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Prefeito de Manaus admite fracasso e critica postura de Bolsonaro frente à pandemia

Arthur Virgílio (PSDB) aponta baixa adesão da população à quarentena e diz que comportamento de Jair Bolsonaro, contrário ao isolamento social, é prejudicial
12:20 | Mai. 04, 2020
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O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB) afirma que o Amazonas "fracassou" nas medidas de combate ao coronavírus. Em entrevista ao "Valor" publicada nesta segunda-feira, 4, o político lamenta a baixa adesão da população à quarentena e diz que o comércio e os serviços no município nunca deixaram de funcionar, apesar dos decretos e recomendações dele e do governador Wilson Lima (PSC). Virgílio também critica a postura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) frente à pandemia.

Segundo o prefeito, a subnotificação é grande e as mortes registradas como causa indeterminada, síndrome respiratória ou pneumonia devem ser “traduzidas” como Covid-19. "Admito o fracasso. Fracassamos aqui, o governador e eu. No Amazonas não acataram nossas recomendações, os decretos não foram obedecidos, o povo está nas ruas. Dia de sábado é dia de festa", disse.

Em abril, os óbitos na capital amazonense cresceram 179,5% em comparação com o mesmo período de 2019. Para Virgílio, falta conscientização por parte da população. "Ainda não caiu a ficha das pessoas. O que garante essa tranquilidade de que não vai pegar o Covid-19 se está vendo na televisão, nos jornais a crise no sepultamento, nos hospitais, se está vendo o vizinho pegar a doença? Uma das razões é que muitos acham que Covid-19 é doença de rico, que não dá em pobre."

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Manaus está com uma média de apenas 40% de isolamento social. A baixa adesão faz com que o prefeito de Manaus critique a postura do presidente Jair Bolsonaro. Segundo Virgílio, o líder do Executivo "rema contra". "Tem mais uma razão, que é o exemplo do presidente. Atribuo muito ao fato de Bolsonaro não ter entrado no comando da mobilização nacional. A pregação dele é: 'vá para a rua', 'é uma gripezinha chinesa'", criticou.

Ainda de acordo com Virgílio, o presidente insiste em se comportar na direção contrária das medidas de isolamento social. "Todos os dias faço o apelo 'fique em casa', falo que o distanciamento social é o nosso único plano. Peço para quem mora na periferia ficar no barraco, porque são os mais suscetíveis. Mas quando o presidente rema contra, fica mais complicado. O presidente pode estar em alta ou baixa, mas nossa sociedade gosta muito de ter um líder, um chefe", pondera.

Em seu segundo mandato consecutivo e terceiro como prefeito, o ex-senador e ex-deputado diz que a capital tem apenas 38 leitos de UTI gerenciados pelo município, voltados para pacientes com coronavírus. A população de Manaus é estimada em 2,1 milhões pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), segundo dados de 2018.

Prefeito descarta lockdown

Apesar do baixo índice de isolamento social, o prefeito rejeita a ideia de um "lockdown". Para ele, medidas mais rígidas podem criar o caos completo. "Nem pense em lockdown porque será barbárie. As pessoas vão buscar com as próprias mãos, na marra aquilo que querem, arrombando loja. Me parece que temos que colocar a faca nos dentes e aguentar firme e ver se até 15, 16 de maio conseguimos mudar a curva da doença, que está em ascensão", analisa.

A cidade está com o pico de contaminação prevista para os próximos dias.
Virgílio afirma que vai intensificar o pedido para que as pessoas fiquem em casa. A ideia é evitar um cenário parecido com o de Guayaquil, no Equador, que teve pessoas enterradas em caixões de papelão e é o epicentro da Covid-19 no país.

"Vamos jogar o mais duro possível até dia 15 de maio, com comerciais de televisão, de preferência até em conjunto com o governo do Estado, para mostrarmos que se as pessoas querem viver o que Guayaquil viveu ou coisa pior, que fiquem nas ruas. Precisamos nos preparar para o pico, senão será uma desgraça, uma barbárie realmente. Temos duas semanas que serão decisivas para nos prepararmos para o confronto", afirmou.


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