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Impacto da pandemia na saúde mental e na prevenção do suicídio é tema de debate em live

Um dos pontos enfatizados foi a necessidade de se discutir a temática do suicídio de forma intersetorial

 

A pandemia do novo coronavírus têm consequências negativas na saúde mental da população. Algumas características presentes neste momento - como a hiperconexão na internet - podem desencadear o desenvolvimento da ansiedade, da insônia, o crescimento do consumo de álcool, o aumento da violência doméstica e até a piora de transtornos mentais já existentes. Adicionados a isso, há fatores como a impossibilidade de promover rituais funerários, a concretude da morte, o isolamento social e as vulnerabilidades individuais, familiares e coletivas, que atingem a qualidade de vida das pessoas. As informações foram destacadas pela psiquiatra Marluce de Oliveira, mestra em Saúde Pública pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), durante encontro virtual do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE).

A influência da pandemia na saúde mental e na prevenção do suicídio foi debatida em encontro virtual nesta quinta-feira, 6. A live foi exibida no canal do MPCE no YouTube e reuniu profissionais das áreas de psiquiatria, de psicoterapia psicanalítica, de medicina familiar e de assistência social. A transmissão marcou o lançamento do Programa Vidas Preservadas 2020, que busca criar estratégias de prevenção ao suicídio e abordar a temática de maneira intersetorial, incentivando o fortalecimento de políticas públicas para a promoção da saúde dos habitantes do Ceará. O evento foi presidido por Hugo Frota Magalhães Porto Neto, promotor de Justiça e coordenador do Vidas Preservadas.

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Durante a palestra Marluce de Oliveira mencionou a importância de existirem discussões mais “francas” sobre o tema e afirmou que “a melhor e mais eficaz” estratégia de prevenção ao suicídio é a organização dos serviços (mais especificamente, a organização da rede de saúde e de saúde mental). A psiquiatra sugere que as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) proporcionem atendimento ampliado de psicólogos para conseguirem abranger, em maior quantidade, pessoas que estão passando por sofrimentos psíquicos devido à pandemia. Para Marluce, também é essencial a facilitação do alcance a esses sistemas e “capilarizar” o debate a respeito de suicídio, isto é, levar essas reflexões para lugares mais “remotos”, que não consigam acessar tão rapidamente essas discussões.

De acordo com Alessandra Xavier, que também participou da transmissão e é especialista em Psicoterapia Psicanalítica e professora fundadora do Curso de Psicologia da Universidade Estadual do Ceará (Uece), é preciso pensar na saúde pública enquanto sistema e exigir o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Para ela, é primordial a existência de equipes multiprofissionais, além de melhorias nas condições de trabalho de agentes de saúde. A especialista acredita que os cuidados relativos à saúde mental ainda estão “muito no campo do voluntariado ou da caridade”, e por isso é necessário reforçar a ideia de que “saúde mental é questão de saúde pública”.

Outro aspecto ressaltado por Alessandra foi o de que a sociedade necessita refletir sobre os suportes dados às pessoas que apresentam doenças mentais e que enfrentam questões como o alcoolismo, depressão, ansiedade e bullying. Segundo ela, ainda existe grande preconceito em relação a esses problemas, o que faz muitas pessoas não procurarem ajuda e, consequentemente, não terem auxílio profissional. Assim, é imprescindível a existência de uma rede de apoio que integre assistentes sociais, médicos, agentes comunitários de saúde e psicólogos, além de “políticas integradas de cuidado” para auxiliar na construção de outros estímulos “para lidar com a dor”. Alessandra Xavier afirma que o cuidado é “algo que precisa de tempo, de investimentos amplos” e que não pode ser feito de “qualquer forma”.

O debate também contou com as presenças de André Luís Tavares, psiquiatra, médico da família e mestre em Saúde Pública pela Universidade Federal do Ceará (UFC), e de Maiara Campos, assistente social e doutoranda em Serviço Social. Em seu discurso, André mencionou a necessidade de ampliação de suporte psicológico às pessoas e destacou a importância de serviços como o Centro de Valorização à Vida (CVV). Para o mestre em Saúde Pública, também é necessário propiciar condições favoráveis ao desenvolvimento de pesquisas sobre o tema do suicídio, pois, segundo ele, elas ainda são “tímidas”. A partir delas, será possível conhecer melhor a vulnerabilidade e as especificidades da população e, assim, trabalhar para reduzir efetivamente os números de suicídio.

De acordo com Maiara Campos, esse assunto demanda uma fala intersetorial e deve contemplar uma maior diversidade de profissionais. Ela também alertou para o fato de que as desigualdades sociais agravam ainda mais a pandemia, pois trazem maior sofrimento às pessoas que estão em vulnerabilidade e em grupos de risco. Segundo Maiara, não há como falar de suicídio sem falar de desigualdades sociais. A doutoranda em Serviço Social conclui que o discurso sobre essa questão precisa chegar à população e não se concentrar apenas entre os profissionais que lidam com essa área.

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