem claro, o acesso à primeira divisão. O time já bateu na trave três vezes. Ano passado a gente chegou bem perto, batemos na trave, perdemos apenas o jogo da classificação, mas a gente aprende com os erros, para que a gente não possa cometê-los no futuro, e o nosso objetivo é esse. Houve uma reformulação no elenco, o que é normal, mas a gente procurou manter uma equipe competitiva para que a gente possa montar uma boa base para irmos em busca do Campeonato Brasileiro e do Campeonato Cearense.

EOP: Você esteve na comissão técnica e acompanhou o time nesses últimos anos, em que houve chance de acesso, mas ele não foi conquistado. O que você acha que faltou para que o grupo conseguisse alcançar a Série A1? E o que irão buscar fazer nessa temporada para que o acesso venha?

EV: A gente sabe que não pode avaliar o trabalho feito por um jogo. Costumo dizer que você tem que avaliar o trabalho todo. Nenhum time chega por chegar três vezes numa decisão de vaga, isso demonstra trabalho. Acredito que talvez a gente procure trabalhar mais o psicológico das atletas, pois a gente sabe como isso é importante hoje no futebol. Muitas vezes você tem uma equipe tecnicamente muito boa, fisicamente muito boa, e pequenos detalhes fazem diferença. As pessoas costumam falar que a vitória e a derrota são muito próximas uma da outra. Isso foi bem claro no campeonato do ano passado do Brasileiro. Até o jogo da eliminação, tínhamos a melhor campanha do torneio. Um jogo que a gente perdeu decidiu nosso trabalho todo. Acredito que você tem que passar para as atletas que não basta você chegar em um campeonato estando bem fisicamente e tecnicamente. Você também tem que estar mentalmente preparada para todas as ocasiões adversas que a gente vai encontrar durante a competição.

EOP: Falando em preparação, como está a formação do elenco e quais são os principais nomes? O Ceará recrutou alguma jogadora na seletiva que fez recentemente?

EV: Após a final do Campeonato Cearense, saíram algumas atletas e a gente procurou manter uma base do time que vinha jogando. A gente conseguiu manter atletas que são importantes e que jogaram a competição toda. Diante disso, a gente procurou contratar atletas que viessem encaixar nas necessidades do elenco. Foram contratadas sete atletas, sendo duas goleiras, uma volante, atacante, meia e lateral.

Em relação às avaliações para a base, acho que é muito importante, o clube necessita fazer esse tipo de trabalho, pois é daí que achamos mais jogadoras. Hoje, o elenco do feminino adulto tem 80% das atletas de fora. Se você faz um trabalho de captação na base, futuramente essa porcentagem vai diminuir. É nosso objetivo ter muito mais atletas da base, que vai gerar um custo menor para o clube em tudo. O nosso principal objetivo é focar nas avaliações, para que possamos captar atletas. Hoje, no grupo principal, há seis atletas oriundas da base.

EOP: Sobre esse trabalho com jogadoras da base, você comandou a equipe feminina sub-18 do Vovô em duas edições do Brasileirão da categoria. O que você acha que aprendeu com essa experiência que irá levar para o time principal?

EV: É sempre bom vivenciar experiências. Completei agora um ano de futebol feminino. Querendo ou não, é muito pouco tempo. Por isso, eu procuro sempre tá perguntando e procurando pessoas que estão a mais tempo na modalidade, pois há diferenças, é um outro mundo em diversas situações. O importante é aprender, querer se capacitar. Estar sempre em busca de conhecimento não é menosprezo. Você tem que ter humildade para reconhecer que sempre precisa aprender mais e é isso que eu procuro fazer: ver o que está sendo bem feito em relação ao futebol feminino e trazer para cá. Hoje o Corinthians é o time referência do futebol brasileiro feminino, então a gente procura estudar o que o Corinthians faz que a gente pode fazer. É por esse caminho.

EOP (pergunta feita por seguidor do @EsportesOPOVO): Qual a grande diferença interna do futebol masculino para o futebol feminino?

EV: Há a questão da vaidade, as meninas chegam nos treinos com brincos, com pulseiras, e tem a questão de como você trata a atleta. O que mais aprendi nesse tempo no futebol feminino foi procurar ganhar confiança da jogadora. Quando você ganha isso, ela vai te confessar coisas que vão até além do futebol. Você deixa de se tornar um treinador, para se tornar um amigo. A maneira de cobrar também é diferente. No futebol masculino você escuta uns gritos mais exagerados. A gente não deixa de cobrar, mas de uma maneira que a atleta entenda que é pro bem das atletas.

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EOP: O Corinthians é um expoente do futebol sul-americano. Como é a diferença de realidade entre o Ceará, que está na Série A2, e o Corinthians, que está numa Libertadores, sempre buscando títulos? Quanto o Ceará ainda precisa batalhar para poder chegar a ter no futebol cearense uma equipe de nível tão alto?

EV: Hoje o Corinthians é o time exemplo do futebol feminino. Tanto a comissão quanto as atletas estão juntas há quatro anos. Isso facilita muito o trabalho. Outra coisa é a questão do investimento. (...) Não temos as condições que os outros clubes (paulistas) tem, então temos que procurar ser mais inteligentes, procurar estar a frente do que vem acontecendo e buscando o que for bom para trazer para a gente. Acredito muito que o futebol feminino aqui no Ceará vai evoluir muito.

EOP: Você é ex-jogador e tem uma história com o Ceará. O quanto ajuda na sua dinâmica com as atletas o fato de você ter sido um esportista?

EV: Como eu fui atleta, tive experiências e vivências que a maioria já teve ou ainda vai ter. Eu sou humilde em reconhecer que eu ainda preciso muito me capacitar, estudar e aprender muito, pois uma coisa é você ser jogador. Quando você passa para o outro lado, você traz na bagagem o que você aprendeu como atleta, mas é diferente de hoje em dia você ser um treinador. Hoje o futebol evolui muito a cada dia, então você tem que se capacitar. No futebol mudou praticamente tudo e você precisa acompanhar essa evolução. Eu costumo passar para as atletas, principalmente para as mais novas que estão em busca desse sonho, que não basta você ter somente qualidade ou técnica boa. Jogadora se encontra em todo lugar, mas ser atleta profissional é diferente. Jogadora profissional tem que ter comprometimento com o clube, com você mesmo. Procuro passar para elas que, para realizar sonhos, é preciso pagar um preço alto. É preciso estar disposto para que isso se realize.

EOP: Ainda há muita má vontade com o futebol feminino no Brasil. Muitas das pessoas que reclamam (da modalidade) acabam assistindo jogos de divisões inferiores do masculino, em que a qualidade é muito baixa. Você percebe que há, de fato, uma má vontade com as atletas, quando hoje há uma grande qualidade no futebol feminino europeu, por exemplo?

EV: Acho que isso é falta de informação e conhecimento. Muitas pessoas ouvem falar, mas não viram ainda a evolução do futebol feminino. Às vezes encontro pessoas na rua, perguntam onde eu estou e quando falo que estou no futebol feminino de cara as pessoas falam: ‘pô, mas futebol feminino? Mulher não sabe jogar bola’. A gente vê uma falta de conhecimento e hoje, você assistindo um jogo decisivo da modalidade na TV, não deixa a desejar em nada. É um futebol de alta intensidade, com grande público. Isso vai mudar cada vez mais com a profissionalização do futebol feminino. Ele está em evolução, vai crescer, melhorar, e, a partir disso, as pessoas vão passar a ter um olhar diferente. Ainda estamos em passos lentos, mas a tendência é que muita gente mude sua visão sobre o futebol feminino.

EOP: Como você acha que os times locais e nordestinos podem estar emergindo mais o torcedor aos times femininos?

EV: A gente sabe que essa questão da pandemia prejudicou a questão do público nos estádios. E também há a questão da divulgação. Quanto mais for divulgado a questão do futebol feminino, mais vai ajudar. Acredito que quando a pandemia melhorar, o torcedor, principalmente do Ceará, vai chegar junto para apoiar. A gente espera que no Campeonato Brasileiro a questão do público esteja normalizada para contarmos com o torcedor nos apoiando. Talvez a gente tenha a possibilidade de jogar no PV, quem sabe, pois ele está sendo reformado e pode receber público. Nossos jogos atualmente são disputados na base (em Itaitinga) e estou com uma expectativa muito grande de estar próximo do torcedor. É totalmente diferente jogar com torcida, outro clima, outro ambiente. (com Horário Neto, setorista do Ceará na rádio O POVO CBN)

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