Kit intubação: o que é e como está a situação de escassez de medicamentos?

Anestésicos, relaxantes musculares e sedativos estão limitados em todo o País. No Ceará, Secretaria da Saúde prepara centralização das compras e convênios com os municípios

O aumento no número de casos graves de Covid-19 tem levado ao limite a capacidade de atendimento das Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) e os estoques de medicamentos utilizados na intubação de pacientes.

A escassez desses medicamentos existe atualmente em todos os Estados, de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Segundo o Fórum Nacional de Governadores, até a última quinta-feira, 18, onze medicamentos do kit estavam em falta ou com estoque para 20 dias em dez estados. No caso dos bloqueadores neuromusculares, 18 estados registravam falta ou estoque baixo, que também deve durar 20 dias.

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Como parte da escassez dos medicamentos, expressivos aumentos de preço são outra barreira a manutenção dos estoques. Conforme o grupo, o preço dos remédios está até 75% superior aos valores praticados em março de 2020.

No Ceará, a Secretaria da Saúde planeja centralizar a compra dos suprimentos e realizar convênio com os municípios. Entenda a importância do chamado "kit intubação" e a situação no Brasil:

O que é o “kit intubação”?

O tratamento da maioria dos pacientes graves de Covid-19 precisam ser intubados para receber oxigênio diretamente nos pulmões, uma vez que sua capacidade de absorção gás necessário à vida fica seriamente comprometida pela doença. Além do oxigênio medicinal, dos tubos e do ventilador mecânico, o procedimento requer um conjunto de remédios que inclui anestésicos, relaxantes musculares e sedativos.

Pacientes intubados ficam em coma induzido e para isso são utilizados sedativos como midazolam, propofol e dexmedetomidine. Os efeitos de alguns deles duram de 30 a 120 minutos, por isso precisam ser ministrados o tempo todo.

Como os sedativos não tiram a dor, são usados analgésicos para isso, como a fentanila. Para facilitar a intubação, os médicos também usam relaxantes musculares como a succinilcolina, o atracúrio e o rocurônio.

Hospitais particulares

A Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) aponta que 26 medicamentos estão em falta no mercado. A entidade realizou um levantamento em 18 de março junto aos seus associados. Diante da resposta de 40 deles, constatou "clara a escassez de medicamentos essenciais" Segundo o balanço, algumas drogas podem acabar no início desta semana. Entre elas o anestésico propofol e os bloqueadores neuromusculares cisatracúrio e atracúrio. Outros têm estoque de menos de duas semanas.

“Entendemos a preocupação do governo em garantir os insumos necessários para a atenção aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), mas a situação do setor privado também é bastante preocupante e, certamente, atingirá o seu ápice nos próximos dias”, afirma a Associação em carta aberta divulgada na sexta-feira, 19. “Caso essas instituições fiquem sem as medicações necessárias para os procedimentos exigidos em pacientes acometidos pela Covid-19, a alta demanda dos hospitais privados sobrecarregará ainda mais o setor público – agravando a situação do sistema de saúde brasileiro”, alerta.

A entidade - que representa 118 hospitais particulares - aponta desorganização na aquisição dos medicamentos. "Nos últimos dois dias, houve várias requisições, desorganizando a cadeia de suprimentos e privando hospitais dos recursos necessários já contratados para atender à crescente demanda de pacientes com a Covid-19", escreveu.

Além da Covid-19

O Conselho Federal de Farmácia (CFF) afirmou em nota na última quinta-feira, 18, que “Informações de farmacêuticos que atuam em hospitais e outros serviços de saúde de diversos pontos do país, bem como manifestação pública dos secretários estaduais e municipais da saúde e da própria indústria farmacêutica, evidenciam o desabastecimento”. Além das drogas do “kit intubação”, estão escassos medicamentos como imunoglobulina, essencial à manutenção da vida de pacientes com doenças como a Síndrome de Guillain-Barré, e tocilizumab, indicado para amenizar os sinais e sintomas da artrite reumatoide.

Na nota, o CFF enfatiza a importância do uso de máscaras e manutenção do distanciamento social e reivindica esforços das autoridades para agilizar a vacinação. A entidade também “apela pelo uso racional dos medicamentos, para que a pandemia não faça vítimas também entre pessoas que sequer contraíram o coronavírus, mas têm outras doenças tão graves quanto a Covid-19”.

Medidas nacionais

O Ministério da Saúde requisitou os estoques da indústria de medicamentos usados para intubar pacientes, como sedativos, anestésicos e bloqueadores musculares. Segundo a pasta, a ordem de entrega dos fármacos foi feita na quarta-feira, 17, e deve suprir a demanda do Sistema Único de Saúde (SUS) por 15 dias, com 665,5 mil comprimidos.

O governo federal informou que fará reuniões nesta segunda-feira e na terça-feira com representantes das indústrias de medicamentos "para alerta e pedido de auxílio". Além da requisição de medicamentos, o governo listou como possíveis estratégias aquisições internacionais e pregões nacionais.

O Ministério das Relações Exteriores (MRE), o Itamaraty, afirma ter recomendado a seus diplomata que iniciem contatos no exterior para facilitar a compra de insumos médicos que compõem o "kit-intubação".

Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou na sexta-feira, 19, quatro medidas para evitar o desabastecimento de medicamentos, oxigênio e dispositivos médicos necessários para o combate da pandemia no País.

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