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Covid-19 deve ser tratada como uma doença trombótica, afirma médica brasileira

A pneumologista Elnara Negri, que atua no Hospital das Clínicas da USP e no Sírio-Libanês, defende o uso do anticoagulante heparina para tratar as complicações causadas pelo novo coronavírus
11:23 | Mai. 19, 2020
Autor Ismia Kariny
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Ismia Kariny Estagiária O POVO online
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Tipo Notícia

A médica brasileira Elnara Negri foi umas das primeiras pessoas a identificar o caráter trombótico da doença causada pelo novo coronavírus. A hipótese de que os distúrbios de coagulação estariam na base dos sintomas da Covid-19 já havia sido apontada por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) em meados de abril. As informações são da Agência Fapesp.


Conforme observado pela médica, um dos pacientes tratados por ela, com um caso grave de Síndrome Respiratória Aguda, havia apresentado isquemia em um dos dedos dos pés. Essa característica foi identificada por médicos como “dedos de Covid”, que, segundo Negri, seria causado pela obstrução de pequenos vasos que irrigam os dedos do pés.


Para tratar desse sintoma, a médica prescreveu a heparina, um dos medicamentos anticoagulantes mais usados no mundo. Em menos de 18 horas, o nível de oxigenação da paciente melhorou, e o dedo voltou a coloração rosada. Segundo a reportagem da Fapesp, o efeito se repetiu em outros casos atendidos no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

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“Após esse dia, tratamos cerca de 80 pacientes com Covid-19 e, até agora, ninguém morreu. Atualmente, quatro estão na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e os demais ou estão na enfermaria ou já foram para casa”, conta Negri. A experiência clínica com as primeiras 27 pessoas submetidas ao protocolo desenvolvido no Sírio-Libanês foi descrita em artigo disponível na plataforma medRxiv.


Conforme a pesquisa, enquanto a maioria dos estudos indica que casos graves da Covid-19 necessitam, em média, de 28 dias de ventilação mecânica para recuperação, os pacientes tratados com heparina costumam apresentar melhorias entre o 10º e o 14º dia de tratamento intensivo.


Os pesquisadores ressaltam, no entanto, que o tratamento da Covid-19 com a automedicação de heparina, sem atenção especial aos efeitos adversos, pode colocar em risco a saúde dos pacientes. A substância deve ser prescrita a partir de supervisão médica.


Evidência definitiva


Para comprovar que seja comprovada a eficácia da heparina no tratamento da Covid-19, o fármaco deve passar ainda por um ensaio clínico randomizado. Para isso, os cientistas devem separar dois grupos de pacientes com características semelhantes aleatoriamente, com objetivo de realizar testes em um dos grupos e comparar os resultados com o outro grupo que não foi tratado com a substância.


Os pesquisadores da FM-USP planejam iniciar em breve um projeto com essa finalidade em parceria com grupos da Universidade de Toronto (Canadá) e da Universidade de Amsterdã (Países Baixos).


“A ideia é tratar com heparina aqueles pacientes que acabaram de chegar ao pronto-socorro com queda na saturação [de oxigênio] e observar se com o tratamento anticoagulante é possível evitar a ventilação mecânica”, conta Negri. Essa nova etapa da pesquisa aguarda aprovação do Comitê de Ética do Hospital das Clínicas e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).

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