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Ceará lidera número de indígenas com Covid-19 no Nordeste

Apesar do número alto de casos confirmados e suspeitos, Estado registra pelo menos três casos de cura clínica
11:00 | Mai. 08, 2020
Autor Rubens Rodrigues
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Rubens Rodrigues Repórter do OPOVO
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Tipo Notícia

A população indígena cearense tem nove pessoas com diagnóstico confirmado do novo coronavírus (Covid-19). É o maior número de casos no Nordeste. A informação é do Boletim Epidemiológico da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), pasta vinculada ao Ministério da Saúde, divulgado às 17 horas dessa quinta-feira, 8. O Ceará tem outros 20 casos suspeitos e seis pessoas estão infectadas atualmente. Foram descartados 16 casos e outros três tiveram cura clínica.

Ainda assim, se fala em sub notificação de casos devido dificuldade de acesso a testes e vulnerabilidade da população. De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), a Sesai só registra casos e mortes de indígenas aldeados, o que contribui para a notificação abaixo da realidade.

A maior parte desses casos estão no município de Caucaia, segundo maior do Estado, distribuídos entre o povo Tapeba, conforme informações da Federação dos Povos Indígenas do ceará (Fepoince). Os Tapeba estão em uma área de 5.292 hectares, indo da entrada do Município à região mais central.

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Assessor jurídico da Fepoince e liderança indígena, Weibe Tapeba destaca que a característica geográfica põe o povo em cenário vulnerável por dois principais motivos. Primeiro porque parte desses indígenas vivem nas margens do Rio Ceará, entrada do Município. A outra razão é a proximidade com a movimentação urbana.

"As famílias ficam aglomeradas justamente por causa da não demarcação do território, que se estende desde 1982. Há um projeto do Governo do Estado, homologado judicialmente, que prevê a construção de 80 casas, escolas, posto de saúde. Não foi feito ainda", conta. "Estamos fazendo esforço grande para apoiar essas pessoas com material de higiene pessoal, entregando cestas de alimentos para evitar que as pessoas saiam de casa".

Quem vive no mangue, nas margens do Rio Ceará, se sustenta a partir da coleta de crustáceos e pesca. Caranguejos, siris e outros crustáceos são vendidas nas rodovias, mas em cenário de pandemia esse trabalho é impossibilitado.

"Há muita dificuldade. Além disso, muita gente tem problema na documentação e por isso não consegue auxílio emergencial. Quem consegue precisa entrar pela madrugada na fila da agência da Caixa Econômica, em Caucaia", continua Weibe Tapeba. Ele cobra da Sesai atuação de combate ao vírus na região. O POVO questionou a pasta vinculada ao Ministério da Saúde sobre atenção aos povos indígenas no contexto de Covid-19 e aguarda retorno.

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A Defesa Civil do Estado e a Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial (Ceppir), vinculada à Secretaria de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS), têm feito doações de cestas básicas às comunidades indígenas e quilombolas no Estado.

Ainda de acordo com Weibe Tapeba, pelo menos cinco profissionais da saúde indígena que testaram positivo para o vírus foram chamados novamente ao trabalho na última semana. Desses, apenas um é indígena, do povo Jenipapo-Kanindé, e está ainda em isolamento social na cidade de Aquiraz. A reclamação é de que a recuperação ainda não estava assegurada por exames médicos e que por isso eles não deveriam ainda retornar. Além desses profissionais, uma auxiliar de limpeza que trabalha em unidade de saúde indígena também testou positivo.

Weibe também informou que houve reunião com a coordenadoria do polo-base responsável pelo distrito, que teria negado a suposta "coação". "A representante da coordenadoria informou que os profissionais testados positivo e também quem estavam sob suspeitas e já cumpriram o isolamento social estão assintomáticos devem voltar ao trabalho imediatamente. A verdade é que nosso povo está muito preocupado com a situação", relata. O POVO tentou contato com a coordenação do polo-base no Estado por telefone, mas as ligações não foram atendidas. 

Nordeste

No último dia 23 de abril o Nordeste registrou a primeira morte de indígena por Covid-19. De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, o artesão Rondinelle Fulni-ô, de 42 anos, só teve o resultado com o diagnóstico positivo para coronavírus divulgado pela prefeitura de Águas Belas, em Pernambuco, oito dias após a morte. No último dia 2, um ancião do povo Fulni-ô morreu com suspeita de Covid-19. Vivem cerca de 4 mil indígenas na região.

Ainda conforme a Apib, chega a 29 o número de povos afetados diretamente pela pandemia. Em nota, a Apib afirma que "os povos indígenas vivem a ameaça de um novo ciclo de genocídio no Brasil" pela comprovada vulnerabilidade em contextos de disseminação de vírus. Nestes dias 8 e 9 e maio, a Articulação dos Povos Indígenas realiza a Assembleia Nacional de Resistência Indígena com objetivo de construir plano de enfrentamento à pandemia.

Brasil

O Boletim da Sesai aponta 176 casos confirmados de indígenas no Brasil e 14 óbitos. O número de cura clínica no País já chega a 109. A Sesai coleta as informações com os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) - são 34 ao todo - e valida com o Departamento de Atenção à Saúde Indígena (DASI). 

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