Em meio à dor, fisioterapeuta fala da alegria de dar a notícia da melhora

Roni Rodrigues viralizou com a forma de dar a notícia a uma paciente de que ela tiraria o tubo pelo qual estava respirando. Contra o estigma, ele fala que a UTI é um lugar de cura

O relógio marcava 12 horas do dia 22 de março quando o fisioterapeuta Roni Rodrigues informou a paciente Regina Pires, 56 anos, que ela, finalmente, havia apresentado melhora em seu quadro clínico. Após 10 dias de internação e luta contra a Covid-19, dona Regina leu pelas mãos de Roni mensagens de força enviadas pela "‘Vida": "Vamos respirar agora fora desse tubo?"

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O fisioterapeuta utilizou plaquinhas feitas pela equipe de saúde da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital da Mulher de Fortaleza, para anunciar a recuperação da paciente que estava intubada. O gesto foi gravado e o vídeo rapidamente circulou pelas redes sociais, emocionando o público que agradeceu o cuidado dos profissionais e ressaltou o alívio de ver cenas assim diante de tanta tragédia. "Esses heróis da saúde além de salvar vidas, nos emocionam com essas atitudes. Parabéns!", comentou uma internauta na publicação feita pelo Instagram do O POVO.

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Roni Rodrigues, 33 anos, há quatro anos atua como fisioterapeuta intensivista — profissional que lida com pacientes em estado crítico. O profissional da saúde que está na linha de frente desde o início da pandemia, coordenando uma das equipes de fisioterapia intensiva do Hospital da Mulher de Fortaleza, chegou a contrair a doença, mas se recuperou brevemente. Em sua jornada, Roni se apega ao que chama de "amuleto" tatuado na pele: a fé.

O POVO - Como surgiu a ideia de dar a notícia dessa forma para a paciente? Esse caso da dona Regina foi um dos que mais lhe marcaram?

Roni Rodrigues - A ideia surgiu a partir do momento que identificamos o aumento da inquietude e ansiedade nos pacientes. Eles estavam ficando cada vez mais deprimidos em meio a esse caos que estamos vivendo. E quando você passa a ser paciente com essa doença e ela se agrava, levando você para uma UTI, complica mais ainda. E nós [profissionais], por vermos que esses pacientes estão há tanto tempo longe da família, buscamos em todos os momentos – seja na intubação, ou na extubação, seja em uma atividade fisioterápica, trabalhar de uma forma carinhosa. A ideia das plaquinhas, por exemplo, já tem um tempo que fazemos, porém, nunca havíamos divulgado na mídia. Mas a pedido do filho de um paciente resolvemos publicar. O caso da dona Regina foi um dos que mais me chamou atenção, tenho diversos casos, mas o da dona Regina foi muito especial porque nós nos apegamos muito um ao outro.

Roni Rodrigues trabalha na UTI, um lugar de cura, e se apega à fé como amuleto
Roni Rodrigues trabalha na UTI, um lugar de cura, e se apega à fé como amuleto (Foto: arquivo pessoal)

OP - Qual a importância de ações como essa, de um trabalho humanizado, em momento como o que vivemos?

Roni - O trabalho humanizado dentro de uma UTI tem de ser realizado não só por causa de uma pandemia, ele tem que ser realizado para que a gente possa quebrar essa cultura enraizada de que a UTI é um lugar de morte, um local de final de vida. Pelo contrário, aqui é um lugar de cura, de tratamento, de recuperação, para que a gente possa devolver o paciente o mais rápido para o seio familiar. Então, a gente entende que quando você alia técnicas, manobras e procedimentos junto da humanização faz com que os processos sejam menos dolorosos, menos ansiosos e a gente consiga conquistar um elo entre paciente, profissionais e família.

OP - Me fala um pouco sobre o papel do fisioterapeuta no tratamento de pessoas internadas com Covid-19.

Roni - O fisioterapeuta é uma peça fundamental nesse cenário, já que trabalhamos com a funcionalidade dos diversos sistemas que nosso corpo possui. Então, se for uma disfunção motora, cardiorrespiratória, neurológica e outras, o fisioterapeuta é o profissional apto a corrigi-la. Dentro da pandemia se acentuou cada vez mais o nosso papel, já que no hospital conseguimos abranger diversas áreas. Quando se fala em UTI e o paciente entra em ventilação mecânica - que está respirando com a ajuda de aparelho - o fisioterapeuta é o principal profissional que tem domínio sobre o manejo desse procedimento. É o fisioterapeuta que sinaliza para a equipe multiprofissional quando o paciente consegue ter uma autonomia respiratória, que culmina na extubação, também feita por nós.

OP - Para o senhor, como tem sido a rotina durante a pandemia? Quais dificuldades você destaca?

Roni - A rotina na pandemia tem sido bastante exaustiva porque nós acabamos tendo que dar suporte para outros hospitais nos quais não atuávamos, a fim de minimizar os óbitos. Então se tornou muito cansativo, mas também é gratificante por todas as vezes que realizamos uma alta hospitalar de um paciente. É notório que muitos profissionais da saúde, não somente os fisioterapeutas, mas enfermeiros, médicos, nutricionistas e psicólogos, estão sobrecarregados com a alta demanda. Mas creio que com a chegada da vacina, com as medidas [sanitárias] que a população deve tomar, isso vai amenizar.

OP - E o que o senhor espera e acredita para os próximos dias? Qual conselho você deixa para os leitores?

Roni - Eu tenho um amuleto que carrego todos os dias tatuado no meu corpo: fé. Acredito que os próximos dias serão dias de fé, de esperança que dias maravilhosos e prósperos virão. O conselho que eu dou para todas as pessoas é que não deixem de acreditar, não deixem de confiar nos profissionais da saúde. Nós estamos dando o nosso melhor todos os dias. E continuem contribuindo com a gente da seguinte forma: evitando aglomerações, usando máscara, usando álcool em gel, mantendo o distanciamento social, para que os casos não aumentem e a gente possa trabalhar para recuperar o mais rápido possível aqueles que já estão em situação crítica.

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