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Pesquisa busca reunir dados sobre avanço da Covid-19 nas periferias do País

O POVO ouviu especialista que recomendou medidas para minimizar os impactos da pandemia nos locais mais vulneráveis da Cidade

O avanço do novo coronavírus no Ceará tem gerado preocupação sobre os impactos da pandemia nos locais mais vulneráveis socialmente. De acordo com a última atualização da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), o Ceará já tem 976 casos confirmados de Covid-19. Neste domingo, 5, a Agência de Notícias das Favelas (ANF) lançou em seu portal uma pesquisa para obter dados relacionados à chegada da Covid-19 às comunidades do País. Pesquisadora ouvida pelo O POVO indica que melhorias habitacionais urgentes e ampliação do aluguel social são medidas que deveriam ser implementadas pelo poder público nessas áreas.

De acordo com Thais Fonseca, uma das editoras da ANF, a pesquisa criada tem o objetivo de fazer um levantamento sobre o acesso de moradores das favelas aos serviços públicos em saúde, incluindo atendimento em unidades hospitalares e acompanhamento médico durante o tratamento confinado em casa. Para participar, basta responder ao formulário disponibilizado no portal da Agência.

A divulgação da pesquisa está sendo realizada em veículos de comunicação comunitária em todo o Brasil, segundo Thais. “Tão logo tenhamos dados que proporcionem uma avaliação sobre o que ocorre nas favelas e periferias, esse resultado será divulgado. Porém, os dados não serão cabais pois a pesquisa segue e pretende registrar a evolução com o passar dos dias”, ressalta. Com os dados levantados, a editora da ANF acrescenta que poderão ser questionadas providências por parte da administração pública.

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Concentração das pessoas nas periferias é fator de risco

Com aproximadamente 7.786,52 habitantes por quilômetro quadrado, Fortaleza é a capital mais densa do País, conforme o Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010. A Capital tem 872 pacientes confirmados de acordo com a Sesa. A alta concentração de pessoas em imóveis pequenos da Cidade é um fator de alta exposição à Covid-19, transmitida pelo contato e proximidade.

Para o artista gráfico Bruno Ribeiro, 31, morador da comunidade do Serviluz, localizada no bairro Cais do Porto, a maior preocupação quanto à chegada do coronavírus ao lugar onde mora é sobre a impossibilidade de fazer a devida prevenção. “A maioria das pessoas não têm acesso a itens de limpeza, e as casas não têm tanta ventilação, os moradores estão muito 'juntos'. Não tem como ter isolamento social”, afirma.

De acordo com Bruno, que faz parte da Associação dos Moradores do Titanzinho (AMT), o trabalho social realizado pela entidade se intensificou durante a pandemia. Os moradores estão se mobilizando na doação de cestas básicas e material de higiene para as famílias mais atingidas economicamente pela quarentena.

A pesquisadora Valéria Pinheiro, do Laboratório de Estudos da Habitação da Universidade Federal do Ceará (Lehab - UFC), aponta a histórica desigualdade no acesso à água, ao saneamento básico e à saúde como motivos de preocupação. “Falamos de um segmento da população para o qual a rua é extensão da casa e as relações estabelecidas da porta para fora são cotidianas”, acrescenta.

Além disso, pela sua vivência em diferentes áreas periféricas da Cidade, a especialista também considera que existe um “desserviço” prestado organismos de apelo religioso, muito presentes nestes territórios, “que continuam a ignorar as informações científicas e recomendações médicas e expor as pessoas - em grande parte idosos - ao risco da morte pela Covid-19”.

Segundo o Plano de Habitação de Interesse Social (PLHIS), atualizado em 2016, Fortaleza reúne 856 assentamentos precários, onde reside mais de 40% da população. Os assentamentos precários ocupam apenas 12% do território da cidade, porém neles reside 271.535 famílias ou mais de 1 milhão de pessoas.

De acordo o detalhamento mais recente realizado pela Sesa na última semana, a maior parte dos infectados mora na zona nobre da Cidade. A concentração mais alta no mapa de calor abrange os bairros Meireles, Aldeota, Mucuripe, Cocó e Guararapes. Porém, existem casos registrados em mais de 50 dos 119 bairros de Fortaleza, conforme a Secretaria Municipal da Saúde (SMS).

Medidas emergenciais para as áreas mais vulneráveis

Segundo a avaliação de Valéria, as medidas mais emergenciais a serem tomadas pelo poder público neste contexto seriam a destinação de imóveis vazios próximos às comunidades para as famílias mais numerosas e com pessoas no grupo de risco.

A pesquisadora do Lehab também recomenda a ampliação substancial do número de famílias atendidas pelo aluguel social. Assim, seria possível para essas pessoas destinar o custo da moradia para alimentação e saúde, por exemplo. Uma atuação emergencial de técnicos na implementação de melhorias habitacionais nas favelas de modo a diminuir a insalubridade das casas também seria uma ação pertinente.

Ela pede, ainda, uma fiscalização mais rigorosa para impedir a abertura de locais que gerem aglomerações, além de um compromisso público para que não ocorram despejos nos próximos seis meses, pelo menos.

O governador Camilo Santana (PT) anunciou na tarde da última terça-feira, 31, o pagamento da conta de energia de 534 mil famílias cearenses de baixa renda pelos próximos três meses, devido à pandemia do coronavírus. A medida beneficia cearenses que consomem até 100 kw/h por mês, o que corresponde a cerca de 2 milhões de pessoas.

Como ajudar nas doações para a Associação de Moradores do Titanzinho 

Para contribuir com os moradores do Serviluz, basta entrar em contato via direct por meio do Instagram:

@associacaotitanzinho

@quilo.doamor


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