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Por erro de hospital, família enterra corpo de outra pessoa com caixão lacrado em Fortaleza

Paciente de Covid-19 estava internado no Hospital Monte Klinikum. O outro paciente, sepultado duas vezes, estava internado na mesma unidade hospitalar e também foi diagnosticado com o novo coronavírus
16:15 | Abr. 21, 2020
Autor Rubens Rodrigues
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Rubens Rodrigues Repórter do OPOVO
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Tipo Notícia

Duas famílias de Fortaleza experimentaram a dor de perder um ente querido para o novo coronavírus seguido do transtorno devido ao enterro de um corpo errado. No último domingo, 19, o paciente Carlos Alberto Barbosa Viana, 76, sofreu uma complicação cardíaca e não resistiu ao tratamento. Ele estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Monte Klinikum, no bairro Meireles, desde o dia 30 de março último. A família, no entanto, sepultou o corpo de outro paciente do hospital. 

Na cova que deveria ser de Carlos Alberto, foi enterrado Francisco Anastácio de Lima, 70, que também faleceu em decorrência da Covid-19. A família do paciente sepultado duas vezes vai entrar com ação de reparação por danos morais contra o hospital e pedido de abertura de inquérito para apurar se o corpo foi exumado sem autorização judicial, que é obrigatória. 

Antes de morrer, Carlos Alberto chegou a apresentar melhora e se recuperava bem do quadro grave. O histórico cardiopático, no entanto, comprometeu a saúde do paciente. O POVO apurou que ele faleceu às 6h05min de domingo. Por volta das 11 horas, o corpo estava sendo enterrado no cemitério Jardim Metropolitano, no Anel Viário.

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A fonte, que terá a identidade preservada, conta que devido ao estreito protocolo da Covid-19 por risco biológico, não houve reconhecimento do corpo. Por volta das 14 horas, já em casa, a família recebeu uma ligação da funerária informando que "houve equívoco do hospital na liberação do corpo". A fonte trata o assunto como "violência institucional".

Ao se deparar com a informação por telefone, a família verificou em seguida que, de fato, o corpo do paciente ainda estava na UTI. Enquanto realizava o trâmite para o envio do corpo à funerária, a família descobriu que o outro corpo havia sido desenterrado e já estava sendo levado de volta ao hospital. Não há, no entanto, informação confirmada de que a pessoa enviada por engano fosse um paciente de Covid-19. 

O POVO também apurou que o hospital só se deparou com o erro quando a família do homem enterrado inicialmente ligou para a unidade questionando a demora na liberação do corpo. Ainda de acordo com a fonte ouvida pela reportagem, a funerária teria tentado usar o mesmo caixão duas vezes. Houve negociação para que outra caixa fosse usada no sepultamento.

Agora, a preocupação da família é que a esposa do senhor Carlos Alberto, de 66 anos, que também está internada no mesmo hospital, receba todos os cuidados necessários. O estado de saúde dela é crítico e "complicações foram bem conduzidas pela equipe" do hospital, ainda conforme testemunha do caso.

Além da esposa, Carlos Alberto Barbosa deixa dois filhos e um neto. "Foi um baque e um grande transtorno. São coisas que precisam ser minimamente reparadas. Pela ausência de informações e de contato, muita coisa é colocada em xeque", continua a fonte. "Faltou transparência".

Outra família afetada  

O outro paciente, Francisco Anastácio de Lima, 70, estava internado há 18 dias também com diagnóstico de coronavírus. Um familiar do paciente relatou ao O POVO que quando o carro da funerária chegou para receber o corpo, funcionários do hospital informaram que ele já havia sido liberado. "Vimos um carro do Jardim Metropolitano saindo do hospital antes de o carro da nossa funerária entrar para pegar o corpo. Ficamos esperando sem nenhuma assistência, nenhuma resposta do hospital", diz.

A fonte ouvida conta que a própria família desvendou o erro. Um amigo que aguardava o enterro no Parque da Paz foi informado que o corpo não havia chegado lá. Ele foi ao Cemitério Jardim Metropolitano e foi informado que um corpo chegou no local por volta das 11h do Hospital Monte Klinikum e já havia sido enterrado.

"Se um sepultamento é concluído, uma exumação só pode acontecer mediante autorização judicial. O hospital diz que não foi concluído, que o caixão estava dentro da cova e foi retirado para ser levado de volta para o hospital. As autoridades deverão investigar para elucidar se fora ou não concluído. Ainda que de boa fé, mesmo que tenha acontecido um equívoco, isso não vai eximir o cemitério de responder criminalmente", afirma Laciana Lacerda, advogada da família.

"O Jardim Metropolitano voltou com o corpo e a nossa funerária voltou para pegar. Foi quando tivemos a certeza que o erro aconteceu", diz o familiar. Outro membro da família do paciente fez o reconhecimento do corpo utilizando paramentação de segurança devido à Covid- 19.

"Vamos entrar com ação ordinária de reparação de danos morais contra o hospital e, provavelmente, pedido de abertura de inquérito para apurar as supostas irregularidades junto ao cemitério. Ficará a cargo do Poder Judiciário e do Ministério Público", afirma a advogada.

Nota do hospital 

O Hospital Monte Klinikum foi contatado pela reportagem e informou apenas que "lamenta o ocorrido e que prestou assistência à família". Também houve contato com a empresa Jardim Metropolitano por e-mail, mas não houve retorno até a publicação desta matéria.

Em São Paulo, um caso similar ocorreu em um hospital de Santo André que, segundo o portal Isto É, trocou o corpo de uma idosa de 94 anos pelo de um homem que estava com suspeita de coronavírus. A idosa só foi enterrada após a Polícia Civil pedir a exumação do corpo, no último dia 9.

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