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Escritor José Eduardo Agualusa é umas das atrações do Festival Vida&Arte

Em entrevista ao O POVO, José Eduardo Agualusa fala sobre as interseções entre Brasil e Angola. Confirmado na programação do Festival, o escritor vai participar de debate e sessão de autógrafos
19:30 | Mai. 26, 2018
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O trânsito frequente entre Angola, Brasil e Portugal ajudou a estruturar a literatura de José Eduardo Agualusa, poeta, contista, cronista e romancista autor de Teoria geral do esquecimento e O vendedor de passados. A confluência entre os continentes, como explica em entrevista ao Vida&Arte, é reflexo de uma construção histórica abundante em influências mútuas que terminam refletidas nos sonhos coletivos das nações.


Agualusa participará no Festival Vida&arte da mesa “Travessias literárias”, que debate o modo como a literatura se alimenta desse intercâmbio. Na entrevista a seguir, o autor fala de sua proximidade com o Brasil, reflete sobre a crise política e social como substrato para o absurdo e, citando um clássico da ficção científica, conclui que sonhar com ovelhas elétricas é o último estágio da consolidação democrática.


O POVO: A mesa que você compõe no Festival Vida&Arte se chama “Travessias literárias”. Em que momento a literatura brasileira atravessou o oceano e chegou até você?

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José Eduardo Agualusa: Os meus pais são grandes leitores, e na época em que eu mesmo me fiz leitor, nos anos 1960 e 1970, os autores brasileiros tinham ampla circulação em Angola. Lembro-me de ter lido Jorge Amado e Érico Veríssimo muito jovem, talvez com 12 ou 13 anos. E antes deles, li José Mauro de Vasconcelos, um autor que, entretanto, caiu no esquecimento. 

 

OP: A narrativa do seu último livro publicado no Brasil, A sociedade dos sonhadores involuntários, mistura os limites entre sonho e realidade. Ao mesmo tempo, é um livro fundamentalmente referenciado pela história recente de Angola, com seus relatos de desigualdade, opressão e corrupção. Os sonhos de um país sempre se deixam influenciar por sua conjuntura político-econômica-social ou eles não dependem disso?

Agualusa: Sim, os sonhos das pessoas estão diretamente ligados à forma como o país onde vivem está a ser gerido. Num regime totalitário, as pessoas sonham com a abertura democrática. Num regime democrático, sonham com mais justiça social, etc... Num país democratizado e com justiça social, sonham com ovelhas elétricas. 

 

OP: O livro também pincela conflitos geracionais, entre jovens cujos pais apoiaram o regime e pessoas que viveram os fantasmas da guerra civil. Como as gerações que vieram depois desses momentos de grave crise democrática podem agir para que esse passado não seja esquecido?

Agualusa: Em Angola existe uma clara fratura entre gerações. Quando o Luaty Beirão (rapper e ativista luso-angolano) e os seus companheiros foram presos, isso gerou um forte movimento de resistência e contestação envolvendo largas dezenas de artistas, escritores e outros criadores. Quase todos jovens. Os mais velhos tiveram medo de se manifestar. Ou então estavam apoiando a ditadura.

 

OP: Você continua, com êxito, resignificando um tipo de realismo mágico que se tornou sinônimo de sua produção. Em que medida ele lhe interessa enquanto autor? E enquanto leitor?

Agualusa: Não aprecio rótulos. Em particular, não me reconheço nesse, do chamado realismo mágico. Continuo a reler os grandes mestres do realismo mágico, sempre com paixão, do Juan Rulfo ao Garcia Márquez. Certamente, devo-lhes muito. Contudo, nos meus romances interesso-me mais pelo absurdo do que pelo maravilhoso, e o maravilhoso que me interessa é aquele que está presente na realidade angolana de todos os dias.

 

OP: O que há no Brasil que te atrai? Por que você está sempre voltando?

Agualusa: Brasil e Angola são realmente países irmãos. Não se trata de uma frase feita, é mesmo assim, embora poucos brasileiros, e poucos angolanos, saibam disso: são países que foram sendo criados ao mesmo tempo, um influenciando o outro. O Brasil não existiria sem Angola. Mas Angola também não existiria, como nós a conhecemos hoje, sem o Brasil.

 

OP: Em Teoria geral do esquecimento você fala de xenofobia e do medo ao outro. O que te assusta nesse quadro de falta de empatia? A crise migratória está entre seus temas de reflexão?

Agualusa: Sim, está. Interessam-me todos os movimentos de pessoas que estejam ligados à fundação ou refundação de identidades, em qualquer lugar do mundo. Por quê? Talvez para tentar compreender a minha própria identidade enquanto angolano de língua materna portuguesa.

 

O POVO: Em uma crônica recente, você escreveu sobre seu filho que está por chegar. Se tivesse que deixar um único conselho para esse filho, qual seria?

Agualusa: Leia, minha filha. Leia muito. Se não tiver outra serventia, pelo menos você estará ajudando seu pai.

 

José Eduardo Agualusa no Festival V&A

Quando: dia 24 de junho, às 18h30min. Sessão de autógrafos às 20h30min 

Quanto: R$ 20 (inteira) R$ 10 (meia) - válido para toda a programação do dia no evento (o acesso às atrações está sujeito à lotação dos espaços onde elas se apresentarão)

Onde: Centro de Eventos do Ceará (Av. Washington Soares, 999)

Ingressos à venda no site: festivalvidaearte.com.br

Sede do Grupo de Comunicação O POVO (avenida Aguanambi, 282 - José Bonifácio)

Lojas JEFF (RioMar Fortaleza e Iguatami Fortaleza)


Programação completa: www.festivalvidaearte.com.br

 

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