Por que Tarcísio Meira morreu mesmo vacinado? Especialistas explicam como é a proteção

Vacinas reduzem drasticamente o risco. De fevereiro a julho, representam menos de 4% dos óbitos. Ainda assim, risco existe, sobretudo para idosos

A morte do ator Tarcísio Meira por complicações da Covid-19 nesta quinta-feira, 12, levou alguns grupos a questionarem a eficácia da vacinação contra a doença. Isso porque o ator, que tinha 85 anos, tomou a segunda dose da vacina no dia 16 de março e mesmo assim adoeceu e morreu. Especialistas defendem a importância da vacinação e destacam a necessidade de reduzir a circulação do vírus.

Por causa da vacinação, já é possível perceber melhores indicadores, por exemplo, na gravidade da doença, na necessidade de internação e no número de mortes em alguns grupos, como profissionais de saúde e pessoas acima de 60 anos, destaca o imunologista Edson Teixeira, professor do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Universidade Federal do Ceará (UFC).

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Em entrevista ao programa Debates do Povo, na rádio O POVO CBN, o secretário da Saúde do Ceará, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, Cabeto, foi questionado por um ouvinte sobre o assunto e também pontuou os resultados da vacinação entre profissionais de saúde.

"Nós vivemos, até o ano passado, um número de contaminações de pessoas que eram muito expostas, (que estavam) trabalhando em UTIs [Unidades de Terapia Intensiva], muito grande. Depois da vacina, esse número de internações praticamente desapareceu. Isso é muito importante", afirmou Cabeto.

Levantamento realizado por pesquisadores da Info Tracker, plataforma da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp), apontou que, entre 28 de fevereiro e 27 de julho, o número de pessoas que receberam as duas doses de vacina e ainda assim contraíram a doença e morreram correspondia a 3,68% do total de óbitos no período.

Os pesquisadores analisaram os dados do Ministério da Saúde (MS) e verificaram 9.878 mortes nessas circunstâncias. A maioria das vítimas, segundo o estudo, tinha mais de 70 anos.

Quando se trata de idosos, Teixeira destaca que é preciso levar em consideração um fator chamado imunossenescência, que se refere a alterações imunológicas decorrentes do envelhecimento. "Nem todos os idosos respondem da mesma forma ao estímulo das vacinas", explica. É por isso que, segundo o professor, é preciso que todos continuem a tomar os cuidados necessários pra evitar o contato com o vírus.

Circulação viral

Apesar de as vacinas reduzirem o risco de agravamento dos casos de Covid-19 e de óbitos pela doença, quando se tem um cenário de alta transmissão, os números de casos graves e de mortes ainda serão elevados. É isso que alerta Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise Covid-19, iniciativa multidisciplinar com o objetivo de coletar, analisar, modelar e divulgar dados relativos à doença.

"Se tivéssemos conseguido reduzir 80% de todas as nossas mortes desde o primeiro dia de pandemia, ainda teríamos 113 mil mortes. Muito mais do que muitos países que reduziram a transmissão através de medidas não farmacológicas", afirma.

A microbiologista Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão Ciência (IQC), abordou esse ponto no dia 11 de junho, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, ao comparar a eficácia das vacinas com o desempenho de um goleiro. Ela relacionou a quantidade de bolas lançadas ao gol e uma atuação ruim da equipe de defesa com a circulação do vírus e a falta de adesão às medidas sanitárias — uso de máscara, higienização das mãos e distanciamento físico.

"Uma boa vacina é como um bom goleiro: ela pode ser muito boa, mas ela não é infalível. E, se tiver muita bola para o gol, muito vírus circulando, a probabilidade de ela falhar é maior. Então, a gente precisa reforçar a defesa do time", comparou ela, à época.

Para Schrarstzhaupt, no atual cenário da pandemia, é como se o Brasil estivesse "reduzindo cada vez mais os zagueiros — as medidas de redução de transmissão — e deixando atacantes cada vez mais qualificados — a variante Delta — na cara do goleiro".

Edson Teixeira lembra também que a vacinação é um ato coletivo. De acordo com o professor, com maior a cobertura vacinal, seria menor a probabilidade de os grupos mais vulneráveis, como era o caso do ator Tarcísio Meira, contraírem a doença. "Isso não tem nada a ver com dizer que vacina funciona ou não funciona. Nós sabemos que vacinas funcionam e que foram uma revolução na Medicina desde 1796", pontua.

"O segundo ponto para extinguir a pandemia é reduzir a circulação viral. Se você tem pouco vírus circulando e muita gente imunizada, a propagação do vírus acaba afinando. Por isso, é muito importante que as pessoas aceitem a vacinação. Quanto mais gente vacinada, mais você protege, mais você diminui a circulação viral, a probabilidade de infecção e a carga viral existente", afirmou Cabeto à O POVO CBN.

Dose de reforço

Há ainda uma discussão sobre a necessidade de doses de reforço das vacinas contra a Covid-19 para quem já completou o esquema das duas doses do imunizante. Pela baixa cobertura vacinal do País, o professor Edson Teixeira defende que, antes, é necessário que todos recebam as duas doses para, em seguida, discutir a questão. "É preciso fazer a tarefa de casa, que é primeiro vacinar as pessoas", afirma.

Cabeto também abordou a questão no Debates do O POVO. "Pessoalmente, eu acho que, uma vez vacinada toda a população adulta, nós vamos ter que discutir essa questão da terceira dose. Os estudos científicos — precisamos de um pouco mais de tempo para definir isso — fazem sugerir, sim, que, em populações de maior risco, talvez seja necessário fortalecer ainda mais a eficácia da vacina", pontuou.

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