Mais de 80% dos jovens da periferia se sentem inseguros com surto de coronavírus, aponta pesquisa

Jovens brasileiros moradores da periferia relatam insegurança diante da pandemia do novo coronavírus, revela pesquisa do Monitoramento Jovem de Políticas Públicas (MJPOP). Foram entrevistadas 270 pessoas em 24 cidades dos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte. Entre os resultados da pesquisa, foi identificado que um em cada três dos entrevistados conhece alguém que teve o diagnóstico de infecção com o novo coronavírus. A percepção geral é de que as pessoas nas periferias não conseguem fazer o isolamento social recomendado.

Feito em áreas mais pobres de seis estados brasileiros, o estudo destaca que o isolamento não faz parte do cotidiano da maior parte da população jovem periférica. A maior parte dos entrevistados (82%) foi de pessoas jovens - com idade entre 15 e 29 anos. Em uma escala de 1 a 5, sendo 1 sem nenhum isolamento e 5 isolamento total, a média ficou em 2,84, demonstrando que as pessoas que moram na periferia não têm conseguido fazer o isolamento recomendado. Além disso, 88% consideram regular, ruim ou péssima a compreensão da comunidade sobre a gravidade da pandemia da Covid-19.

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Por outro lado, mesmo com a ausência do isolamento total, a comunidade demonstra estar assustada com o avanço do coronavírus. A pesquisa mostra que 83% das pessoas ouvidas relataram que estão inseguras ou pouco seguras nesse cenário de pandemia. A maioria (78%) dos entrevistados demonstrou ter acesso às informações sobre medidas de segurança contra o Covid-19. Outros 88% afirmaram que a comunidade onde vivem dispõe de posto de saúde. No entanto, 67% dizem não ver mobilização da sociedade sendo promovidas, para pensar em estratégias de contenção do surto de coronavírus.

Questionados sobre saúde e saneamento básicos, itens essenciais para responder ao avanço da pandemia, 21% dos entrevistados afirmaram que pessoas da comunidade apresentaram problemas de saúde nos últimos seis meses decorrentes da ausência de água potável, rede de esgoto, ou coleta de lixo.

Em relação a saúde básica, foi identificado pelo estudo que quase 90% das comunidades possuem postos de saúde em seu território. No entanto, boa parte dos postos funcionam com horário reduzido. O trabalho dos agentes de saúde foi bem avaliado pelos entrevistados, entretanto 18% relataram que os profissionais estão trabalhando sem o Equipamento de Proteção Individual (EPI).

Sobre a pesquisa

O Monitoramento Jovem de Políticas Públicas (MJPOP) faz parte organização não governamental (ONG) Visão Mundial, que trabalha com adolescentes e jovens para monitoramento das políticas e serviços públicos, pelo ponto de vista de quem vive o dia a dia nas comunidades. O estudo foi realizado entre os dias 24 e 25 de março, por jovens de 16 a 24 anos do MJPOP, quando os casos confirmados da Covid-19 estavam abaixo dos 3 mil em todo o Brasil.

O objetivo do levantamento é entender qual é a compreensão da população das comunidades mais necessitadas sobre a pandemia e como estão sendo realizadas as ações de mobilização nessas regiões. "Os dados oficiais apresentados pelo Ministério da Saúde não trazem um detalhamento das comunidades que estão sendo afetadas nos últimos dias; por isso, a importância de conhecermos essas localidades para podermos realizar uma atividade mais direcionada", afirma Reginaldo Silva, Coordenador de Projetos da ONG Visão Mundial.

De acordo com a entidade, a proposta do MJPOP é ser um agente de mudança. Dessa forma, os jovens participantes do movimento identificam os problemas de suas comunidades e, junto com outros atores, propõem soluções. A partir do estudo realizado na periferia, o MJPOP pôde elaborar recomendações de ações a serem enviadas ao poder público e as prefeituras de cada cidade envolvida neste levantamento.

Os 24 municípios onde o levantamento foi realizado são: Abreu e Lima (PE), Apodi (RN), Bezerros (PE) Cabo de Santo Agostinho (PE), Canapi (AL), Caucaia (CE), Duque de Caxias (RJ), Escada (PE), Fortaleza (CE), Governador Dix-Sept Rosado (RN), Horizonte (CE), Inhapi (AL), Jaboatão dos Guararapes (PE), Lauro de Freitas (BA), Mata Grande (AL), Mossoró (RN), Nova Iguaçu (RJ), Olinda (PE), Olho D'água das Flores (AL), Paulista (PE), Río Real (BA), Salvador (BA), São João do Meriti (RJ), e Vitória de Santo Antão (PE).

Foram elencadas as seguintes recomendações

Implementação da Renda Mínima, no período de três meses, como aprovado pelo Congresso Brasileiro, para famílias de baixa renda, inscritas no Cadastro Único do Ministério da Cidadania, trabalhadores e trabalhadoras informais, e desempregados e desempregadas.

Implementação das ações de apoio aos comerciantes locais, com linhas de créditos e suspensão de cobrança de impostos enquanto durar pandemia.

Incentivar os canais de comunicação comunitários para informar sobre a importância do isolamento social e criar uma rede de solidariedade para apoio aos grupos de risco.

Garantir o acesso a materiais de higienização aos moradores das comunidades.

Garantir o acesso à água potável durante o maior número de dias semanais.

Realizar normalmente a coleta de lixo nas comunidades, oferecendo aos trabalhadores e trabalhadoras das empresas responsáveis pela coleta de lixo urbano equipamentos de proteção individual.

Garantir o acesso à informação sobre locais de atendimento em casos de suspeita de infecção pelo novo coronavírus.

Garantir os equipamentos de proteção individual para os profissionais da saúde que estão dentro das comunidades mais vulneráveis.

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