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Instituições filantrópicas enfrentam dificuldades para manter serviços à comunidade

Mesmo com rede de solidariedade, com doação de alimentos e equipamentos de proteção, pagar funcionários é um dos desafios das ONGs

Em um final de semana comum, sem decreto para isolamento social rígido em Fortaleza, a Associação Nossa Casa registrava a ocupação de, no máximo, cinco pessoas nos 45 leitos disponíveis no local. Porém, com a circulação limitada, a procura por vagas ultrapassou a capacidade do atendimento. A entidade acolhe idosos oriundos do interior do Ceará em tratamento contra o câncer na Capital. Com isso, os gastos aumentaram na mesma velocidade em que as doações para manter os serviços reduziram.

“Com a pandemia, estamos com dificuldade de captar recursos para pagar as despesas fixas, como conta de água, energia, de funcionários, e manter toda a estrutura funcionando. Os parceiros também foram impactados e não estão conseguindo fazer as doações”, lamenta Daniele Castelo Branco, vice-presidente e gestora da associação. Outro ponto que agravou a situação, segundo a representante, é o fechamento de outras instituições que também acolhiam pacientes sem local para ficar.

Além do trabalho de acolhimento, Daniele destaca que entregam lanches próximo ao Centro Regional Integrado de Oncologia (Crio), em Fortaleza, e doam cestas básicas. “O suporte alimentar é essencial para pacientes em quimio e radioterapia. Principalmente agora que os cuidados têm de ser redobrados. Mas os insumos financeiros para manter toda essa estrutura funcionando estão difíceis, como comprar carne, conseguir o serviço de lavanderia.”

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Para a vice-presidente da Associação Nossa Casa, a cultura de doação ainda é muito difícil entre os brasileiros. A percepção da líder é de que as pessoas preferem doar alimentos e objetos, mas não doam recursos financeiros - apoio necessário para manter e honrar os compromissos trabalhistas com os funcionários no fim do mês.

A entidade é uma das 12 organizações beneficiadas com o projeto Juntos pelas ONGs, articulação do Movimento Ceará ComVida para tentar minimizar o cenário de crise pelo qual passam as organizações não-governamentais no Estado. Onze mil pessoas em situação de vulnerabilidade em Fortaleza podem ser beneficiadas.  

Juntos pelas ONGs: campanha arrecada doações para 12 entidades beneficentes 

Joana Clemente, diretora do Instituto Primeira Infância (Iprede), conta que precisou reduzir o horário de trabalho e suspender os atendimentos coletivos. Neste período, os encontros ocorrem apenas em um período, para abarcar um público de 180 crianças com autismo. Ela lembra que, no início da epidemia, as doações despencaram e o grupo precisou encontrar outras estratégias para alcançar famílias e pacientes.

“A gente entendeu que precisávamos nos reinventar. Estamos em um momento para isolamento social. Não podemos estimular a saída de casa. Só devem sair as pessoas que realmente necessitam. Para isso, elas precisam do mínimo para sobrevivência, como comida e remédio”, e foi nesse sentido que os trabalhos começaram a ser feitos, comenta.

No último mês, com o Projeto DoAção, o Iprede distribuiu 400 toneladas de alimentos e kits de materiais de higiene/limpeza para pessoas em situação de vulnerabilidade social. O material foi entregue diariamente em sete bairros com baixo Índice de Desenvolvimento Humano de Fortaleza. A ação tem apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e recurso do Instituto Unibanco. O Iprede é ainda parceiro do Governo do Estado do Ceará com o programa Mais Nutrição, que já distribuiu mais de 15 mil kits de higiene e alimentos no Ceará.

“Nós não temos para todos que necessitam, mas estamos fazendo nossa parte. As pessoas se mobilizam e contribuem cada uma de uma forma. Isso contagia e gera uma rede de solidariedade. É um movimento coletivo, onde todo mundo pode contribuir de alguma forma. Desde a divulgação na rede social até comprando arroz e ligando para nós irmos buscar. Basta ter vontade”, estimula Joana Clemente.

Com a situação financeira comprometida, a Casa Sol Nascente, especializada em atender adultos com HIV e crianças na mesma situação ou em vulnerabilidade, está com dificuldade para pagar os funcionários. Há débitos a sanar desde o início do ano. Com a crise sanitária, as dívidas aumentaram. Há 35 pessoas trabalhando diretamente nos serviços e outras 10, indiretamente.

“Alguns dos nossos colaboradores ou tiveram Covid-19 ou precisaram se afastar. Nós não temos como pagar uma pessoa para ficar no lugar deles. Contamos com ajuda de outras entidades, que disponibilizaram pessoa para nos ajudar. Com a pandemia, a gente precisou se virar em 30”, detalha Lyara Lima, coordenadora da Casa.

Por outro lado, ela mostra resistência para continuar a atuar e atender os vulneráveis. Para isso, celebra a ajuda da Secretaria Municipal de Saúde. Além da ajuda de parceiros, segundo Lyara são principalmente Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s). Outra fonte de recurso vem das rifas que organizam. “Nós estamos tentando de alguma forma passar por essa pandemia sem muitos prejuízos financeiros”, anseia.

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