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O equívoco de reproduzir clichês infantilóides

12:55 | Set. 01, 2017
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[FOTO1]O passado tomou conta da programação de quinta-feira do IV Encontro de Realizadores de Teatro Infantil, no Sesc Emiliano Queiroz. As duas peças apresentadas – Zeca e o Mundo, do grupo Alumiar, com texto e direção de Socorro Machado, e Miralu e a Luneta Encantada, do grupo Bandeira das Artes, com texto e direção de Fernando Lira – são representantes de um jeito retrógrado de se fazer teatro para crianças. Possuem estéticas ultrapassadas, linguagens rançosas, propostas que mais contribuem para afastar do que para trazer público a essa modalidade de arte já tão vitimada pelo preconceito. 
 
Sabe aquelas peças que só reproduzem clichês infantilóides, com cenografia que é um painel estático ao fundo, os figurinos são caricaturais, as coreografias são improvisadas, as canções são piegas, as lições de moral pululam, a linguagem tatibitate domina na fala dos atores? Pois as duas são assim. Pena, pois observa-se nos dois grupos muita vontade de acertar e de seguir em uma trajetória pereneno teatro infanto-juvenil. Tomara que persistam, mas revendo seus conceitos.  
 
Zeca e o Mundo, do Alumiar, apoia-se dignamente em uma temática de resgate da cultura popular nordestina. Mas é um espetáculo ansioso, carregado, sujo de referências. Melhor seria escolher apenas uma ou duas manifestações e deixar as outras para as próximas vezes. Aparecem o bumba-meu-boi, festas juninas, Mateus e Catirina, frevo, fantoches, brinquedos populares como o Mané Gostoso e muito mais. O resultado é um subaproveitamento de tudo. 
 
Miralu e a Luneta Encantada, do grupo Bandeira das Artes, tem a linda intenção de falar de um tema pouco explorado no teatro: os pais superprotetores. No caso, são pais de uma deficiente visual, Miralu, que acaba aprendendo que há outras formas de enxergar do que apenas com os olhos. Tudo isso merecia um espetáculo bem acabado, criativo, menos estereotipado, menos moralizante. Porém, a obsessão em ser explícito na ‘mensagem’ estraga tudo. Louve-se a importantíssima iniciativa do grupo, que conseguiu a ainda difícil e onerosa proeza de realizar uma sessão com acessibilidade a deficientes auditivos e visuais.
 
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Por Dib Carneiro Neto especial para O POVO
jornalista, dramaturgo e especialista em teatro infantil

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