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Apesar de testes promissores, Anvisa não recomenda uso de Cloroquina e Hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19

O POVO conversou com infectologista para saber a eficácia e outras informações sobre os medicamentos. Uso não é recomendado
12:55 | Mar. 20, 2020
Autor Gabriela Feitosa
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Gabriela Feitosa Estagiária do O POVO Online
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Tipo Notícia

Encorajado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o uso de medicamentos como cloroquina e hidroxicloroquina não são recomendados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no tratamento da Covid-19.

Um estudo de cientistas chineses, publicado no início deste mês, mostrou que os medicamentos são eficazes em inibir o vírus em laboratório, conforme matéria da Veja.

Um primeiro teste em humanos, realizado na França, foi promissor: 70% dos infectados testaram negativo seis dias depois do início da medicação.

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O médico infectologista do Hospital São José, Érico Arruda, contou ao O POVO, no entanto, que é necessário ter cautela nessa situação, já que o teste é apenas uma "perspectiva". Apesar de ser essencial a busca por soluções, cabe aos organismos regulatórios recomendar ou não a utilização. "Uma coisa é você mostrar dentro de um modelo experimental e outra coisa é verificar o que acontece do ponto de vista prático", disse. Já existem no Brasil diversos ensaios médicos sobre o Sars-Cov-2, o vírus causador da doença Covid-19, mas ainda não existe, a nível mundial, tratamento específico para a infecção.

Érico ainda ressaltou que o uso inadequado de cloroquina e hidroxicloroquina pode trazer consequências sérias à saúde de pacientes não diagnosticados com coronavírus, até mesmo resistência imunológica a outras infecções. "Primeiro temos que tratar de compreender a angústia de todos. Acelerar o processo de investigação é algo bastante interessante, mas precisamos ser sérios na busca de saída", acrescentou.

Além desses malefícios, a busca pelos compostos tem causado desabastecimento dos medicamentos em farmácias e pessoas que usam os remédios para tratar doenças para as quais já há eficácia comprovada estão ficando sem opções.

A Anvisa lançou uma nota técnica desencorajando o uso dos medicamentos, explicando também as indicações dos remédios. "Não há estudos conclusivos que comprovam o uso desses medicamentos para o tratamento do novo coronavírus", garante órgão.

Segundo Arruda, a hidroxicloroquina é bem mais comercializada que a cloroquina, o que facilita o acesso e preocupa comunidade médica. "A hidroxicloroquina tem tido um benefício na resposta de doenças inflamatórias. Mas, será que essa resposta vai ser benéfica no contexto da Covid-19?", indaga o infectologista.

Hoje, o tratamento para o coronavírus se restringe a cuidar das complicações causadas pelo vírus em pacientes, como a diminuição do oxigênio no sangue. 

No Brasil, existem medicamentos registrados à base de Cloroquina e de Hidroxicloroquina 

Segundo a Anvisa, evidências científicas sobre o potencial uso da Cloroquina e da Hidroxicloroquina no tratamento da doença estão sendo geradas e publicadas. Mas órgão não recomenda, por enquanto, o uso. As indicações aprovadas para esses medicamentos são: 

> afecções reumáticas e dermatológicas (reumatismo e problemas de pele);
> artrite reumatoide (inflamação crônica das articulações);
> artrite reumatoide juvenil (em crianças);
> lúpus eritematoso sistêmico (doença multissistêmica);
> lúpus eritematoso discoide (lúpus eritematoso da pele);
> condições dermatológicas (problemas de pele) provocadas ou agravadas pela luz solar;
> Malária (doença causada por protozoários): tratamento das crises agudas e tratamento supressivo de malária por Plasmodium vivax, P. ovale, P. malariae e cepas (linhagens) sensíveis de P. falciparum (protozoários causadores de malária). Tratamento radical da malária provocada por cepas sensíveis de P. falciparum.

Entenda como foi feito o estudo

Um estudo in vitro desenvolvido por pesquisadores chineses avaliou o efeito antiviral da Hidroxicloroquina contra o SARS-CoV-2 em comparação com a Cloroquina. Os pesquisadores afirmam que a Hidroxicloroquina inibiu efetivamente a etapa de entrada do vírus na célula assim como estágios celulares posteriores relacionados à infecção pelo SARS-CoV-2. Esse efeito também foi observado com a Cloroquina.

Os pesquisadores também observaram que a Cloroquina e a Hidroxicloquina bloqueiam o transporte do SARS-CoV-2 entre organelas das células (endossomos e endolisossomos), o que parece ser a etapa determinante para a liberação do genoma viral nas células no caso do SARS-CoV-2.

O estudo clínico foi aberto e não randomizado. Apesar de seu pequeno tamanho amostral (foram 20 pacientes tratados), os autores afirmam que essa pesquisa mostra que o tratamento com Hidroxicloroquina é significativamente associado à redução / desaparecimento da carga viral em pacientes com Covid-19 e seu efeito é reforçado pela Azitromicina.

De acordo com revisão sistemática, há evidência pré-clínica da eficácia e evidência de segurança do uso clínico de longa data para outras indicações, o que justifica a pesquisa clínica com a Cloroquina em pacientes com Covid-19. A conclusão dessa revisão foi que dados de segurança e dados de ensaios clínicos de maior qualidade são urgentemente necessários.

 

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