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Corbevax: a vacina contra a Covid-19 desenvolvida para a saúde global

Desenvolvida com financiamento de filantropia pelo Hospital Infantil do Texas e pela Faculdade de Medicina de Baylor, em Houston, e licenciada sem patente para a Biological E. Limited (BioE), a Corbevax foi aprovada para uso emergencial na Índia na última semana de dezembro de 2021

Enquanto 77,1% da população de países de alta renda receberam pelo menos uma dose de vacina contra a Covid-19, em países mais pobres essa parcela é de apenas 9,5%. Há meses a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta sobre e desigualdade vacinal, exemplificada pelo dado disponibilizado na plataforma Our World In Data, com atualização no último 12 de janeiro. No final de 2021, no dia 28 de dezembro, a Índia, por meio do Controlador Geral de Drogas (DCGI), aprovou o uso emergencial de uma vacina que pretende mudar essa realidade: a Corbevax.

Desenvolvida com financiamento de filantropia pelo Centro de Desenvolvimento de Vacinas do Hospital Infantil do Texas (Texas Children’s CVD) e pela Faculdade de Medicina de Baylor, em Houston, a vacina foi posteriormente licenciada, sem patente, para a Biological E. Limited (BioE). O governo indiano já encomendou 300 milhões de doses da vacina, e a empresa pretende produzir 100 milhões de doses ou mais por mês, a partir de fevereiro.

As pesquisas para o desenvolvimento da Corbevax foram coordenadas por Peter Hotez e Maria Elena Bottazzi, que trabalham desde início dos anos 2000 para criar vacinas contra outros coronavírus, como explicou Bottazzi ao jornal hondurenho El Heraldo.

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Antes da pandemia de Covid-19, houve as epidemias de síndrome respiratória aguda grave (Sars), que teve início em 2002, e de síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers), que começou em 2012. "Quando começou esta pandemia (causada pelo Sars-Cov-2), foi muito rápido adaptar os processos para produzir essa vacina e criar esse protótipo", afirmou a pesquisadora.

Ao produzir uma nova vacina sem patentes, com uma tecnologia de menor custo e logística mais fácil, Bottazzi e Hotez esperam que a Corbevax seja utilizada em países da África, da Ásia e da América Latina com menos acesso a imunizantes contra a Covid-19.

A tecnologia utilizada na Corbevax

Pensada para ser acessível e igualitária, a Corbevax foi desenvolvida com uma tecnologia que já é amplamente conhecida e utilizada no mundo. Ela é uma vacina de subunidade proteica que utiliza parte da proteína S do Sars-Cov-2, o coronavírus causador da Covid-19, em processo similar ao da vacina contra hepatite B.

As pesquisas para o desenvolvimento da Corbevax foram coordenadas por Peter Hotez e Maria Elena Bottazzi
Foto: Max Trautner/Texas Children’s Hospital
As pesquisas para o desenvolvimento da Corbevax foram coordenadas por Peter Hotez e Maria Elena Bottazzi

Segundo explica a microbiologista Natalia Pasternak, em artigo publicado no jornal O Globo, para esse tipo de vacina, a proteína é produzida por leveduras geneticamente modificadas e em seguida é purificada com adjuvantes, que ajudam a provocar a resposta imune do organismo.

Entre as vantagens dessa tecnologia está o fato de poder armazenar e transportar a vacina em temperatura de geladeira comum, facilitando a logística para os países com menos recursos. É diferente, por exemplo, da vacina de RNA mensageiro produzida pela Pfizer, que precisa ser armazenada em temperaturas ultra-baixas e exige rede de frios específica.

Por outro lado, esse tipo de vacina não pode ser modificado tão rapidamente quanto as de RNA mensageiro para se ajustarem a novas variantes. "Mas como estamos lidando com subunidades de proteínas, é bastante plausível que elas sigam abrangendo bem as variantes", apontou a biomédica Mellanie Fontes-Dutra, doutora em neurociências e coordenadora da Rede Análise Covid-19, em publicação sobre a Corbevax no Twitter.

Para a biomédica, um dos pontos mais interessantes da Corbevax é a disponibilidade da propriedade intelectual para todos. "Isso significa que é possível que qualquer fabricante de qualquer ponto do mundo seja capaz de produzir esta vacina", afirma.

Resultados

A vacina foi aprovada para uso emergencial na Índia após a fase 3 dos testes clínicos. Segundo os desenvolvedores, o estudo conduzido no país contou com 3 mil voluntários e foi observada uma eficácia de 90% na prevenção da doença em relação à cepa original do Sars-Cov-2 e de 80% contra a variante Delta.

Os dados ainda não foram publicados. "Os resultados do estudo estão sendo preparados para submissão a um periódico revisado por pares", afirmam Hotez e Bottazzi em artigo publicado após a autorização para uso na Índia. Ainda estão sendo realizados estudos com a variante Ômicron.

Ainda no artigo para O Globo, Pasternak explica que o teste de fase 3 foi feito por "não inferioridade", comparando a vacina candidata com outra em uso. "Esse tipo de teste é o padrão para quando já existem vacinas aprovadas no mercado, uma vez que seria antiético conduzir um ensaio com grupo placebo", escreve a microbiologista.

A Corbevax foi comparada com a Covishield, produzida pela AstraZeneca e pela Universidade de Oxford, e teria conseguido resultado superior na produção de anticorpos neutralizantes.

Além disso, foram observados principalmente eventos adversos leves, segundo os pesquisadores. Até então, a aprovação de uso emergencial refere-se a pessoas de 18 a 30 anos de idade, e também estão sendo feitos estudos para uso pediátrico da vacina.

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