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Famílias alegam falta de informação sobre internados no Leonardo Da Vinci

Secretaria de Saúde do Estado garante contato. São dados de dois a três dias como tempo para informar sobre pacientes em estado mais grave

"O colapso no Sistema de Saúde já está instalado, por falta de informação e profissionais", lamenta a bancária Andréa Koerich, 42, que perdeu a mãe, M.L.S., 70, vítima da Covid-19, em 5 de abril. A filha esperou por nove dias para saber a causa do óbito da genitora. A familiar esteve internada no Hospital Leonardo Da Vinci, voltado para pacientes com Covid-19 na capital cearense, após passar dois dias na Unidade de Pronto Atendimento(UPA) do município de Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza.

Andréa conta as poucas vezes que foi informada sobre o quadro clínico da mãe durante a internação de nove dias. A parente recebeu ligação de uma assistente social no mesmo dia da entrada no hospital. Dois dias depois, foi avisada de contato por videoconferência a ser realizado em dois dias. Nessa ligação foi informada sobre usar o e-mail para obter detalhes sobre a saúde da paciente. Mas sem detalhes. "Uma assistente social por dia para o tanto de pacientes no hospital. Você acha suficiente?". A bancária lamenta ter ficado até quatro dias sem  notícias da ente.

A bancária relembra de quando foi chamada ao Leonardo Da Vinci para saber da morte da mãe. Lá, percebeu três guichês na recepção. Apenas um deles estava ocupado. Mas todos tinham computador e telefone. Segundo ela, muitas vezes precisou ligar para a unidade, mas não era atendida. Ou o telefone respondia que estava ocupado ou a ligação caia de tanto esperar por resposta.

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"Eu não vejo que isso seja má vontade dos profissionais. Eles explicam da melhor forma. Mas falta estrutura. O resultado da minha mãe saiu nove dias depois dela morrer. Só saiu porque eu liguei para a Secretaria de Saúde do Estado e do Eusébio. Eu infernizei a vida deles, mas só me acalmei quando eu soube a causa da morte da minha mãe", relata a paraense.

A escassez de notícias também aflige a família da administradora Camila Severiano. Ela é cunhada de policial federal Rucley Cavalcante, 48, internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Leonardo Da Vinci. "Na quinta-feira (16), ele passou por uma traqueostomia. Não sabíamos como ele estava. Só soubemos no domingo que tinham tirado o sedativo dele. A gente liga para lá, mas não dão informações. Dizem que é só com os médicos."

Com o policial internado desde 28 de março, Camila lembra que o pior momento foi durante o feriado da Semana Santa. A mulher diz que tentou o contato diversas vezes com o hospital. Mas sem sucesso. Para ela, é preciso mais profissionais para tratar com as famílias dos pacientes.

"Não é só ligar para dizer que ele está estável. Quando acompanhamos um familiar no hospital, sem ser em caso de Covid-19, sabemos o que estão fazendo e qual remédio estão dando. Com o isolamento, não sabemos o que estão fazendo com o paciente. O nosso medo é que a qualquer momento liguem e chamem a gente no hospital para dizer que infelizmente nosso familiar morreu."

Desde sábado, 18, a filha de um paciente também internado no hospital reclama da falta de comunicação. A moça que não quis ser identificada disse que notícias sobre o pai, de 53 anos, só foram dadas na última terça, 21. A médica responsável ligou para os parentes e detalhou o estado de saúde do ente. De acordo com a filha, a profissional se comprometeu de ligar a cada dois dias. "A gente entende que é porque está lotado. Ligar pra lá é muito difícil. Tá sempre ocupado. Pra conseguir é muita sorte", considera.

Secretárias

Conforme a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), quando o paciente é admitido no Hospital Leonardo Da Vinci, em Fortaleza, é feito um contato com os familiares através do Serviço Social. O órgão destaca ainda que o fluxo da comunicação é feito pelo médico ou assistente social que se alternam para entrar em contato com a família para atualizar o quadro clínico. O contato não é diário. Mas a cada dois ou três dias. A prioridade são os pacientes em situação mais grave.

O Hospital recomenda ainda que a família escolha um representante para essa comunicação, para repassar aos demais familiares. “Acontecem situações em que o familiar se coloca como representante e por alguns motivos essa informação não chega aos demais. É importante eleger um familiar que tenha bom relacionamento com os demais’’, ressalta a Sesa.

A Secretária Municipal de Saúde (SMS) afirma que desde quinta-feira, 23, foi implantado um ônibus na porta do hospital de campanha, no Estádio Presidente Vargas, com equipe de assistentes sociais à disposição para dar informações aos familiares pessoalmente. Além disso, um tablet é usado para realização de vídeo chamada entre o paciente e a família.

“No momento da admissão do paciente em um leito do IJF2 ou do novo hospital de campanha, uma equipe entra em contato com a família por telefone. Também são feitas ligações diárias de atualização do boletim médico por médicos, assistentes sociais e psicólogos aos familiares”, informou a SMS em nota.

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