Sábado de lockdown tem lojas abertas e ruas movimentadas no Cariri

Nas duas maiores cidades da região, Juazeiro do Norte e Crato, lojistas e ambulantes atenderam clientes normalmente, apesar das restrições

Embora o Ceará tenha iniciado o retorno gradual das atividades econômicas na última segunda-feira, 12, o lockdown continua vigente em todo o Estado durante os fins de semana. Apesar da restrição, muitos estabelecimentos do comércio não essencial abriram as portas neste sábado, 17, em Juazeiro do Norte, o maior município do interior cearense.

No principal ponto comercial da cidade, a Rua São Pedro, O POVO flagrou várias lojas atendendo clientes de forma presencial. Em uma delas, a proprietária se irritou ao ser questionada pela reportagem sobre o descumprimento do decreto estadual. “Eu vou abrir [a loja] é de domingo a domingo! Se achar ruim, mande o governador vir aqui fechar!”, bradou a mulher, que não quis se identificar. Ela afirmou, ainda, que “paga seus impostos em dia” e que por isso tem direito de exercer seu trabalho “quando bem entender”.

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Parte das lojas do comércio não essencial também foi vista funcionando à meia porta e com rodízio de clientes. A estratégia, muito comum no interior do Estado em período de restrições, é uma forma de despistar a fiscalização das autoridades. Lojas de calçados, confecções e de artigos do lar são, geralmente, as que mais utilizam esse prática.

Pouco movimento e ambulantes trabalhando

Mesmo com os estabelecimentos abertos ou entreabertos, a movimentação de clientes na rua foi tímida. Poucas pessoas circulavam pelas calçadas, uma cena quase impossível em dias normais. O trânsito, que costuma registrar vários pontos de engarrafamento ao longo da semana, fluiu com relativa tranquilidade.

Assim como a maioria dos lojistas, os ambulantes também não cumpriram as restrições. Os vendedores foram vistos comercializando produtos que iam desde máscaras faciais a aparelhos eletrônicos. Alguns vendiam alimentos, como o aposentado Francisco Vicente, 65. Sentado ao lado de uma loja de bijuteria, ele oferecia bananas, pitombas e macaúbas às pessoas que passavam pelo local. Quando perguntado sobre o descumprimento do decreto, respondeu que não estava sabendo da restrição.

Ambulante Francisco Vicente, 65, foi à rua São Pedro vender frutas em dia de lockdown
Ambulante Francisco Vicente, 65, foi à rua São Pedro vender frutas em dia de lockdown (Foto: Luciano Cesário)

“Eu pensei que tinha liberado para todos os dias. É um ‘chamego’ danado isso, né? Libera, fecha, libera, fecha”, disse. Francisco, que mora em Barbalha, distante 10 km de Juazeiro, disse que costuma vir à Terra do Padre Cícero pelo menos três vezes na semana para “garantir o sustento de sua família”.

Pai de oito filhos, dos quais três moram na mesma casa que ele e a sua esposa, o aposentado diz que o dinheiro que recebe do benefício previdenciário, cerca de um salário mínimo, não é suficiente para bancar as despesas familiares. “Tem gente que pensa que aposentado vive tranquilo. Se eu não trabalhar, não dá pra pagar as contas no fim do mês. Minha família é grande”, disse, acrescentando ainda que com a venda dos alimentos costuma faturar cerca de R$ 100,00 por dia, valor abaixo dos cerca de R$ 300,00 que apurava, em média, antes da pandemia.

Outro ambulante que compareceu ao centro de Juazeiro neste sábado de lockdown foi Benjamin Miranda, 59, vendedor de guarda-sóis. Ele disse estar ciente de que não tem autorização para trabalhar aos fins de semana, mas alegou ser essa a sua única alternativa de sustento. “ Eu sei que é proibido, mas eu não parei [de trabalhar] nenhum dia. Sem ganhar esse dinheiro, como vou pagar minhas contas?”, questiona.

Benjamin Miranda, 59, vende guarda-sóis no Centro de Juazeiro do Norte
Benjamin Miranda, 59, vende guarda-sóis no Centro de Juazeiro do Norte (Foto: Luciano Cesário)

O vendedor, que mora sozinho, afirmou já ter recebido a primeira parcela da nova rodada de pagamentos do auxílio emergencial, mas disse que o valor pago pelo Governo Federal é insuficiente para cobrir as suas despesas. “150 conto não dá pra pagar nem a água e a energia (sic)”, lamenta.

Crato

Diferente de Juazeiro do Norte, que registrou baixa movimentação no centro comercial, apesar das lojas abertas — em descumprimento ao lockdown, Crato teve fluxo intenso dentro e fora dos estabelecimentos neste sábado.

Nas ruas Bárbara de Alencar e Monsenhor Esmeraldo, no Centro, praticamente não havia espaço para estacionar. A maioria das lojas manteve as portas abertas ou entreabertas para receber clientes. Em alguns casos, vendedores relataram ao O POVO que não estavam sabendo da determinação de lockdown aos fins de semana.

“Eu pensei que podia [funcionar]”, disse Francisco Sampaio, 56, dono de uma loja de artigos eletrônicos. De acordo com o vendedor, o “Governo [do Estado] não deixou claro essa proibição” nos sábados e domingos.

Fiscalização

As Secretarias de Segurança Pública, do Crato, e de Serviços Públicos, de Juazeiro do Norte, informaram que realizam fiscalizações diariamente nos principais pontos comerciais da cidade para orientar os lojistas e ambulantes sobre as regras do decreto de isolamento social do Estado. O trabalho envolve agentes da Polícia Militar, Guarda Municipal, Departamento Municipal de Trânsito e Vigilância Sanitária.

Nenhum dos agentes, no entanto, foi encontrado pelo O POVO na manhã deste sábado nos centros de comércio popular de ambos os municípios.

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Tags

Lockdown Cariri; comércio Juazeiro; comércio Crato

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